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·02 de julho de 2018
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Foram 59 jogadores convocados e 15 escalações diferentes em 15 partidas. Quando parecia ter encontrado o time ideal, não o repetiu. Confuso, perdido e irreconhecível, o competente Jorge Sampaoli, dono de ótimos trabalhos na Universidad de Chile e na seleção chilena, e uma boa temporada no Sevilla, não é o único, mas um dos principais culpados do fracasso argentino na Rússia.
Com um péssimo trabalho no comando da Albiceleste, Sampa fez escolhas ruins tanto nas escalações quanto nas substituições do início ao fim e acabou morrendo abraçado com suas "convicções".
Além disso, a Argentina foi reflexo de seu perdido treinador.
Em quatro partidas na Copa, Sampaoli usou quatro esquemas táticos diferentes. Foi do 4-2-3-1 para o 3-4-3, depois usou o 4-4-2 e encerrou a participação no Mundial com um 4-3-3 tendo Messi como falso 9 contra a França.
Depois da estreia ruim contra a Islândia, no momento em que todos pediam Pavón no time titular e a saída de Biglia, Sampa colocou Enzo Pérez no meio-campo, mantendo o time pesado e deixando Banega e Lo Celso no banco. Ainda apostou em Meza mais avançado ao invés de colocar o jovem do Boca Juniors. O resultado foi o desastre contra a Croácia.
No jogo seguinte, contra a Nigéria, o treinador finalmente colocou Banega que, como esperado, transformou o time e o meio-campo argentino. Messi teve sua melhor atuação na Copa do Mundo, jogando, no primeiro tempo, em seu absurdo nível habitual, marcando um golaço após linda assistência justamente do meia do Sevilla, criando ótimas chances, dando belos dribles, acertando uma cobrança de falta na trave e deixando Higuaín na cara do gol.
A Albiceleste se perdeu após sofrer um tento em pênalti inexistente, mas buscou a classificação épica na base do coração e com um herói improvável. Existia muito o que melhorar, mas Sampaoli parecia enfim ter achado o time ideal e a Argentina finalmente tinha se aproximado de ser uma equipe, e não um catado.
No entanto, ao invés de manter a escalação ou fazer mudanças pontuais e necessárias como Lo Celso na vaga de Enzo Pérez, Sampaoli preferiu mudar tudo mais uma vez contra a França. Colocou Pavón no lugar de Higuaín e deslocou Messi para jogar como falso 9, mudando o esquema tático.
O resultado foi um desastre. A lenta, envelhecida e desorganizada defesa argentina não foi páreo para Mbappé e Griezmann, assim como os meio-campistas. O meio-campo argentino, aliás, inexistiu. Banega ficou perdido, Mascherano mais uma vez tentou compensar uma atuação ruim com muita vontade e Enzo Pérez novamente provou que não deveria ser titular. No ataque, Ángel di María marcou um golaço, mas teve outra exibição apagada, apesar da enorme disposição, e Pavón pouco produziu.
Já Lionel Messi, que tinha jogado demais no primeiro tempo contra as Super Águias, obviamente caiu de produção. Distante demais dos companheiros e com a Argentina sofrendo para criar, com seu meio-campo levando um baile de Mbappé e Griezmann, especialmente em jogadas de velocidade, e não tendo criatividade, aproximação e movimentação para articular jogadas quando tinha a bola, o craque ficou ilhado e sofreu.
O camisa 10 ficou preso entre os zagueiros e, quando saiu para buscar o jogo, sofreu com dois problemas. O primeiro, Kanté no seu cangote. O segundo, é que quando conseguiu deixar seus adversários para trás, não teve para quem tocar a bola e não viu um centroavante ou alguém na área para finalizar. Isso porque os meio-campistas não conseguiram se infiltrar e, em teoria, o próprio Messi é quem muitas vezes deveria estar na área ou próximo dela, recebendo passes para finalizar. Foi um erro esperado sacar Higuaín e colocar o gênio de falso 9.
Mais uma vez bagunçada, perdida e sem a mínima organização tática, a Argentina, vítima de uma péssima escalação de seu treinador, completamente equivocada, e também sem inspiração, só não foi goleada por um conjunto de fatores. A França perdeu muitas chances claras de gol e a Albiceleste contou com uma mistura de coração, lampejos, competência e sorte para fazer um jogo duro e brigar até o último minuto pela classificação.
Coração pela vontade e entrega comoventes. Lampejos pelos brilhos pontuais de Ángel di María e outros jogadores. Competência e sorte pela qualidade para marcar seus gols e a ajuda divina no tento de Mercado.
A Argentina teve chances e poderia até ter se classificado, mas não conseguiu porque a desorganização pesou demais, assim como o duelo entre uma defesa fraca, limitada, envelhecida e lenta contra um Mbappé em estado de graça. Velocidade e talento demais do jovem atacante para a Albiceleste, que se perdeu depois do golaço de empate de Pavard, e sofreu três gols em 11 minutos, sendo dois do garoto do PSG.
Sobrou coração, mas faltou organização.
E Sampaoli também cometeu outros erros. Lo Celso e Higuaín deveriam ter sido titulares, nas vagas de Enzo Pérez e Pavón, como já mencionado. O meia daria mais velocidade, aproximação, qualidade no passe e infiltração para a Argentina, sendo mais uma preocupação para a defesa francesa e um grande parceiro para Banega e Messi. Com certeza ajudaria muito na criação de jogadas e seria um homem mais veloz para ajudar também na marcação albiceleste, que sofreu com sua lentidão.
Higuaín, por sua vez, seria boa arma no jogo aéreo hermano, que praticamente não existiu, e preocuparia a defesa francesa, prendendo os zagueiros e abrindo mais espaço para Messi, na posição onde rende e rendeu melhor na Copa, fazer estrago e jogar no seu nível habitual. Com mais espaço, se movimentando mais e tendo Banega e Lo Celso mais próximos para ajudar na criação e abrir espaços, além de um homem na área, o camisa 10 certamente teria uma atuação melhor.
Outros problemas foram as substituições. Como ocorreu nas outras partidas da Copa, Sampaoli colocou Meza em campo, deixando Lo Celso e Dybala assistindo a partida do banco de reservas.
Talentoso jogador, que poderia ter mudado o meio-campo hermano e foi titular durante a preparação e em muitos treinamentos, Lo Celso não jogou um minuto sequer na Rússia.
Já o craque da Juventus, que deveria ser titular e certamente faria muita diferença não só pela sua qualidade, mas também pela preocupação e dor de cabeça que daria aos adversários, jogou apenas 22 minutos contra a Croácia.
É inadmissível Sampaoli deixar ambos no banco e fazer o que fez. Para piorar, suas substituições contra a França foram um zagueiro por outro no intervalo, sacar Enzo Pérez para colocar Agüero e trocar Pavón por Meza.
Além de deixar Lo Celso, Dybala e Higuaín assistindo a partida, ele queimou uma alteração com uma troca de zagueiros, colocando o defensor (Fazio) mais lento do elenco contra uma França muito veloz, e desperdiçou outra substituição com uma troca de homens pelo lado do campo, escolhendo, ainda, o menos qualificado entre todas as opções para entrar.
Simplesmente não faz sentido algum e, acredite, ainda tem mais.
Sampaoli não convocou Mauro Icardi e Lautaro Martínez, excelentes atacantes, em ótimas fases, que poderiam ter feito a diferença, por mais bagunçado que o time argentino estivesse. Isso porque preferiu apostar em Gonzalo Higuaín e Sergio Agüero.
O primeiro foi reserva, utilizado apenas em cenários de desespero no segundo tempo das partidas. Quando teve uma chance como titular, contra a Nigéria, pra variar, perdeu um gol feito em momento crucial.
O segundo, titular contra Islândia e Croácia, não brilhou na Copa e teve desempenho muito distante do apresentado no Manchester City. Ainda assim, marcou contra os Vikings e também contra a França, anotando seus primeiros tentos em Mundiais.
A Argentina estava uma bagunça, é verdade, e os centroavantes sentem muito quando o time não está organizado e cria poucas chances. Ainda assim, ambos não jogaram bem e, contra a França, Sampaoli sequer confiou em Higuaín para colocá-lo em campo no segundo tempo, quando tentava um milagre e precisava de gols. O atacante da Juventus ainda foi reserva, como mencionado, em outros jogos. Neste caso, por que não convocar Icardi ou Martínez?
Os jogadores poderiam render melhor, é claro, são capazes de apresentar muito mais e possuem mais qualidade do que apresentaram na Rússia. A maioria foi apagada em praticamente todos os jogos, tendo raros momentos de brilho. Ainda assim, são os menos culpados.
A Argentina, afinal, foi uma completa bagunça. Com mudanças bizarras o tempo inteiro, escalações ruins e substituições ainda piores, escolhas contestáveis, sem qualquer padrão, organização tática, confusa e perdida. Foi o reflexo de um treinador competente, mas que fez/faz um péssimo trabalho no comando da Albiceleste.