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·31 de maio de 2020
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Na tarde deste sábado (30), o Futebol na Veia bateu um papo exclusivo com o ex-jogador Nilson. Apelidado de “Pirulito”, Nilson além de ter jogado em diversos clubes brasileiros, também foi goleador em muitos deles. Sendo, inclusive, artilheiro do Campeonato Brasileiro de 1988, atuando pelo Internacional. Desta maneira, o ex- atacante, contou toda sua trajetória no mundo do futebol, desde sua origem humilde aos gols mais importantes e decisivos de sua vida.
Devido a necessidade de complementar o orçamento de casa, Nilson teve que largar os estudos e ir trabalhar desde cedo. Desta forma, trabalhar como boia fria foi a solução encontrada para poder ajudar em casa. No entanto, o que chamou a atenção do dono da usina, onde Nilson trabalhava, não foi seu trabalho, mas, sim, o seu futebol. Fato é que, o dono da usina também era o presidente do Sertãozinho Futebol Clube. Sendo assim, notícias sobre suas qualidades logo chegaram aos ouvidos do dono da usina, que por sua vez, logo o chamou para realizar um teste em sua equipe.
” O presidente da usina onde eu trabalhava, era o presidente do Sertãozinho Futebol Clube. E o pessoal falava com ele, para que ele me desse uma oportunidade. E um dia ele me chamou pra fazer um teste no Sertãozinho.”
Ainda comentando sobre seu teste no Sertãozinho, Nilson falou sobre algo que o chateou no início, mas, que depois seria o motivo de sua promoção.
” No dia do teste, fui eu e mais três amigos lá da usina fazer o teste. No momento do treinamento, eu fiquei em uma equipe e meus amigos no outro. E eu fiquei bravo comigo mesmo, chateado por dentro, pois queria treinar junto com meus amigos. Mas, depois, fiquei sabendo que meus amigos treinaram no time reserva e eu joguei no time titular do Sertãozinho.”
Mesmo tendo sido aprovado no teste, Nilson ficou mais de um mês trabalhando na usina. Entretanto, uma notícia mais que inesperada chegou ao futuro goleador do futebol brasileiro.
” Um dia, 10 horas da manhã, “tô” lá no meio do canavial soltando mosquito… E chegou uma pirua dizendo para eu ir para casa. E era epóca de safra, meu pai era motorista que puxava a cana, eu pensei que ele tinha morrido.”
Porém, a notícia não era da morte de seu pai, mas, de seu nascimento para o mundo do futebol. Aos 18 anos de idade, Nilson foi atuar profissionalmente pelo Sertãozinho Futebol Clube.
“Falei, “pô”, 10 horas da manhã pra mim ir pra casa, meu pai deve ter falecido. E ele falou, não, é para pegar suas roupas e documentos, você vai pro Sertãozinho jogar futebol. Fui pra casa, falei com minha mãe, ela ficou emocionada, chorava…”
Logo na estreia, Nilson confirmou que não voltaria mais ao canavial, pelo menos, não como boia fria. Em sua primeira semana no clube, o atacante titular se machucou, fazendo-o ser relacionado para ficar no banco. E foi exatamente aí que tudo começou a acontecer na vida deste grande goleador.
“No final de semana era dia das mães, já no coletivo de sexta-feira, o atacante titular machucou, o reserva foi pro jogo e eu fui pro banco. O jogo era Sertãozinho e Batatais, e o Sertãozinho estava perdendo de 2 a 0. Eu entrei no segundo tempo, fiz dois gols e empatei o jogo.”
Além de contar com a inspiração de seus familiares, que também jogaram futebol, mesmo sem tanto destaque. O goleador também citou, Zico e Renato “pé mucho” como seus modelos de inspiração.
” Mas eu me espelhava muito, cara, como eu era ponta direita, eu sempre fui fanzaço de ver o Zico jogando e o Renato “pé mucho”no São Paulo. Os arranques que eles davam com a bola eu procurava fazer na fazenda quando era garoto.”
Com tudo cooperando para que sua carreira decolasse no mundo da bola, algo irrecusável, fez a carreira do artilheiro ficar estagnada, aponto de quase ser comprometida.
“Em 1984, eu tive que abortar minha carreira, pois, tive que servir o exército, fiquei um ano servindo o exército em Pirassununga. No dia anterior à minha apresentação, o Sertãozinho tinha jogado, e o tenente foi lá e ele me viu… No dia seguinte, ele me perguntou se eu jogava futebol, e eu sabia que quem jogava ficava, então falei que não… Mas ele disse que me viu jogar, e disse para colocar na minha ficha que eu jogava futebol. Aí o outro cara disse, agora você não sai mais.”
Contratado praticamente de graça, o jogador passou de não relacionado à heroi do XV e impediu o clube de ser rebaixado.
“Eu não jogava. O Cláudio Duarte me contratou, mas, não me colocou em nenhum jogo, com ele, nem convocado eu era. E como eu não estava sendo convocado, eu comecei a beber… Quando o Zé Duarte chegou, ele me chamou de canto, dizendo saber que eu tomava umas cervejinhas, e que com ele quem bebe não joga, aí eu expliquei pra ele.”
O jogador completou a história dizendo como se tornou titular da equipe e acabou sendo peça fundamental para a permanência da equipe na divisão principal do futebol paulista.
“Na quarta-feira, com 10 minutos de coletivo, ele parou o treino e me deu o colete de titular. Disse que precisava de um ponta direita. No domingo “pegamo” o Guarani em casa 1 a 0 gol meu. E aí comecei a fazer gols, não saí mais do time e ficamos fora do rebaixamento.”
Empresariado por Figer, Nilson confirmou que não se firmava em nenhuma equipe por causa do empresário, que o negociava para se beneficiar com a transação.
” Nunca tive como ter uma identificação com uma torcida, a cada seis meses tinha que trocar.. Pra ele era muito bom, o dinheiro era pra ele, né.”
Certamente, uma das maiores façanhas de Nilson, foi com a camisa do Internacional. Fato que o ex-jogador declarou como: o melhor momento de sua carreira.
“Eu cheguei após seis rodadas do Brasileirão e ainda consegui ser artilheiro, não é pra qualquer um não… Fui o melhor centroavante, artilheiro e ainda ganhei a bola de prata.”
Originalmente, quarto homem do meio campo, Nilson só foi se tornar camisa nove nas mãos de Abel Braga.
“Com dez minutos do segundo tempo, nós perdiamos em casa por 1 a 0. O Abel me chamou e disse que eu ia entrar de centroavante… Eu, meio emburrado, queria jogar de meia, mas tava lá, Beira-rio lotado, time grande. Falei, bora lá. No fim, participei do gol de empate e fiz o gol da virada. No final do jogo ele disse que eu ia ficar de titular.”
Perguntado sobre a importância do clássico entre Inter e Grêmio, Nilson falou que não tinha dimensão da grandeza do jogo. E que não imaginava que os gols marcados por ele no “Gre-Nal do século” seriam tão importantes.
“Eu não sabia a impotância que teria um Gre-NAL, para mim era um jogo a mais. Para mim era o primeiro clássico em um time grande.. O jogo que acabou se tornando o “Gre-Nal do século.” Nilson comemorando um gol no “Gre-Nal do século”. (foto: Luis Fernando/Agência RBS)
Como um grande vencedor, Nilson também foi sujeito a falhas, e a maior delas foi no mesmo clube em que ele virou ídolo. Em 1989, o Internacional foi eliminado na semifinal da Libertadores, com Nilson perdendo um pênalti no finzinho da partida.
“No jogo da volta contra o Olímpia, nós fizemos uma partida horrível, em todo tempo estávamos atrás… Mas, com 10 minutos para o fim do jogo eu driblo o goleiro e sofro pênalti. Eu era o cobrador oficial, mas naquele dia todo mundo veio falar comigo… Eu sempre batia reto, no lado esquerdo do goleiro. Mas, quando fui bater parece que eu ouvi uma voz dizendo pra eu mudar de lado.. Fui e bati cruzado. O goleiro foi e mandou pra escanteio. Em seguida, eles marcaram no contra-ataque. Por fim, eu me senti culpado por ter tirado a oportunidade dos meus companheiros de conquistar aquele título.”
Por conta disso, Nilson carregou uma grande culpa de ter errado o pênalti derradeiro na partida. Fato que foi mais aliviado após o título do Colorado da Libertadores em 2006.
” Tiro um pouco esse peso porque o Inter ganhou a Libertadores. Se não, eu tinha até hoje.”
Grande goleador por onde passou, o atacante respondeu sobre não ter tido muitas oportunidades na seleção brasileira.
” Aqui no Brasil nós sabemos que é mais difícil, na Europa se o cara se destaca a posição dele é garantida, aqui no Brasil não. Principalmente na minha época, disputava com Careca, Muller, Bebeto, Evair, Romário, “pô”, eram só centroavantes fera..”
Mesmo reconhecendo a grande dificuldade de disputa com outros grandes atacantes da época e demonstrando gratidão por ter sido convocado algumas vezes. Nilson revelou que poderia ter recebido uma chance real de mostrar o seu valor com a amarelinha.
“Mas, mesmo assim, acho que faltou um pouco.. Por exemplo, em 88, quando terminou o campeonato em 89 eu fui artilheiro do Brasileiro, quem estava em melhor fase? Era eu… Fui convocado, mas, não tive oportunidade”
Tendo passado por grandes clubes do futebol brasileiro, Nilson acabou tendo sua melhor experiência no mundo do futebol em outro país. Perguntado sobre melhor equipe em que atuou, o atacante não titubeou e disse: Tigres do México.
“Lá é aonde eu falo até hoje, as pessoas me perguntam e acham que eu vou responder Flamengo, ou Corinthians, por causa das torcidas, né.. Mas eu digo: Tigres do México. Porque alí foi fantástico, todo o projeto que eles falaram… Eu tive a oportunidade de participar do início de tudo alí.. Minha filha nasceu lá, eu não paguei um centavo pra nada.”
FOTO DESTAQUE: REPRODUÇÃO/ SANTOANTÕNIODAPLATINA.COM
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