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·28 de setembro de 2025

Nova Base do São Paulo FC: cálculos e avaliação de impacto, por Cesar Grafietti

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Nova Base do São Paulo FC: cálculos e avaliação de impacto, por Cesar Grafietti

Ao longo dos últimos dias, um tema que vem sendo bastante debatido é o projeto que o São Paulo FC está desenvolvendo: a semi-terceirização da gestão das categorias de base. Na falta de uma definição corrente melhor, defino desta forma a jabuticaba tricolor – assim definindo algo sem precedentes estruturais e, consequentemente, de parâmetros para estimar as chances de sucesso futuro com base no passado.

Vários jornalistas e influenciadores já divulgaram informações conceituais a respeito dos planos. Numa ação incomum dentro do histórico da diretoria, foram feitas sessões de apresentação do projeto. Fui uma das pessoas com quem o clube conversou. Independentemente do que seguirá a partir do próximo parágrafo, devo elogiar a transparência da iniciativa, após a onda de rejeição após as primeiras informações, ainda imprecisas.

Antes de começar, é importante dizer que a análise está baseada no cenário atual da instituição SPFC (equipe profissional, base, dirigentes e torcedores). Não é viável falar de um movimento desse tipo isolando o ativo e ignorando o efeito geral no clube.

1. A parte estratégica

Tentando não ser repetitivo, vou resumir os principais pontos da proposta.

Sobre prazo, não há. Haverá algumas janelas de recompra da participação pelo SPFC, que são momentos em que podem ser feitas, com uma remuneração mínima pactuada entre as partes.

Alguns pontos que me chamaram a atenção:

Na estrutura atual

· Ausência de um profissional de vendas, responsável por buscar colocação para atletas que não serão aproveitados. Hoje são simplesmente desligados.

· Falta de um departamento de scouting estruturado. Há um analista, mas não uma área completa.

· Há apenas 8 observadores – chamados por eles como “olheiros”, que é uma expressão antiga – mas eram apenas 4 há pouco tempo. É difícil imaginar como conseguem trabalhar um mercado de tal amplitude. Com auxílio de agentes?

· Não ter clubes parceiros num país continental mostra falta de visão e anacronismo. Todo clube grande europeu possui parcerias espalhadas por seus países e em regiões-chaves no exterior.

Na estrutura proposta

· Não há obrigatoriedade de aproveitar um número mínimo de atletas da base. Existe a intenção de criar um canal de aproximação para facilitar a transição, mais ou menos como hoje. Não dá para ser apenas uma questão de avaliação, que muitas vezes depende do treinador do momento. Tem de haver comprometimento de quem forma e de quem utiliza.

· Dobrar o número de atletas e aumentar a qualidade. Primeiro, falaremos mais adiante, mas a concorrência aumentará. Segundo, a falta de estrutura adequada justifica elenco frágil. E terceiro, se já é difícil manter 50% de nota A/B com 350 jogadores imagine fazer 90% com 700.

2. A parte financeira

Os aportes serão feitos ao longo do tempo, exceto os R$ 50 milhões para redução de dívidas. Além desse dinheiro, todas as receitas das categorias de base serão destinadas ao negócio, e o retorno para os dois sócios será a distribuição de “dividendos”, ou do resultado anual do fundo, sendo 70% para o clube e 30% para o investidor. Importante: ninguém receberá dinheiro direto das vendas (o que feriria regras da FIFA). A remuneração de clube e investidor virá após pagamento dos custos e despesas. Detalhe: em bases anuais. Hoje o clube vende os atletas em duas janelas de transferências e já antecipa os recebíveis, porque precisa de dinheiro o tempo todo. A partir da nova base o repasse será anual, e com base no caixa. Qualquer antecipação custa por volta de €+8% ao ano. Precisa colocar na conta, ou o SPFC precisará aprender a viver sem.

Hoje o SPFC faz cerca de R$ 123 milhões de vendas de atletas da base, e ela custa algo como R$ 43 milhões, o que gera um resultado livre de R$ 70 milhões, em grandes números. O novo projeto prevê gastos anuais de cerca de R$ 85 milhões, dobrando o que se investe atualmente. Bacana, mas qual o impacto efetivo na vida do SPFC? Vamos fazer uma simulação a partir de dados observados na apresentação.

Receitas de negociações (1) são as previstas pelo clube a partir da implantação da nova estrutura. São todas as negociações de jogadores da base. Depois, deduzindo-se os custos e despesas restam o chamado Resultado (2), que é partilhado entre os sócios (SPFC (3) e o Investidor).

Primeiro ponto: a expectativa do projeto e mais que dobrar as receitas atuais, saindo de R$ 123 milhões para R$ 310 milhões (ano 3). Lembrando que os clubes que melhor trabalham a base hoje são o Flamengo e Palmeiras e fazem, em média, R$ 180 milhões.

Para o SPFC, a partir do Ano 4 a expectativa é de que o valor adicional que entraria no caixa do clube é de R$ 108 milhões (6), que é a diferença entre a receita líquida futura (3) e a média líquida atual (4).

Ou seja, a mudança renderia R$ 108 milhões adicionais todos os anos, levando o resultado da base de cerca dos atuais R$ 70 milhões para R$ 186 milhões. Parece bom. Mas como se compara ao mercado?

Na tabela acima comparamos o projeto do SPFC com a situação atual de Flamengo e Palmeiras, clubes que mais fazem receitas e investem em base atualmente. Os custos atuais de ambos andam pela casa dos R$ 77 milhões, que já são substancialmente superiores aos do SPFC (investe 56% dos rivais).

O projeto da nova base do SPFC espera fazer receitas 180% maiores que as de Flamengo e Palmeiras, considerando que essas crescem pelo IPCA projetado no período (3,5% aa). E o lucro atual do clube do Morumbis, que hoje representa 68% dos rivais, passaria a 106% caso o lucro deles se mantenha, e 92% se for corrigido pelo IPCA projetado.

Adiciono um detalhe de mercado: consultei algumas pessoas que operam as categorias de base em clubes de diversos portes, e é voz corrente que os investimentos aumentarão brutalmente a partir de 2026, ultrapassando a barreira dos R$ 100 milhões anuais para vários clubes, e não apenas para Flamengo e Palmeiras, mas também Bragantino, Bahia e outras SAFs. O mercado será ainda mais competitivo. Não apenas em dinheiro, mas em metodologias e execuções cada vez mais especializadas. Tudo o que o São Paulo não vem mostrando em suas gestões – seja no Morumbis, seja na Barra Funda, seja no pretenso Eldorado de Cotia.

E antes que alguém diga “Se o SPFC não fizer isso ficará ainda mais diante dos demais”, eu já concordo com o conceito. Apenas alerto que ainda assim o efeito positivo pode estar superdimensionado.

3. Afinal, o que significa tudo isso?

Primeiro, precisamos entender que não dá para analisar o SPFC separando base de profissional. Ainda que a nova base seja gerida tecnicamente pelo SPFC e sua estrutura profissional (o que não sei se é positivo, francamente), o fato de termos duas estruturas distintas, com objetivos distintos – a base quer vender, o clube deveria querer títulos, mas precisa vender para fazer dinheiro – futebol é um processo, e a conexão base-profissional é vital para isso. Não dá para garantir que haverá processo eficiente de transição com duas entidades distintas, se nem hoje que estão sob o mesmo chapéu consegue-se ver.

Depois, mesmo que o projeto tenha o sucesso esperado, o futebol profissional seguirá gerido pelas mesmas pessoas, diretoria e conselho, e isso não tem sido sinônimo de sucesso esportivo e financeiro. A redução dos R$ 50 milhões em dívidas é água em chapa quente: com a recorrência de deficits tende a voltar ao patamar anterior rapidamente. Mesmo a redução dos custos da base, que serão integralmente cobertos pela nova empresa é insuficiente para estancar os problemas. Amenizam, mas não resolvem se as pessoas que gerem são as mesmas.

Na tabela acima simulei o ano de 2024 considerando a redução de R$ 93 milhões das receitas com transferência de atletas e a entrada de R$ 153 milhões, que é a expectativa indicada para o Ano 3. E deduzi os R$ 43 milhões de custos da base, além de R$ 13 milhões de despesas financeiras pela redução da dívida em R$ 50 milhões. Noves fora e o esforço é para ficar quase no zero a zero.

E tudo isso para, no final e se tudo der certo, se equiparar ao que Flamengo e Palmeiras fazem hoje, mas sem a estrutura equilibrada e eficiente que há por trás.

A realidade é que o SPFC ficou tão defasado em termos de gestão que precisa buscar alternativas heterodoxas para minimizar seus problemas, mas que atacam apenas parte deles. Porque é uma forma de postergar o óbvio: é preciso mudança radical, de pessoas, processos, modelo de gestão e negócios, e de relacionamento com a torcida organizada, sempre preferencial em relação ao torcedor comum. Para retomar o rumo é preciso que haja mudança profunda na estrutura da instituição, implicando em mudança completa de poder, algo que ninguém parece querer.

Para os torcedores, quem de fato se incomoda e não os que dizem conduzir, a nova base tende a ter baixo impacto positivo. Como dito acima, o objetivo seguirá ser o de vender jogadores o quanto antes, pois valem mais, utilizar os menos relevantes, entregar um pouco mais de dinheiro nas mãos de quem faz mau uso dele. E seguir contando com a máxima de torcer para o clube da fé.

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