Num jogo decisivo de Brasileirão demos moles de quem cai na primeira fase da Copa Sendas Sub-10 apenas para crianças de óculos | OneFootball

Ainda que a matéria que nos ensinam no colégio costume adotar marcos bem específicos para facilitar a compreensão de processos históricos mais complexos, a verdade é que poucas coisas tem um estopim claro, um início bem demarcado.

A Primeira Guerra Mundial começou quando o Arquiduque Francisco Ferdinando foi assassinado? Sim, mas esse conflito foi também fruto de tensões econômicas e políticas causadas pelo imperialismo entre o fim do século XIX e começo do século XX. A União Soviética foi formalmente dissolvida em dezembro de 1991? Oficialmente, mas esse foi o ponto culminante de um processo de crises econômicas, tensões políticas e questões sociais. Belo e Gracyanne anunciaram seu término em abril do ano passado? Realmente, mas se você acompanha o Léo Dias e assistiu o documentário na Globoplay, você sabe que as coisas já não vinham bem há algum tempo.

Da mesma maneira são aos menos quatro os marcos que você pode escolher pra demarcar o exato momento em que o Flamengo decidiu jogar no lixo a partida contra o Bahia.

Primeiro temos a expulsão de Danilo. Um atleta experiente, um jogador de seleção, uma voz de liderança no vestiário rubro-negro, mas que aos 13 minutos do primeiro tempo, numa partida decisiva fora de casa, teve um grave lapso mental e esqueceu que a decapitação via trava de chuteira não só é um crime perante a constituição brasileira como uma jogada para expulsão no âmbito do futebol.

Mas você pode preferir outro marco, como o bizarro gol perdido por Samuel Lino. O Flamengo em desvantagem numérica, uma das raras oportunidades da partida, um passe magistral de Arrascaeta, e o nosso ponta esquerda nos colocou numa situação em que sim, chamamos o Samu, mas ele veio e atropelou o paciente que já mostrava poucos sinais de vida.

O terceiro Gavrilo Princip a atirar na cabeça desse arquiduque que era a nossa liderança foi o absurdo gol sofrido pela equipe rubro-negra, em que jogadores não apenas disputaram a bola usando pés que tinham consistência de bisnaguinha como ainda preferiram reclamar da arbitragem do que tentar impedir o chute. No fim não conseguiram parar a finalização do atacante tricolor e muito menos o apito do juiz.

Por fim, quando parecíamos já estar no fundo do poço, foi a vez do jovem Wallace Yan entrar em campo com uma pá. Dez minutos em campo, um cartão amarelo por reclamação sem sentido, outro cartão amarelo por uma cotovelada inexplicável, o moleque que havia entrado para colocar fogo na partida preferiu incinerar não só as chances da equipe como talvez seu futuro no clube.

E tanto quanto problemas pontuais e individuais - Ayrton Lucas merece um destaque especial por ter dedicado ao jogo níveis de desatenção normalmente só oferecidos a taxistas falando de política ou conhecidos oferecendo timeshare - é preciso pensar se essa derrota, lamentável como foi, não reflete questões mais profundas, seja da nossa organização tática, seja da nossa qualidade técnica, seja até mesmo do psicológico de diversos atletas.

Porque nada está resolvido, ainda temos muitas rodadas e o Flamengo já mostrou, em outras situações, imensa capacidade de recuperação. Mas são partidas como essa e erros como esses, que dão a sensação de que as coisas estão sim se tornando bem mais complicadas, sofridas e desgastantes do que elas precisariam ser.