O adeus a Terry Cooper, o lateral lendário do Leeds que conquistou o respeito até do Brasil de 1970 | OneFootball

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Trivela

·02 de agosto de 2021

O adeus a Terry Cooper, o lateral lendário do Leeds que conquistou o respeito até do Brasil de 1970

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Antes do Brasil x Inglaterra da Copa de 1970, um nome inglês estampava diversas notícias sobre o jogo: Terry Cooper. O lateral esquerdo não tinha participado da conquista em 1966, mas estourou com o Leeds de Don Revie e chegou em alta ao Mundial do México. Diversos jogadores e até mesmo Zagallo expressavam seus cuidados com o defensor, excelente no apoio – a ponto de Gérson colocá-lo ao lado de Gordon Banks, Bobby Moore e Bobby Charlton entre os protagonistas dos Three Lions. Cooper não prevaleceria no Jalisco, com Jairzinho se desdobrando para marcá-lo. Ainda assim, foi um dos melhores laterais daquela Copa, a única de sua carreira, e se consolidou como uma lenda do Leeds. O respeito recebido da Seleção de 1970 diz muito sobre o talento do veterano. Vale o tributo ao ex-jogador que faleceu neste sábado, aos 77 anos.

Nascido em 12 de julho de 1944, na região de Yorkshire, Terry Cooper confiava em seu talento desde a juventude. Prova disso é a maneira como ingressou nas categorias de base do Leeds United, depois de deixar o Wolverhampton. No fim da década de 1950, o garoto chegou ao centro de treinamentos dos Whites com as chuteiras nas mãos, pedindo um teste para ser observado. Em tempos distintos do esporte, os treinadores deram a oportunidade e ele fez jus àquela ousadia, convencendo os superiores de que realmente poderia se juntar aos juvenis. Permaneceu por lá até os 17 anos, quando ganhou seu primeiro contrato profissional.


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Cooper era ponta esquerda, mas Don Revie tinha outros planos para o novato. O treinador resolveu deslocá-lo à lateral esquerda e aproveitou ao máximo o potencial ofensivo do jovem. Assim, Cooper desenvolveu um estilo de jogo muito dinâmico e agressivo, que valeu bastante aos Whites a partir da década de 1960. Quando o defensor ganhou a primeira chance na equipe principal, em 1962, o Leeds militava na segunda divisão do Campeonato Inglês. O acesso aconteceu em 1963/64 e, a partir de então, a equipe brigaria por todas as competições de elite que participaria. Cooper seria fundamental neste fortalecimento, ainda que no início ele esquentasse o banco de Willie Bell e até considerasse sua transferência.

Em sua afirmação no Leeds, Cooper ganhou a posição de vez na temporada 1965/66. Desta forma, não teve tempo hábil de concorrer à convocação para a Copa do Mundo de 1966. Em compensação, se desenvolveria a tempo de virar uma peça central nos títulos emendados pelos Whites no período. Um momento essencial ao time de Don Revie aconteceu em 1967/68, quando veio a conquista da Copa da Inglaterra, após um vice recente no torneio e outros dois no Campeonato Inglês. A vitória sobre o Arsenal por 1 a 0 em Wembley foi garantida por um gol de Cooper, aos 20 minutos do primeiro tempo. Num lance em que os Gunners reclamaram de uma falta sobre o goleiro Jim Furnell, o camisa 3 aproveitou a meta vazia para emendar de canhota e balançar as redes.

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Terry Cooper (Foto: Imago / One Football)

O Leeds United conquistou a Taça das Cidades com Feiras (precursora da atual Liga Europa) meses depois e também venceria o Campeonato Inglês em 1968/69. Naquele momento, Terry Cooper vivia o auge da carreira. Era um lateral muito técnico, com habilidade acima do comum para a posição e eficiência nos cruzamentos. E unia tal refinamento com uma enorme capacidade física para chegar à linha de fundo. As combinações com o ponta esquerda Eddie Gray estavam entre as principais jogadas do time de Don Revie. Uma voracidade que também seria aproveitada por Alf Ramsey na seleção.

A primeira convocação de Terry Cooper aconteceu em março de 1969. Com as seguidas lesões de Ray Wilson, titular na Copa de 1966, a lateral esquerda estava sem dono às vésperas do Mundial do México. O camisa 3 do Leeds tomou conta do posto e chegou com moral à competição internacional. Não à toa, virou uma arma extra aos então campeões na busca pelo bicampeonato. Em diferentes aspectos, a Inglaterra de 1970 pode ser considerada mais forte que a de 1966. Cooper era uma dessas razões, pela maneira como fortalecia o apoio – algo que Keith Newton também conseguia pela direita. Mas era o camisa 3 quem os adversários realmente temiam.

Cooper teve uma ótima atuação na estreia com a Romênia. Isso levantou as preocupações do Brasil antes da segunda rodada, no grande jogo da fase de grupos do Mundial. Jairzinho ficou encarregado de recuar para acompanhá-lo e conseguiu cumprir bem sua missão, cobrindo os espaços. Apesar disso, Cooper se destacaria no duelo. Depois da vitória brasileira por 1 a 0, Gérson afirmaria: “O time inglês só possui um grande goleiro, Banks; um ótimo zagueiro, Moore; um outro bom, que é o Cooper; e apenas um atacante que sabe driblar, Charlton. Os demais são apenas de razoáveis para fracos”.

Exageros de Gérson à parte, a Inglaterra não conseguiu ter o desempenho que poderia naquela Copa, por uma tarde infeliz contra a Alemanha Ocidental nas quartas. Cooper seria vítima do sol escaldante na eliminação. Depois de ótimos 90 minutos, o lateral sentiria o cansaço na prorrogação, fruto de seu intenso trabalho ofensivo. Acabaria sofrendo com a entrada de Jürgen Grabowski na ponta direita germânica e, exausto, não evitaria a derrota por 3 a 2. De qualquer forma, saiu aclamado pela campanha como um todo. Continuaria como dono da posição na seleção, enquanto protagonizava a força do Leeds. Faltaram apenas mais troféus que recompensassem os Whites, com uma sequência de três vices no Campeonato Inglês entre 1969/70 e 1971/72. A glória neste intervalo veio apenas com os títulos na Taça das Cidades com Feiras em 1971 e na Copa da Inglaterra em 1972.

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Terry Cooper (Foto: Imago / One Football)

Terry Cooper, entretanto, não estaria em campo na nova conquista em Wembley. Em abril de 1972, o lateral esquerdo sofreu uma fratura na perna. Perdeu a reta final da temporada, assim como os duelos decisivos contra a Alemanha Ocidental, que tiraram a Inglaterra da Eurocopa. Também não ganharia medalha no título do Campeonato Inglês de 1973/74, por não disputar jogos o suficiente. O camisa 3 atravessou longos 20 meses de recuperação, com três cirurgias e complicações no processo. A retomada de sua carreira aconteceu apenas em 1974, mas sem o mesmo vigor de seu ápice. Ainda disputaria mais uma partida pela seleção inglesa, na última de suas 20 aparições pela equipe nacional. Don Revie já era o treinador, num empate por 0 a 0 contra Portugal pelas eliminatórias da Euro 1976, no qual o camisa 3 se lesionaria com apenas 23 minutos.

Sem mais Don Revie em Elland Road, Terry Cooper perdeu espaço no Leeds e seria negociado em 1975. Despediu-se com 350 partidas disputadas e 11 gols marcados. Em 2004, numa eleição dos maiores jogadores da história dos Whites, o camisa 3 ocupou o 13° lugar na lista. Seu novo destino seria o Middlesbrough, treinado por Jack Charlton, seu antigo companheiro na defesa do Leeds. Atuaria por mais três temporadas com o Boro, mas, acima dos 30 anos e sem as melhores condições físicas, não reproduzia aquela potência de tempos anteriores da trajetória.

Cooper deixou o Middlesbrough em 1978. Rodou no fim da carreira por Bristol City, Bristol Rovers e Doncaster Rovers. Antes mesmo de pendurar as chuteiras, já começou a conciliar a carreira de treinador. Teria sua reputação entre os anos 1980 e 1990. Na casamata, conquistou o Football League Trophy com o Bristol City, além de registrar acessos à frente de Exeter City e Birmingham City. Por fim, mesmo abandonando os trabalhos como técnico, Cooper teve êxito no futebol em outro posto na virada do século: virou chefe de observação do Southampton, conduzindo uma das melhores categorias de base da Inglaterra até 2007. Foi então que se aposentou de vez do esporte, aos 63 anos, dedicando-se às lojas de materiais esportivos que abriu graças ao dinheiro faturado por sua qualidade com a bola.

Os últimos meses foram bastante duros ao Leeds United. O clube se despediu de diversos ídolos históricos, sobretudo das lendas que compuseram o esquadrão dos anos 1960 e 1970. Gigantes como Jack Charlton, Norman Hunter e Peter Lorimer faleceram desde 2020. Cooper se junta ao timaço montado pelos Whites em outro plano. Deixa, ainda assim, uma legião de torcedores que reconhecem sua importância e seu talento no ápice dentro de Elland Road. Uma qualidade que seria reconhecida até mesmo pela maior seleção de todos os tempos.

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