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·25 de junho de 2020

O atacante Pierino Prati ofuscou Johan Cruyff e cravou seu nome na história do Milan

Imagem do artigo:O atacante Pierino Prati ofuscou Johan Cruyff e cravou seu nome na história do Milan

Marcar três gols em uma partida oficial é especial para qualquer jogador. Se for em jogo grande, a sensação é melhor ainda. Agora, imagine anotar uma tripletta na final da maior competição de clubes do mundo? Em toda a história da Liga dos Campeões, apenas três jogadores sentiram esse gostinho: Alfredo Di Stéfano, Ferenc Puskás e Pierino Prati. Este último, embora menos conhecido do que os dois primeiros, fez parte de um Milan que venceu tudo entre os anos 1960 e 1970. De quebra, tornou-se o último atleta a marcar três gols em uma decisão do máximo torneio europeu.

Natural de Cinisello Balsamo, comuna de Milão, Prati começou sua carreira na base do Milan, setor comando à época pelo sueco Nils Liedholm. Sua estreia como jogador profissional, contudo, não foi vestindo vermelho e preto. Aos 18 anos, após vencer o Campeonato Primavera pelos rossoneri, em 1965, o jovem atacante acabou emprestado à Salernitana para a disputa da terceira divisão. Não decepcionou: marcou dez gols em 19 jogos e, mesmo lesionado por quase metade da temporada, foi o grande artífice do acesso granata à Serie B.


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O bom desempenho pela Salernitana fez Prati voltar ao Milan para a temporada seguinte. Ele até chegou estrear na primeira divisão, mas logo seria cedido novamente, desta vez ao Savona, na Serie B. O italiano encerrou a temporada 1966-67 com 15 gols em 29 partidas, como um dos vice-artilheiros da competição, e por pouco evitou o descenso dos lígures: os biancoblù caíram por causa de dois pontos. Pierino retornou para Milão no verão de 1967.

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Determinado a mostrar seu valor, o atacante se tornou um dos destaques do time comandado por Nereo Rocco. Com o número 11 às costas, Prati repetiu o desempenho da temporada anterior e marcou outros 15 gols, só que desta vez contra times da elite do futebol italiano e em menos jogos (23). Ele foi o artilheiro da Serie A e contribuiu decisivamente na campanha rossonera que culminou no scudetto.

A fome de títulos não parou no campeonato nacional: com quatro tentos do atacante, incluindo um sobre o Bayern München nas semifinais, o Milan venceria também a Recopa Uefa. Na decisão, vencida por 2 a 0 sobre o Hamburgo, quem apareceu com uma doppietta foi o sueco Kurt Hamrin, um dos dois veteranos do trio de ataque – o outro era o ítalo-brasileiro Angelo Sormani. Porém, se seus companheiros se aproximavam do fim de suas carreiras, Prati, então com 21 anos, ainda tinha muita lenha para queimar.

Em evidência no país, o jogador do Milan ganhou um apelido sugestivo: por ser um atacante devastador, Prati passou a ser chamado de “Pierino la peste”. Atroz como poucos, Prati logo chegou à seleção italiana. Em 1968, o então técnico da Squadra Azzurra, Ferruccio Valcareggi, convocou o atacante milanista para a fase final da Eurocopa, realizada em solo italiano.

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Seu debute pela Nazionale veio um pouco antes, nas quartas de final do torneio, contra a Bulgária. Ele deixou sua marca tanto no jogo de ida quanto no de volta – naquela época, o modelo de disputa da Euro era diferente do atual. A Itália superou os búlgaros por 4 a 3 no agregado. Nas fases seguintes, Prati jogou a semifinal e a final, mas não balançou as redes. De todo modo, a Itália bateu a Iugoslávia por 2 a 0 na decisão, em Roma, e conquistou sua primeira e única Euro.

Depois do sucesso continental pela Itália, Pierino voltou ao Milan e retomou a parceria com Sormani e Hamrin. O trio letal era municiado pelo craque e capitão rubro-negro, Gianni Rivera, e tomou a Europa de assalto. Prati mostrava cada vez mais predicados: ótimo drible curto, aceleração, bom trabalho de bola com a canhota (ele era destro), finalização apurada de cabeça… Foram três gols na Copa dos Campeões até a decisão contra o Ajax do jovem Johan Cruyff, em 1969, naquela que seria a atuação mais emblemática da carreira da “peste”.

Impetuoso, Prati marcou três gols na goleada por 4 a 1 diante dos holandeses treinados por Rinus Michels. De cabeça, abriu o placar a favor dos rossoneri, após bela jogada de Sormani pela esquerda. No segundo tento, Rivera deixou de calcanhar para o artilheiro acertar um potente chute no ângulo esquerdo do goleiro Gerrit Bals. A tripletta do camisa 11 também contou com assistência de Rivera, que driblou o arqueiro, esperou o avanço de Pierino e cruzou na medida para o atacante cabecear às redes.

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O camisa 11 pintou e bordou contra a defesa holandesa no Santiago Bernabéu. Até os dias atuais só ele, Di Stéfano e Puskás são os únicos a alcançarem a proeza de anotar três tentos em uma final de Liga dos Campeões. “[Prati] não sabe jogar, mas sabe fazer gols e é isso que mais importa no futebol”, sentenciou certa vez Rocco, técnico do Milan à época, sobre o seu atacante.

Depois da glória na Espanha, o atacante não só comprou um Porsche com o prêmio de melhor jogador da final como também faturou mais um título com o Diavolo: a Copa Intercontinental. Em dois jogos de muita pancadaria, os italianos superaram o Estudiantes por 4 a 2, no placar agregado. Em 1970, o atacante foi convocado para a Copa do Mundo, competição na qual a Itália perdeu a decisão para uma extraordinária seleção brasileira.

Prati foi chamado de última hora por Valcareggi, devido a uma insólita lesão nos testículos, sofrida por Pietro Anastasi. O juventino acabou sendo cortado da seleção juntamente ao meia Giovanni Lodetti, uma vez que o técnico optou por preencher a lacuna no grupo com mais força ofensiva, com Prati e Roberto Boninsegna. Enquanto Bonimba assumiu a titularidade ao lado de Luigi Riva e marcou dois gols, Pierino não entrou em campo naquele Mundial realizado no México.

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No início dos anos 1970, Prati ajudou o Milan a levantar mais troféus: duas Coppa Italia (1972 e 1973) e mais uma Recopa Uefa (1973). O camisa 11 também somou mais um vice-campeonato da copa e três da Serie A – em 1971, marcou 19 gols e só ficou atrás de Boninsegna, campeão com a Inter.

Em 1972-73, porém, Pierino começou a temporada de forma arrasadora, com um tento na vitória no Derby della Madonnina e uma tripletta no incrível 9 a 3 sobre a Atalanta – a partida com o maior total de gols na história da Serie A em pontos corridos. Prati tinha seis gols no campeonato quando passou a ser acometido por uma pubalgia e caiu bruscamente de rendimento.

O atacante não mais anotou na campanha e pouco ajudou o Diavolo, que competia em três frentes. Quatro dias depois do título da Recopa, frente ao Leeds, o Milan perdeu sua última partida na Serie A para o Verona, por 5 a 3, e foi ultrapassado pela Juventus, que se sagrou campeã com um gol de Antonello Cuccureddu sobre a Roma, aos 87 minutos. A vingança ocorreria na decisão da Coppa Italia, em julho, terminada com título rossonero. Pierino também não atuou em nenhuma dessas partidas e findou sua trajetória na agremiação lombarda depois de 209 jogos e 102 gols.

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Aos 26 anos, o jogador atendeu ao chamado de Liedholm, homem que o lançou para o futebol, e foi atuar pela Roma. Embora o bomber tenha balançado as redes na estreia da Serie A pelos giallorossi (vitória por 2 a 1 sobre o Bologna, no Olímpico), sua primeira temporada na Cidade Eterna não foi fácil. Afinal, a arquirrival Lazio faturou o scudetto, a Roma concluiu o campeonato na oitava posição e Pierino teve um rendimento abaixo do esperado: oito gols em 26 partidas.

A situação melhorou na época 1974-75. O atacante acompanhou o crescimento de Agostino Di Bartolomei e Bruno Conti, pilares do time romanista, e ajudou a Roma a alcançar um terceiro lugar na Serie A, atrás apenas da campeã Juventus e do Napoli, vice: foram 14 gols na campanha e 22 no total, somando os oito realizados na Coppa Italia. Mas foi só. O desempenho do bomber caiu nas temporadas seguintes, ele não teve regularidade, parou de ser convocado para a seleção italiana e os giallorossi amargaram duas posições de meio de tabela.

No outono europeu de 1977, o jogador, já em visível declínio técnico, deixou a capital após algumas aparições na copa e partiu para Florença, onde assinou contrato com a Fiorentina. Ficou somente uma temporada na Viola, sem encontrar o caminho das redes, e se transferiu ao Savona, clube pelo qual já havia defendido por empréstimo no início da carreira. Aos 31 anos, estava na quarta divisão italiana.

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A passagem pela equipe biancoblù também foi curta. Após dez gols pela equipe, em 1979, o italiano aceitou uma proposta do Rochester Lancers, time dos Estados Unidos. A experiência no exterior foi decepcionante, a ponto de Prati voltar à Itália no mesmo ano de sua transferência ao time da NASL, a liga norte-americana. Assim, Pierino retornou ao Savona, jogou mais duas temporadas, com 12 gols em cada uma das participações na Serie C2, e encerrou a carreira, aos 34 anos.

Quase três anos depois de pendurar as chuteiras, o ex-atacante iniciou sua jornada como treinador. Porém, não obteve muito êxito e só treinou times de divisões inferiores – todos da Lombardia. O milanês começou no Lecco, em fevereiro de 1984, e depois passou por Solbiatese (1988-89), Bellinzago (1989-90) e Pro Patria (1990-91).

Em 22 de junho de 2020, Prati morreu após perder a batalha contra uma doença que lhe acometia há muito tempo. Aos 73 anos, ele morava em Montorfano, comuna de Como, na Lombardia. Querido por muitos, o ex-jogador ganhou várias homenagens, sobretudo do Milan, clube pelo qual obteve maior sucesso. Ele será lembrado como um dos atacantes mais fatais do final da década de 1960 e início dos anos 1970.

Pierino Prati Nascimento: 13 de dezembro de 1946, em Cinisello Balsamo, Milão Morte: 22 de junho de 2020, em Montorfano, Itália Posição: atacante Clubes como jogador: Salernitana (1965-66), Milan (1966 e 1967-73), Savona (1966-67, 1978-79 e 1979-81), Roma (1973-77), Fiorentina (1977-78) e Rochester Lancers (1979) Clubes como treinador: Lecco (1984), Solbiatese (1988-89), Bellinzago (1989-90) e Pro Patria (1990-91) Títulos como jogador: Serie C (1966), Recopa Uefa (1968 e 1973), Serie A (1968), Eurocopa (1968), Copa dos Campeões (1969), Copa Intercontinental (1969) e Coppa Italia (1972 e 1973) Títulos como treinador: Serie D (1989) Seleção italiana: 14 jogos e sete gols

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