Trivela
·17 de maio de 2022
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·17 de maio de 2022
Em 2019, o Queen’s Park passou por uma mudança radical. Depois de 152 anos, um dos clubes mais tradicionais da Escócia abandonou o amadorismo e passou a adotar um regime profissional. A decisão foi tomada por 91% dos sócios, diante das incertezas geradas com a venda à federação local do Hampden Park – o histórico estádio de Glasgow, que era de propriedade dos Spiders. Dentro de campo, ao menos, os efeitos de tal transformação se mostram bastante positivos. Na temporada passada, o Queen’s Park tinha subido para a terceira divisão do Campeonato Escocês. Já neste final de semana, veio a festa pelo acesso à segunda divisão. Será a primeira vez desde 1983 que os alvinegros jogarão a segundona.
O Queen’s Park é um bastião das tradições no futebol. O clube de Glasgow é o mais antigo da Escócia, fundado em 1867. Os alvinegros, acima disso, foram pioneiros no que se chama de “jogo de passes” – considerados, desta maneira, “criadores” do futebol-arte, em tempos nos quais a modalidade era praticada na base dos chutões e da correria. Além disso, os alvinegros sempre se mantiveram no amadorismo. Mesmo integrando a liga da Escócia desde 1900, a equipe não se rendeu ao profissionalismo. Disputou a primeira divisão do Campeonato Escocês regularmente até os anos 1940, com outra aparição isolada encerrada em 1958.
Nas últimas décadas, o Queen’s Park se acostumou a variar entre a terceira e a quarta divisão do Campeonato Escocês. Os Spiders mantêm seu peso histórico, assim como possuem uma das melhores categorias de base do país. Já o grande sustentáculo estava no Hampden Park, estádio do qual os alvinegros eram donos e concediam o uso à seleção local. A federação escocesa pagava um aluguel de concessão, mas o contrato terminou em 2020 e o Queen’s Park vendeu o estádio. Com os £5 milhões recebidos, o clube teria dinheiro para reformar o Lesser Hampden (um estádio menor na região) e fazer outras melhorias. Entretanto, o fluxo de caixa seria menor e o amadorismo tornava inviável a manutenção das estruturas. Por isso, mudou-se o estatuto.
Se por um lado a adoção do profissionalismo aconteceu a contragosto, como “um mal necessário”, por outro o departamento de futebol se beneficiou com as novas possibilidades. Antes, os Spiders contavam com um elenco basicamente jovem, de atletas que aproveitavam a vitrine e recebiam apenas uma ajuda de custo para atuar pelo clube – alguns deles se tornando funcionários para receber um trocado a mais. Agora, com a adoção gradual do profissionalismo, os alvinegros têm capacidade de preservar seus atletas por mais tempo. Isso garante um ganho esportivo óbvio, dentro de um clube com estruturas bem melhores que a média nos níveis inferiores.
O Queen’s Park não terminou sua primeira temporada como profissional, em 2019/20, porque a quarta divisão foi encerrada por antecipação em decorrência da pandemia. Já em 2020/21, num contexto de crise, os Spiders tinham dinheiro em caixa para fazer contratações de peso para o nível em que estavam e conquistaram o título na quarta divisão. A terceirona, por sua vez, não era uma novidade para o clube – que tinha passado pelo terceiro nível pela última vez em 2018. Surpresa foi emendar outro acesso.
O Queen’s Park fechou a temporada regular na quarta colocação, a 28 pontos do acesso direto. Mesmo assim, ganhou uma chance nos mata-matas. Na semifinal, os Spiders superaram o Dunfermline, penúltimo da segundona. O gol da classificação saiu aos 44 do segundo tempo do jogo de volta, fora de casa. Já na decisão, o Queen’s Park mediu forças com o Airdrieonians, segundo colocado da terceirona e que somou 21 pontos a mais na temporada regular. As duas equipes empataram por 1 a 1 em Glasgow. Já na visita a Airdrie, os alvinegros venceram por 2 a 1, com a parada decidida na prorrogação.
O elenco atual do Queen’s Park inclui muitos jogadores emprestados. Os Spiders conseguiram trazer promessas de equipes como Liverpool, Blackburn e Celtic. Os alvinegros também tiveram condições de buscar reforços em times como Rangers, Dundee United, Hearts e Dundee. A equipe tinha um nível acima da terceirona e até liderou durante as primeiras rodadas, antes de se manter na zona dos playoffs durante o restante da campanha, mesmo com algumas instabilidades. Já nos mata-matas, veio a grande surpresa.
O salto acelerado por dois acessos consecutivos pode criar dificuldades para o Queen’s Park na segundona. As diferenças de orçamento serão maiores, assim como a demanda na formação do elenco se amplia. Entretanto, os Spiders têm bases que permitem sonhos maiores. Estar no segundo nível já representa uma superação, depois de 39 anos longe. Resta saber se dá para ambicionar a elite. Para quem não joga a primeira divisão desde 1958, um novo acesso seria um milagre, mas também um resgate histórico.