Calciopédia
·15 de julho de 2020
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No início do século XX, a Juventus construiu um dos times mais célebres da história do futebol italiano, que conquistou feitos que só viriam a ser superados, pela própria Velha Senhora, pouco mais de 80 anos depois. Essa equipe era conhecida por ter uma forte defesa, da qual Virginio Rosetta era um dos líderes. O lateral-direito, com muita classe e técnica, foi oito vezes campeão nacional e também teve o privilégio de ganhar uma Copa do Mundo pela Itália.
Nascido em Vercelli, Piemonte, no dia 25 de fevereiro de 1902, Rosetta dedicou toda a sua carreira como jogador profissional a dois dos principais times de sua região: a Pro Vercelli e a Juventus. Virginio – ou Viri, como seria apelidado – se divertia por equipes de bairro até ser notado aos 16 anos pelos biancocrociati, em 1918. Naquela época, a agremiação de Vercelli era uma das mais poderosas da Itália, com cinco títulos nacionais conquistados.
Escalado como atacante no início da carreira, Rosetta estreou pela Pro Vercelli em 1919-20, na retomada do esporte após a Primeira Guerra Mundial. O sucesso pelos leoni o levou à seleção italiana, com a qual disputou os Jogos Olímpicos de 1920, na Bélgica, e mais alguns amistosos ao longo de 1921. Viri venceu dois scudetti pelo time de sua cidade e só na última temporada com a camisa branca, 1922-23, é que foi recuado de atacante pelo flanco para a função de lateral-direito.
Rosetta pegou o fim dos tempos áureos do time da sua cidade natal, que perderia o domínio da Itália para a Juventus – que havia sido, até então, campeã apenas uma vez, em 1905. Após defender a Pro Vercelli em seu último scudetto, Viri se mudou para a capital do Piemonte e, na Juve, se tornou, de fato, profissional: foi só na equipe de Turim que o lateral-direito começou a ser pago para jogar.
A chegada de Rosetta na Juventus coincidiu com a da família Agnelli, proprietária da FIAT, que assumiu a chefia da Velha Senhora através de Edoardo, filho de Giovanni, fundador da gigante automobilística. Investindo muito na equipe do norte, os Agnelli construíram um estádio para os bianconeri e também tinham o hábito de oferecer salários aos jogadores, que eram registrados como empregados da FIAT. Foi exatamente a compensação financeira que levou Rosetta a Turim.
A Pro Vercelli, assim como todas as outras equipes italianas dos primórdios do século passado, era amadora. Mesmo entre os diletantes, porém, a prática de recompensar os jogadores com cachês era comum nos maiores clubes, como Genoa, Milan e Juventus. Os biancocrociati não seguiam o exemplo dos rivais: passavam por uma crise financeira e, por isso, a direção informou aos atletas que os descontentes pela ausência de ordenado poderiam procurar outros clubes.
O jovem Viri foi um deles e acabou parando na Velha Senhora a contragosto dos dirigentes bianchi. A situação, insólita para a época, gerou uma batalha judicial que durou toda a temporada 1923-24 – ainda que a Juventus tenha pagado 50 mil liras à Pro Vercelli, fazendo de Virginio o primeiro jogador italiano com transferência realizada mediante compensação financeira. Estava instaurado o famoso “Caso Rosetta”.
Virginio atuou em sete partidas da reta inicial do Campeonato Italiano de 1923-24, até que começou a se discutir sobre a irregularidade ou não de sua presença no time bianconero. O impasse fez com que a Juve não relacionasse mais o defensor até que houvesse uma decisão em última instância da justiça. Ao fim da história, a Velha Senhora perdeu seis pontos relativos às vitórias que conseguira com Rosetta em campo e acabou não se classificando para a fase final da primeira divisão.
Em 1924, finalmente regularizado, Rosetta disputou mais uma Olimpíada com a seleção e passou a ser figura constante na Nazionale. Ao mesmo tempo, se consolidou na Juventus como um dos jogadores mais modernos do futebol italiano, por ser um dos mais vigorosos intérpretes da função de zagueiro lateral pela direita, tal qual o treinador Vittorio Pozzo preconizava em seu 2-3-2-3, o chamado metodo. Os movimentos que fazia em campo acabariam influenciando técnicos de gerações futuras na adaptação de defensores à função de líbero.
Jogando no coração da defesa, Viri dividiu as responsabilidades da retaguarda juventina com Luigi Allemandi e o goleiro Gianpiero Combi no segundo scudetto bianconero, em 1926. Em 1928, meses após conquistar o bronze olímpico com a Itália nos Jogos de Amsterdã, Rosetta passaria a ter como parceiro no clube o seu longevo colega de zaga na seleção: a Juventus tirava do Casale o já experiente Umberto Caligaris, de 27 anos.
Rosetta, Caligaris e Combi formaram, na Juventus e na seleção, um dos mais célebres triunviratos do futebol italiano. Na Nazionale, a parceria durou uma década inteira, de 1924 a 1934. Nos seis anos de clube, a sociedade dos defensores recebeu a alcunha de Trio dei Ragionieri – ou, em português, o trio dos contabilistas –, porque os três eram profissionais da área de ciências contábeis. Mas, de certa forma, havia um duplo sentido no título, já que eles tinham o poder de determinar o saldo de gols da Juve em cada campanha. Até hoje, essa linha defensiva é considerada como uma das maiores de toda a história.
Em 1929, quando a Serie A foi fundada e o campeonato nacional passou a ser disputado em pontos corridos, com times já profissionalizados, Viri se tornou capitão da Juventus. No ano seguinte, já treinado por Carlo Carcano, passou a colher os frutos: entusiasta do metodo de Pozzo, o técnico fez de sua defesa o pilar da equipe que dominaria a Itália na primeira metade da década de 1930. Além da força defensiva, os pesados investimentos da família Agnelli proporcionaram a formação de um esquadrão imbatível, que também contava com nomes como Raimundo Orsi, Giovanni Ferrari, Luis Monti, Luigi Bertolini, Renato Cesarini, Felice Borel e o brasileiro Ministrinho.
O investimento resultou no período que ficou conhecido como Quinquennio d’oro. Entre 1931 e 1935, a Juventus superou fortes times de Bologna e Inter e se tornou a primeira pentacampeã consecutiva italiana – marca que foi repetida apenas duas vezes, por Grande Torino (1942-49) e Inter (2006-10), e que foi superada apenas na década de 2010 pela própria equipe bianconera de Turim. Octacampeão italiano, Rosetta só foi ultrapassado quase um século depois, em 2018, por Gianluigi Buffon, que conquistou nove scudetti.
Aquela grande Juventus se tornou a base da seleção campeã mundial em 1934. Rosetta, claro, participou da campanha da Itália na sua primeira Copa do Mundo, disputada em casa. O lateral-direito foi o capitão no jogo de estreia (vitória por 7 a 1 contra os Estados Unidos) e, depois, na reserva, só observou seus companheiros dominarem os adversários e conduzirem os italianos ao título: na final, vitória de virada sobre a forte Checoslováquia, por 2 a 1. Virginio se despediu da Squadra Azzurra após a competição. Em seus 52 jogos como representante itálico, também ganhou duas edições da extinta Copa Internacional.
Em 1935, Rosetta passou a faixa de capitão juventino para Monti, já que acumularia as funções de jogador e treinador da Velha Senhora em sua última temporada nos gramados. Após pendurar as chuteiras, Rosetta prosseguiu no cargo de técnico bianconero por mais três anos. Virginio conquistou o seu principal título como treinador justamente com a equipe que lhe deu mais glórias: em 1938, levou a Juve ao primeiro caneco da Coppa Italia.
Rosetta só voltaria a conquistar um troféu – o da Serie B – dez anos depois, com o Palermo. Entre as boas passagens por Turim e pela Sicília, o treinador teve trabalhos com resultados discrepantes na segundona, com Lucchese (terceiro lugar) e Mestre (rebaixamento), e uma rápida experiência na Biellese, durante o campeonato regional piemontês que ocorreu durante a Segunda Guerra Mundial. Virginio deixou as pranchetas de lado logo após o acesso com o rosanero e, aos 46 anos, se afastou do futebol. Em 1975, um mês após completar 73 anos, faleceu em Turim.
Virginio Rosetta Nascimento: 24 de fevereiro de 1902, em Vercelli, Itália Morte: 31 de março de 1975, em Turim, Itália Posição: lateral-direito Clubes como jogador: Pro Vercelli (1919-1922) e Juventus (1923-1936) Títulos como jogador: Serie A (1921, 1922, 1926, 1931, 1932, 1933, 1934 e 1935), Bronze Olímpico (1928), Copa Internacional (1930 e 1935) e Copa do Mundo (1934) Clubes como treinador: Juventus (1935-1939 e 1942-1943), Lucchese (1939-1940), Biellese (1943-1944), Mestre (1946-1947) e Palermo (1947-1948) Títulos como treinador: Coppa Italia (1938) e Serie B (1948) Seleção italiana: 52 jogos
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