Última Divisão
·06 de abril de 2024
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Texto escrito por Davi Saito (Por Fora das Quatro Linhas @pfqloficial)
Após abordarmos o caso da Tuna Luso, vamos falar sobre a situação do Tupi de Juiz de Fora. Vem com a gente saber tudo de mais um time que sumiu do cenário nacional nos últimos anos!
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O Tupy Foot-Ball Club nasceu em 26 de maio de 1912 na cidade de Juiz de Fora, interior de Minas Gerais, após uma cisão de outro clube local, o Tupynambás. Seu primeiro jogo foi neste mesmo ano contra o supracitado clube, que terminou empatado em 1 a 1.
Nos seus primeiros anos, o Tupy ficou apenas no futebol amador, iniciando sua profissionalização na década de 1930. Em 1932, o clube inaugurou seu estádio, o Salles Oliveira, que surgiu como uma praça de esportes. O jogo de inauguração do estádio foi contra o Vasco da Gama, empatado em 1 a 1.
Nesse período, a Federação Mineira unificou os campeonatos de Belo Horizonte e Juiz de Fora, criando o Campeonato Mineiro como o conhecemos. Na edição de 1933, o Tupy foi vice-campeão. Em 1942, o Tupy Foot-Ball Club virou Tupi Foot Ball Club.
Em âmbito estadual, não houve grandes feitos. Porém, o clube conquistou alguns títulos regionais, como a chamada “Divisão Especial”, torneio que contava com times da Zona da Mata mineira (onde fica Juiz de Fora) e da Mantiqueira, principalmente nos anos 50.
Em 1950, devido à necessidade de se construir uma sede social, o Tupi cedeu o Salles Oliveira à Prefeitura de Juiz de Fora em troca de um terreno, construindo sua sede. Posteriormente, o clube trocou um outro terreno que possuía com a prefeitura para recuperar sua casa. Nos anos 60, o Tupi ficou conhecido como Fantasma do Mineirão após derrotar Cruzeiro, Atlético e América, o trio de BH, no principal estádio do estado. Na época, o feito foi tão grande que a equipe disputou um amistoso contra a Seleção Brasileira de Pelé e companhia.
Na década de 80, houve um nome que marcou a história do Galo Carijó: Maurício Baptista de Oliveira. Presidente do clube entre 1984 e 1989, ele revitalizou o Salles Oliveira, modernizou a infraestrutura e conseguiu uma verba de 130 milhões de cruzados do Ministério da Educação, em 1988. Dentro de campo, Maurício levou o Tupi a participar do Campeonato Brasileiro e consolidou a equipe como uma potência do futebol mineiro. Ainda em 1988, um novo estádio foi inaugurado em Juiz de Fora: O Estádio Municipal Radialista Mário Helênio, com capacidade para 35 mil pessoas, que visava alavancar o futebol local.
Após a saída de Maurício Baptista, o Tupi passou por tempos difíceis. Sem investimentos e apoio, o clube fez péssimas campanhas no Campeonato Mineiro e, em 1993, todos os clubes de Juiz de Fora se fundiram e criaram a Cooperativa Manchester de Futebol, que seria o único representante de futebol da cidade. Esse nome foi dado em referência a um dos apelidos do município, “Manchester Mineira”.
Sem estrutura e projeto adequados, o Manchester fez campanhas horrendas no estadual e foi desfeito em 1996, com cada clube voltando aos seus devidos lugares. Até o início do século XXI, o Tupi figurou na segunda divisão de Minas Gerais, sem conseguir o acesso.
Para 2001, o Tupi fez uma estratégia “pé no chão”: manteve os jogadores da base e contratou apenas alguns jogadores, especialmente da região de Juiz de Fora, já que estava em dificuldades financeiras. Assim, o Galo Carijó venceu o Módulo II e voltou à elite mineira após seis anos.
Em 2003, o clube fechou uma parceria com o Grupo de Supermercados Bretas, que previa cinco anos de investimentos no futebol. Para liderar o novo projeto, houve a chegada de Müller, ex-São Paulo e Palmeiras. Naquele ano, o Tupi ficou em 4º lugar no estadual e chegou às quartas de final da Série C. Porém, ao final da temporada, a parceria foi desfeita.
No ano de 2004, passando por nova reestruturação, o Tupi foi rebaixado no estadual, mas, em sua primeira Copa do Brasil, eliminou o Bangu e enfrentou o Flamengo na segunda fase, sendo eliminado.
Após grave crise financeira, o empresário Omar Peres assumiu o comando do clube em fevereiro de 2006. Com uma reestruturação interna e na infraestrutura, o Tupi passou a buscar melhores resultados no campo. De forma surpreendente, o Galo Carijó retornou à elite mineira já naquele ano.
Ainda em 2006, de forma curiosa, o lendário Romário tornou-se o novo reforço do Tupi. Por problemas burocráticos, ele nunca chegou a jogar pela equipe, mas rendeu muito marketing ao time, que chegou a aparecer em capas de diferentes jornais ao redor do mundo.
Chegando ao ano de 2011, já sem Omar Peres, o Tupi estava na disputa da Série D. Sob o comando de Ricardo Drubscky, o Galo surpreendeu a todos e chegou à final do torneio para enfrentar o Santa Cruz. Em pleno Arruda, o Tupi conquistou seu primeiro título nacional, garantindo a vaga para a Série C no ano de seu centenário.
Infelizmente, o sonho virou pesadelo e, na Série C de 2012, o Tupi foi rebaixado para a Série D. E é em 2013 que chegamos ao fatídico episódio do massagista: Em 07 de setembro de 2013, pelas oitavas de final da D, Tupi e Aparecidense se enfrentavam. A partida estava em 2 a 2, sendo que o empate dava a vaga aos goianos e o Galo precisava vencer para avançar. Então, aos 44 minutos do segundo tempo, o jogador mineiro Ademilson chutou para o gol vazio e, em um lance bizarro, o massagista da Aparecidense tirou a bola do gol, gerando uma enorme confusão. O jogo, a princípio, acabou em 2 a 2 e o Tupi foi eliminado.
O clube levou o caso à justiça e, em 16 de setembro, a Aparecidense foi eliminada da Série D, com o Tupi avançando. Nas quartas, os mineiros eliminaram o Mixto e retornaram à Série C.
O ano de 2015 é, talvez, o maior da história da equipe. Na Copa do Brasil, eliminou o Athletico-PR em plena Arena da Baixada. Na Série C, chegou às semifinais, o que garantiu a vaga da equipe na Série B de 2016, um feito histórico que parou Juiz de Fora. A partir daí, porém, começaria o declínio…
Com cinco técnicos diferentes durante o ano e um péssimo planejamento, o Tupi foi rebaixado para a Série C em 2016 na 18ª colocação da Série B. Em 2018, sem grandes campanhas no estadual, foi rebaixado para a Série D. Após a demissão do diretor Nicanor Pires e de toda comissão técnica em 2019, o Galo Carijó foi rebaixado para o Módulo II e fez uma campanha desastrosa na Série D, com míseros 5 pontos na primeira fase.
Como é comum em clubes em crise, as finanças do Tupi não vão nada bem: em 2021, a estimativa era que a dívida do clube fosse de R$ 10 milhões, sendo que 25% dela seriam dívidas trabalhistas. Por conta disso, vários bens da equipe tiveram a penhora requirida. Os salários atrasados são datados de, pelo menos, 2013. Infelizmente, não foram encontrados mais detalhes sobre as finanças da equipe.
Ainda em 2021, houve uma denúncia a respeito de vendas de profissionalização envolvendo as Clínicas de Futebol, que visavam formar atletas de base e profissionalizá-los. Segundo relatos a uma reportagem do ge, havia cobranças indevidas aos aprovados.
Em 2023, o Tupi disputou o Módulo II do Campeonato Mineiro, mas não conseguiu o acesso. Não foram encontrados planos referentes a uma SAF e, segundo o ex-presidente Eloísio Pereira, o principal caminho de reconstrução do clube seria a retomada das categorias de base após o supracitado escândalo. Ainda no ano passado, em outubro, a sede da equipe foi roubada, com cerca de 39 peças furtadas, incluindo bolas e troféus históricos. Em 2024, o clube trocou de técnico e, sob nova gestão, buscará o acesso para a elite mineira pelo Módulo II, que começará no mês de maio.
O Tupi é um dos clubes mais tradicionais do futebol mineiro e, pela irresponsabilidade de suas gestões, foi jogado às traças. Porém, é uma equipe que já deu a volta por cima várias vezes. Portanto, por que não repetir a dose?