Trivela
·08 de maio de 2023
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·08 de maio de 2023
Não são apenas as grandes ligas europeias que lidam com grandes hegemonias recentes. Nos países menores, o dinheiro das competições continentais causa um impacto enorme e solidifica as forças locais. Isso não impede, porém, que bons trabalhos cresçam e surpreendam. No fim de semana, foram três campeões inéditos na Europa – todos eles com ascensões recentes nos últimos anos. A grande história é a do Raków Czestochowa, que vinha de dois títulos recentes na Copa da Polônia, até colocar as mãos no Campeonato Polonês depois de escalar divisões. O Struga, da Macedônia do Norte, surgiu na década passada e já botou a faixa no peito. Já o Swift Hesperange deu um salto em Luxemburgo para levar a taça, mesmo que tivesse um pouco mais de tradição na primeira divisão local. Abaixo, as histórias:
O título do Raków, além de ser o mais importante, era também o mais esperado pelos desempenhos recentes. O clube localizado na cidade de Czestochowa, com 215 mil habitantes no sul da Polônia, já vinha ensaiando o feito nos últimos anos. Os rubroazuis surgiram em 1921 e tinham tradição nas divisões de acesso, com direito a um vice na Copa da Polônia em 1967, até pintarem pela primeira vez na elite durante a década de 1990. Depois disso, o Raków teve uma queda abrupta na virada do século e passou quatro temporadas na quarta divisão, até a reconstrução gradual mais recentemente. Reapareceu na segundona em 2017/18 e reestreou na elite em 2019/20, com ótimas quatro temporadas desde então.
A temporada de 2019/20 ainda não chamou tanta atenção, com a décima colocação no Campeonato Polonês. Em 2020/21, o Raków conquistou a Copa da Polônia em cima do Arka Gdynia e ficou com o vice na liga nacional. Já em 2021/22, o desempenho se repetiu: mais um título na copa, agora em cima do tradicional Lech Poznan, e outro vice na liga. Paralelamente, os rubroazuis fizeram suas primeiras campanhas continentais. Superaram o Rubin Kazan na Conference 2021/22, mas caíram diante do Gent na última fase preliminar. Sucumbiram na mesma etapa em 2022/23, diante do Slavia Praga na prorrogação, após deixarem Astana e Spartak Trnava pelo caminho. O prêmio maior ocorreu mesmo na liga.
O Raków disparou ainda no primeiro turno da atual edição do Campeonato Polonês. O time nem começou tão bem, mas, a partir da nona rodada, iniciou uma sequência de 17 partidas de invencibilidade, com 13 vitórias. O grande impulso aconteceu nos 4 a 0 para cima do poderoso Legia Varsóvia, então seu concorrente no topo da tabela. Com o Lech Poznan fazendo um início de liga sofrível, os rubroazuis puderam consolidar sua situação sem que o Legia os acompanhasse. Mesmo com a derrota para o Korona Kielce nesta rodada, a derrota paralela do Legia valeu a taça antecipada. Restando mais três rodadas, o Raków tem uma vantagem de 11 pontos. O desempenho em Czestochowa é arrasador, com 14 vitórias e um empate em 15 compromissos, incluindo 40 gols marcados e só sete sofridos. Foi o que pavimentou a façanha.
Um dos principais nomes por trás do sucesso do Raków é o seu presidente, Michal Swierczewski. O empresário de 44 anos é nascido na cidade e torcedor do clube. Com negócios bem sucedidos no comércio eletrônico, assumiu o comando dos rubroazuis em 2014, quando o time ainda estava na terceira divisão. Foi quem deu as bases para a ascensão de volta à elite e também para a série de conquistas mais recente. Seu braço direito foi o técnico Marek Papszun, então um desconhecido no país, que assumiu o cargo em 2016 e impulsionou a escalada. O treinador ainda conciliava as aulas como professor de história quando chegou a Czestochowa. Com uma postura disciplinadora e uma ideia de jogo clara, conseguiu estabelecer seu trabalho.
Ao longo desses anos recentes, o Raków conseguiu preservar uma base competitiva e trouxe reforços pontuais a cada temporada, sem gastar em medalhões. Não à toa, dos 15 jogadores que passaram dos mil minutos nesta edição do Campeonato Polonês, apenas cinco chegaram para a atual disputa. Um dos segredos do Raków é misturar jogadores de diversos países do Leste Europeu. Sérvios, gregos, croatas, ucranianos, romenos, tchecos e letões se unem aos poloneses no elenco. Também há um toque latino: o espanhol Ivi López é uma das referências ofensivas há anos, enquanto o brasileiro Jean Carlos Silva foi uma adição desta temporada. Formaram uma espinha dorsal muito forte dentro do 3-4-3 idealizado por Papszun, em que a produção de gols se divide bastante: 15 jogadores balançaram as redes, nenhum mais que dez vezes, cinco com pelo menos seis tentos.
Pela maneira como o Raków tem se mantido no topo da Polônia, dá para esperar que o clube repita o sucesso algumas vezes nas próximas temporadas. O fato de ser administrado por um empresário local confere certa estabilidade ao clube, embora uma dúvida fique sobre o impacto que a anunciada saída de Papszun ocasionará – o treinador, bem cotado, buscará novos rumos. Fato é que, para quem se acostumara às divisões de acesso, viver tal conto de fadas atualmente supera os melhores sonhos. E as chances de ampliar o sucesso crescem, agora também com uma vaga inédita nas preliminares da Champions League.
O Campeonato Macedônio conta com a ascensão de alguns clubes mais recentemente. Quem parecia pronto a se tornar o próximo campeão inédito do país era a Akademija Pandev, clube fundado pelo veterano Goran Pandev. No entanto, o Struga passou à frente e terminou com o troféu em 2022/23. Os alvirrubros ficam na cidade homônima de 16 mil habitantes, localizada no sudoeste do território, próxima das fronteiras com a Albânia e com a Grécia.
O Struga foi fundado em 2015, com o apoio de uma companhia local da construção civil, e conquistou três acessos rapidamente a partir da quarta divisão. A estreia na elite aconteceu em 2019/20, quando o time só não caiu porque o descenso foi suspenso em decorrência da pandemia. Depois de três temporadas, a taça inédita pintou. Antes disso, os novatos já tinham conseguido um honroso terceiro lugar em 2020/21, que valeu a estreia nas preliminares da Conference League na temporada seguinte, com a eliminação logo de cara para o Liepaja, da Letônia.
O detalhe é que o Struga conseguiu liderar o Campeonato Macedônio de ponta a ponta. Assumiu a liderança na primeira rodada e continuou sempre por lá, com a perseguição de Shkupi e Shkëndija. Foi uma campanha de fato excelente, com 18 vitórias e só duas derrotas nas 28 rodadas realizadas até o momento. Os alvirrubros possuem o segundo melhor ataque e a melhor defesa da competição. O técnico é Shpëtim Duro, albanês bastante rodado nas ligas da região, com 63 anos. Já em campo, enquanto Besart Ibraimi se destacou pelos 17 gols anotados, o goleiro Vedran Kjosevski passou 12 rodadas sem ser vazado.
O Campeonato Luxemburguês variou pouco os seus campeões nas últimas décadas. Dudelange, Fola Esch e Jeunesse Esch ficaram com 26 troféus dos 27 disputados entre 1995 e 2022. A ascensão do Swift Hesperange interrompe essa hegemonia. Os alvirrubros surgiram em 1916 e chegaram à elite nacional em 1985. Sua maior glória havia acontecido com o título da Copa de Luxemburgo em 1990, com a aparição inédita na Recopa Europeia. Já mais recentemente, a agremiação passou pela segunda divisão na década passada, até voltar com força depois do acesso. A reaparição na primeira divisão aconteceu em 2019/20, com destaque à terceira colocação em 2020/21, que já garantiu presença na Conference League. Agora, dão um passo além.
A campanha do Swift Hesperange é avassaladora. O clube até passou o primeiro turno numa corrida parelha com o Dudelange, mas disparou na segunda metade da competição. Com mais duas rodadas pela frente, os alvirrubros abriram nove pontos de vantagem e não podem mais ser alcançados. E a produtividade do ataque impressiona, com 97 gols marcados em apenas 28 partidas. Foram 16 partidas com quatro ou mais gols anotados.
O ápice do Swift veio com os 8 a 1 sobre o Fola Esch no primeiro turno. Já nas últimas três rodadas, os campeões enfiaram dois 6 a 0 e um 5 a 1. Não surpreende que os dois principais artilheiros do campeonato sejam do time: o francês Rayan Philippe, com 30 gols, e o alemão Dominik Stolz, com 28. Philippe ainda deu absurdas 26 assistências, com mais 16 de Stolz. Há uma presença significativa de estrangeiros no elenco, sobretudo franceses, entre eles o técnico Pascal Carzaniga. Já o único brasileiro, o meia Gustavo, foi reserva.