Última Divisão
·24 de outubro de 2025
Oeste de Itápolis, de Barueri e… De onde?

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Na mitologia grega, Ícaro e o pai, Dédalo, foram aprisionados em uma torre pelo rei de Creta, Minos, sob a acusação de terem ajudado Teseu, rei de Atenas, a escapar de um labirinto. Mas Ícaro conseguiu fugir com as asas construídas com penas e cera de abelha por Dédalo, que alertou para que ele não voasse perto demais do sol. O filho não deu ouvidos ao pai e a cera das asas derreteu com o calor do sol, fazendo com que Ícaro caísse e morresse afogado no mar.
Quem olha para as divisões de acesso do futebol de São Paulo nos últimos anos têm até dificuldades para se lembrar que o Oeste disputou a Série B do Campeonato Brasileiro entre 2013 e 2020 – quase sempre brigando contra o rebaixamento, mas com um surpreendente sexto lugar em 2017.
Mas talvez seja possível dizer que o maior sucesso do Oeste foi também o responsável pela acelerada derrocada dos anos que se seguiram.
Ao conquistar o título da Série C de 2012, o Oeste viu a estrutura original em Itápolis virar uma grande dor de cabeça. O clube jogou as primeiras temporadas da Série B no Estádio dos Amaros, mas o que se viu foi uma série de desentendimentos com a Prefeitura.
O local foi reformado pelo Executivo da cidade em pelo menos duas ocasiões, 2014 e 2015. Em nenhuma delas, a solução foi definitiva. O Estádio dos Amaros foi interditado pelo Corpo de Bombeiros, a Prefeitura reclamou dos custos das obras e a capacidade foi reduzida.
O casamento acabou no Paulistão de 2016, quando o Oeste foi rebaixado. Na Série B daquele ano, o time jogou em Osasco, em uma parceria com o então ascendente Grêmio Osasco Audax. A partir de 2017, mudou novamente de sede – agora, para Barueri, que buscava uma alternativa para o afastamento do Grêmio Barueri após o rebaixamento na Série A3 do ano anterior.
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A partir daí, começa uma nova história do Oeste.
O primeiro passo foi promissor. O Oeste de Barueri quase conseguiu um acesso na Série B de 2017 e foi vice-campeão na Série A2 do Paulista de 2018. Chegou a distribuir marmitas para atrair torcida à Arena Barueri, mas logo perdeu fôlego: se o time atraía uma média de mais de 2 mil torcedores por jogo em 2017, passou a ter os menores públicos em 2019, com míseros 304 testemunhas na derrota em casa por 2 a 1 para o Criciúma na última rodada.
Mas o namoro com Barueri também não durou. No Campeonato Paulista, foi rebaixado em 2020 e não saiu mais da Série A2. Nas competições nacionais, foi rebaixado da Série C de 2021, eliminado na segunda fase da Série D de 2022. Nos anos seguintes, a relação com a nova cidade se desgastou.
Primeiro, a Crefipar Participações e Empreendimentos S.A, empresa de Leila Pereira, assumiu em 2023 a concessão administrativa da Arena Barueri. Segundo, porque Beto Pitteri (Republicanos) foi eleito em 2024 como novo prefeito de Barueri, assumindo a cadeira que era de Rubens Furlan (PSB), um nome bastante ligado ao futebol local.
A Crefipar chegou a oferecer a Arena Barueri para os jogos do Oeste, desde que o clube arcasse os custos das partidas – até então, os gastos eram custeados pela Prefeitura de Barueri, desde que o time adotasse o nome da cidade na camisa como forma de divulgação. A administração do Oeste aceitou, mas o valor era considerado alto e passou a representar sucessivos prejuízos.
Além disso, o contrato entre Oeste e a Prefeitura de Barueri pela cessão dos equipamentos municipais para o clube venceu em agosto de 2025, sem renovação. Ciente do prazo, o clube deixou de jogar na cidade no fim de fevereiro e passou a flertar com municípios próximos, como Osasco, Santana de Parnaíba e Araçariguama. Uma mudança oficial de sede, caso aconteça, só deve acontecer para 2026 – e custaria aos cofres do clube R$ 800 mil.
Na Copa Paulista de 2025, o time mandou seus jogos em Osasco – não por acaso, usou uma camisa em vermelho e verde, cores da bandeira da cidade. A situação foi recebida com desconforto pelo Grêmio Osasco Audax, responsável pela manutenção do Estádio José Liberatti.
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As despesas aumentaram em proporção bem maior que a captação de receitas. Com um passivo em dívidas trabalhistas e cíveis de cerca de R$ 3 milhões, o Oeste entrou em Recuperação Judicial.
O processo foi aprovado em maio de 2025 e garantiu um período de 180 dias de suspensão de bloqueios nas contas do clube, para que as finanças fossem reorganizadas e um cronograma de quitação de dívidas fosse aprovado junto aos gestores.
No começo de outubro, o Oeste obteve uma decisão judicial favorável em primeira instância, com o deferimento do pedido para a suspensão imediata da aplicação de punições na Câmara Nacional de Resolução de Disputas da CBF. Na CNRD, a diretoria responde a quatro ações envolvendo cobranças de valores devidos a jogadores, assim como questões referentes a valores relacionados a transferências de jogadores.
O parecer entendeu que as dívidas foram realizadas antes do Plano de Recuperação Judicial homologado pelo clube – por isso, devem ser pagas de acordo com o plano, e não por regras associativas. Para o advogado Odair de Moraes Júnior, responsável pela reestruturação do Oeste, a decisão reforçou a isonomia entre os credores e assegurou a execução do plano acima de penalidades.
“O Judiciário Paulista age de forma correta, porque não existe regra excepcional na legislação recuperacional sobre exclusão de créditos no âmbito da CNRD. Ou seja, são credores concursais comuns, e não podem ter tratamento diferenciado. Essa decisão abre um importante precedente para que os clubes em reestruturação busquem a devida proteção jurídica contra possíveis punições da Confederação”, defendeu o advogado.
“A decisão da Justiça reforça a equidade da legislação. Apesar de não estar na elite do futebol brasileiro, o Oeste Barueri também pôde ter acesso à Recuperação Judicial. A Lei existe para todos e, independentemente da divisão de disputa, o clube que estiver em dificuldades financeiras e com passivos trabalhistas e cíveis pode se valer dela e usar a Recuperação Judicial para se reestruturar e manter suas atividades”, acrescentou.
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