Última Divisão
·20 de abril de 2024
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Poucos clubes são tão emblemáticos no imaginário do futebol brasileiro quanto o Clube Atlético Juventus.
Fundado em 1924, o clube nasceu e cresceu no bairro da Mooca, em São Paulo. E mesmo fincando raízes em um bairro de forte raiz operária da maior cidade do Brasil, o Juventus mantém o ar de nostalgia, como se vê rivais de cidades do interior paulista.
Hoje, aos cem anos, o Juventus é uma viagem no tempo do futebol.
E para celebrar o centenário do Juventus da Mooca, o Última Divisão conta dez fatos da história deste pequeno gigante. Da origem com outras cores ao desempenho nos últimos anos.
Confira a lista, bello!
O Juventus nasceu em 1924 da união de dois clubes de várzea: o Extra São Paulo e o Cavalheiro Crespi. As duas equipes eram formadas por profissionais do Cotonifício Rodolfo Crespi e gozavam de certo prestígio no futebol do bairro paulistano da Mooca.
A princípio, o novo Cotonifício Rodolfo Crespi Futebol Clube adotou as cores do Extra São Paulo: vermelho, preto e branco. Mas o vermelho durou pouco, e o novo distintivo logo se tornou apenas preto e branco.
E foi com esta identidade alvinegra que o clube conquistou seu primeiro título: a segunda divisão da Associação Paulista de Esporte Atlético, que valeu a presença no Campeonato Paulista de 1930.
Talvez você conheça a história do nome e das cores do Juventus. Mas vale a pena entrar em detalhes.
Em fevereiro de 1930, a diretoria do Cotonifício Rodolfo Crespi FC decidiu mudar o nome do clube. A sugestão da nova identidade veio do próprio Rodolfo Crespi, torcedor da Juventus da Itália.
Os uniformes também manteriam o padrão preto e branco, mas a diretoria optou não repetir as cores presentes em outros clubes do futebol paulista – casos de Corinthians, Santos e Ypiranga. Coube então ao próprio Rodolfo Crespi sugerir as cores do outro clube da cidade de Turim, o Torino, que é majoritariamente grená e branco.
Nascia assim o Clube Atlético Juventus, grená e branco.
Cerimônia de mudança de nome para Juventus, em 1930 (Imagem: CA Juventus/Site oficial)
Antes de a gente avançar na história, vale a pena contar a história também de Rodolfo Crespi.
Nascido na Itália em 1874, Rodolfo Crespi chegou ao Brasil em 1893, e logo se estabeleceu no setor têxtil em São Paulo. Aos 24 anos, já era proprietário de uma empresa do ramo, o Cotonifício Rodolfo Crespi, na rua dos Trilhos, um tradicional endereço do bairro da Mooca.
Nos anos seguintes, sua influência resultaria na criação de colégios, jornais e bancos em São Paulo. Em 1925, cedeu um terreno na Alameda Javry – que depois passaria a se chamar Rua Javari – para que o clube erguesse seu estádio.
Em 1928, recebeu o título de Conde. Morreu em janeiro de 1939, aos 64 anos.
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Até que a Federação Paulista de Futebol se consolidasse como a principal entidade organizadora do futebol de São Paulo, muitas ligas foram nasceram e morreram à frente da modalidade do estado. E foi em uma dessas disputas que o Juventus foi campeão paulista.
Em 1933, a Associação Paulista de Esporte Atléticos organizou o primeiro campeonato profissional de futebol de São Paulo. O Juventus se licenciou, mas seguiu ativo no futebol amador. Assim, optou por disputar o Campeonato Paulista amador organizado pela então Federação Paulista de Football, ligada à então CBD e sem qualquer vínculo com a atual FPF.
Com o nome de Clube Atlético Fiorentino, o time ficou com o título do Paulista amador de 1934 ao vencer a Ponte Preta por 5 a 3 na final, disputada na Rua Javari. O resultado credenciou a equipe a uma disputa do Campeonato Estadual contra a Ferroviária de Pindamonhangaba, em uma série melhor de três.
O Fiorentino venceu novamente, com duas vitórias por 5 a 0 e 3 a 1 nos dois primeiros jogos. O título, no entanto, só foi reconhecido pela atual FPF em 2021.
Equipes e dirigentes do Fiorentino (Imagem: CA Juventus/Site oficial)
No final da década de 1940, a situação econômica do Juventus não era das melhores. Foi quando o presidente Adriano Crespi recebeu uma oferta impensável para os dias de hoje: uma fusão com a Ponte Preta.
A Ponte assumiria o elenco do Juventus e, em contrapartida, contrataria também os funcionários do clube e pagaria as dívidas. Adriano Crespi gostou da proposta, que foi levada a votação do conselho deliberativo. No entanto, o conselho votou contra a fusão entre as equipes: 23 a 10.
Foi a partir daí que a família Crespi se afastou do Juventus.
O cenário parece impossível hoje em dia, mas o Juventus já foi campeão da Série B do Brasileiro.
A quinta colocação no Paulista de 1982 classificou o time para o Brasileiro de 1983, que dependia de resultados dos estaduais para definir os times. No entanto, na Taça de Ouro de 1983, o time foi o penúltimo colocado de seu grupo na primeira fase e acabou eliminado em uma repescagem. Assim, acabou indo para a Taça de Prata.
Na Taça de Prata, 12 times oriundos da Taça de Ouro entraram nas oitavas de final direto contra quatro clubes oriundos da própria Taça de Prata. A partir daí, o Juventus passou por Itumbiara, Galícia e Joinville. Nas finais, encarou o CSA. Perdeu por 3 a 1 em Maceió, venceu por 3 a 0 em São Paulo e venceu de novo por 1 a 0 em um jogo-desempate.
O gol do título no dia 3 de maio veio de Paulo Martins. O time contava ainda com nomes conhecidos, como Carlos Pracidelli e Nelsinho Baptista. O técnico era Candinho.
Imagem: CA Juventus/Site oficial
A gente imagina sempre que a Rua Javari foi e sempre vai ser o estádio do Juventus. Foi lá, por exemplo, que Pelé marcou o mais belo gol de sua carreira, em agosto de 1959 – um feito que valeu até um busto para o Rei na entrada da Javari.
Mas já houve planos de outros estádios para o clube. Aqui, a gente destaca duas possibilidades.
Na primeira delas, a partir da década de 1960, o clube pretendia ter um grande estádio para mais de 50 mil torcedores. Os associados foram contra, e optaram pelas melhorias no clube social. No fim, a opção pelo clube social venceu, e as instalações ganhariam piscinas, churrasqueiras, sauna e salões.
O segundo é de janeiro de 2013. De olho na Copa do Mundo a ser disputada no Brasil em 2014, o Juventus apresentou os planos de uma nova arena, com business center e cadeiras cobertas. Foi engavetado.
O Juventus começou o século com bons resultados no Campeonato Paulista. Em 2006, contando com jogadores cedidos pelo Pão de Açúcar Esporte Clube, foi oitavo colocado no Paulistão e se classificou para a Série C do Brasileiro. Depois, foi 13º no Paulista de 2007 e rebaixado em 2008.
Em 2007, veio o título da Copa Paulista em uma decisão apoteótica como o Linense. Na ida, em Lins, o Juventus venceu por 2 a 1. Na volta, o Linense vencia pelo mesmo placar na Rua Javari, até que Fausto fez 3 a 1 nos acréscimos do segundo tempo. Só que João Paulo fez 3 a 2 no apagar das luzes. Como jogava pelo empate no placar agregado, o Juventus ficou com a taça.
Desde o rebaixamento em 2008, no entanto, o Juventus não volta à elite do Campeonato Paulista. Em 100 anos, o clube disputou o Paulistão em 71 ocasiões – é o sexto colocado na lista de quem mais vezes disputou o torneio. Nada mal, né?
Ainda no século XXI, a Rua Javari ganhou um status de resistência. Em jogos no estádio, é comum ver faixas com a mensagem “ódio eterno ao futebol moderno” em meio à torcida Setor 2.
Esse enfrentamento ajudou a conservar o clima nostálgico no local. Para ver um jogo do Juventus, você só precisa chegar, comprar um ingresso e escolher um lugar – geralmente no cimento das arquibancadas. Sem necessidade de programa de sócio-torcedor em dia ou algo do tipo. Os preços são convidativos.
Com isso, os jogos do Juventus passaram a atrair muito público que nem sempre é ligado ao futebol. Uma galera com uma pegada mais turística, que vai ao estádio conhecer os populares cannoli e postar fotos em redes sociais.
Enfim, uma situação que divide opiniões.
Falando em cultura vintage, o Juventus chegou à 2024 com uma novidade: para disputar a Série A-2 no ano em que completa 100 anos, o clube ganhou uma camisa especial. Fabricada pela Kappa, a peça tem como principal atrativo o patrocínio da Consul, que optou por não expor a marca na peça para manter o tom clássico.
No campeonato em si, o time oscilou, mas conseguiu sua vaga entre os oito primeiros colocados na reta final da primeira fase. Assim, foi às quartas de final para enfrentar a Ferroviária e avançou. No entanto, o acesso no ano do centenário bateu na trave: diante do Velo Clube, perdeu por 1 a 0 em casa e empatou por 0 a 0 em Rio Claro.
(Imagem: CA Juventus)