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·06 de junho de 2025

Paços, o retrato da quase queda à Liga 3: «A pior pressão que há no futebol»

Imagem do artigo:Paços, o retrato da quase queda à Liga 3: «A pior pressão que há no futebol»

O apito final de 2024/25 soou no Estádio Capital do Móvel com o Paços de Ferreira a garantir a permanência na Liga 2, no playoff frente ao Belenenses. Após um 5.º lugar na temporada passada, o que parecia ser uma época para consolidar tornou-se numa campanha marcada por instabilidade, mudanças internas e memórias, cada vez mais distantes, de um passado virtuoso.

Apesar de não ser um clube de grande dimensão, o Paços já conquistou um histórico terceiro lugar na Primeira Liga e pisou palcos europeus, mas agora, em 2024/25, lutou até ao fim para não cair à Liga 3.


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A formação pacense nem sempre esteve marcada por esta instabilidade. Quando se faz uma retrospetiva daquilo que é o Paços, os tempos de glória do clube surgem de forma inevitável.

Filipe Anunciação é sinónimo do Paços de Ferreira e desses anos memoráveis. O ex-jogador foi uma das figuras na histórica época do 3.º lugar em 2012/13 e pertenceu também ao plantel da primeira ida à Liga dos Campeões, em 2013/14. Em conversa com o zerozero, o ex-jogador falou dessas épocas douradas do clube e do estado atual da formação pacense.

Os anos dourados: quando a Mata Real sonhou alto

Na época 2012/13, o Paços de Ferreira, orientado por Paulo Fonseca, protagonizou uma das maiores surpresas do futebol português, ao terminar o campeonato na terceira posição, apenas atrás de Benfica e Porto. A juntar a isso, uma presença nas meias-finais da Taça de Portugal.

«Uma época em que fizemos coisas que ninguém imaginaria. No início da época, se nos dissessem que íamos terminar em terceiro lugar, diríamos que era brincadeira. O que é certo é que o mister Paulo Fonseca conseguiu criar um grupo fantástico e, principalmente em campo, transmitimos muita qualidade de jogo. Conseguimos com todo o mérito esse terceiro lugar histórico», recorda-nos Filipe Anunciação.

«Tínhamos um grupo muito unido, um grupo muito trabalhador. Não era só a equipa técnica nem só os jogadores, era todo o staff, toda a direção. Estava toda a gente focada para que as coisas corressem realmente pelo melhor. É lógico que não pensávamos em chegar ao terceiro lugar, portanto, fizemos uma boa época, com qualidade e as coisas foram desenrolando, até que chegou a um ponto em que acreditamos que era possível. Lutámos e conseguimos», salientou em relação a essa temporada.

2013/14: do sonho europeu ao choque com a realidade

Na temporada seguinte, o sonho europeu esbarrou com a dura realidade. Os momentos de glória da época anterior pareciam não ter efeito naquela época, que estava marcada por vulnerabilidade na equipa.

No playoff da Liga dos Campeões, o equipa da capital do móvel defrontou o Zenit e foi derrotada por 1-4 em casa e 4-2 fora. Com estas derrotas, a equipa "caiu" para a fase de grupos da Europa League onde enfrentou o Dnipro (Ucrânia), Pandurii (Roménia) e a Fiorentina (Itália).

O Paços tentou, mas não conseguiu vencer nenhum dos seis jogos. Para Anunciação, estes momentos serviram para o clube melhorar e evoluir: «Penso que foram essas experiências que fizeram com que o clube e o grupo evoluíssem. Porque é através desses momentos que conseguimos melhorar, conseguimos crescer, quer como jogadores, quer como pessoas.»

No campeonato a equipa também se mostrou frágil. Com três treinadores em toda a época, - Henrique Calisto, Jorge Costa e Costinha - os pacenses terminaram num preocupante 15.º lugar, que lhes deu acesso ao playoff de manutenção. Frente ao CD Aves - quarto classificado da Liga 2 -, a formação de Paços de Ferreira mostrou-se superior e conseguiu assim carimbar a permanência na elite do futebol português.

A montanha-russa dos anos seguintes

Entre 2014 e 2017, o Paços viveu uma fase de estabilidade, tendo selado sempre o campeonato no meio da tabela - 8.º, 7.º e 13.º. No entanto, em 2017/18, os pacenses voltaram a sentir o sabor da dura realidade. A equipa, que somou somente 30 pontos - oito vitórias, dez empates e 21 derrotas -, desceu à II Liga, apenas quatros anos depois de ter atuado nos grandes palcos da Europa. Apesar da descida, os castores não desanimaram e, logo na época seguinte, venceram o campeonato da II divisão e alcançaram de novo a I Liga.

Em 2020/21, voltaram a viver-se momentos positivos na capital do móvel. Com Pepa no comando, a equipa terminou em 5.º lugar e garantiu assim presença na 3.ª pré-eliminatória da primeira edição da Conference League. O espírito resiliente parecia estar de regresso.

2021/22: a última grande noite europeia

Na Conference League, o Paços voltou a sonhar. Na 3.ª pré- eliminatória afastou o Larne - 4-0 em casa e 1-0 fora - e apurou-se para o playoff de qualificação. Pela frente estava o Tottenham de Nuno Espírito Santo. Na capital do móvel, o Paços venceu por 1-0 com um golo de Lucas Silva, porém, em Londres, o clube inglês impôs-se à equipa de Jorge Simão (3-0) e acabou com o sonho pacense.

A temporada 2022/23 voltou a marcar o clube pacense pela negativa, após um 17.º lugar, a equipa desceu à Liga 2.  Um desfecho «muito triste» para Filipe Anunciação, com a crença que o clube «tudo fez para que as coisas não tivessem este rumo».

2024/25: uma época agitada marcada pela instabilidade

A temporada de 2024/25 foi, talvez, a mais instável da história recente do clube. Com três treinadores em toda a época e várias mexidas no plantel, a equipa registou 11 vitórias, seis empates e 21 derrotas. Estes resultados deixaram a equipa em zona de playoff. O adversário no tudo ou nada foi o Belenenses e, na primeira mão, em Belém, os castores perderam por 2-1, já no jogo decisivo, no Capital do Móvel o Paços venceu por 2-0, garantindo assim a permanência.

«São momentos a que o clube já não estava minimamente habituado, estava habituado a outro tipo de pressão, uma pressão mais positiva, e esta pressão negativa, esta pressão de lutar para não descer de divisão é de facto o pior que podemos encontrar no futebol», confessa Anunciação.

Para além dos escassos resultados em campo, o clube passava também por muitas alterações na sua estrutura. E a instabilidade dentro e fora de campo era, cada vez mais, algo notório.

Um dos mais impactantes nessa turbulência foi a partida, em casa, frente ao Académico. Antunes, um dos jogadores mais experientes do plantel, mostrou-se visivelmente afetado com comentários da bancada, tendo mesmo abandonado o relvado, ao intervalo, em lágrimas.

A época ficou ainda marcada por uma mudança na presidência. Rui Miguel Abreu assumiu o lugar de Paulo Meneses, encerrando um ciclo de mais de 10 anos.

Ao mesmo tempo, tudo indicava que iria começar uma nova era no Paços de Ferreira, numa parceria com o Celta de Vigo e o Independiente del Valle, que representaria o investimento necessário para que o Paços deixasse de ser uma SDUQ e passasse a ser uma SAD, hipótese que não se concretizou.

Entre tristezas em campo, mudanças na presidência e investimentos não confirmados, o Paços tentou sobreviver ao caos dos maus resultados com muitos desafios.

«Às vezes tomam-se decisões a pensar que são as melhores, com a certeza de que aquilo vai ser o melhor para o clube, mas infelizmente por alguma razão as coisas não correm como desejamos. Tenho a certeza de que quem passou por isto fez de tudo para que as coisas tivessem corrido melhor», comentou Filipe Anunciação.

Atualmente, Filipe Anunciação não tem ligação a nenhum clube. Depois de ter sido treinador adjunto no Paços de Ferreira e em várias equipas da I Liga, rumou ao Egito, onde integrou a equipa técnica do Pyramids FC.

Nesses anos em África, apesar da distância, o técnico procurou sempre «acompanhar o futebol português» e em particular os clubes que tinha «um carinho especial», como é o caso do Paços de Ferreira.

Em relação ao futuro do clube e à ambição de voltar aos grandes palcos do futebol português, o ex-jogador afirma que: «Chegar ao topo dá muito trabalho e leva muito tempo, portanto não há outro caminho a não ser trabalhar. Tenho a certeza que o clube tem ambições de voltar novamente à I Liga e tenho a certeza que vai conseguir. Vai ser uma questão de tempo para o clube voltar à I Liga e conseguir coisas bonitas».

O Paços de Ferreira é hoje um clube que junta memórias históricas a um presente mais frágil. De jogos com o Tottenham e Zenit, a partidas de sobrevivência no futebol profissional.

Depois do susto, o Mundo Amarelo vai voltar a sorrir?

*por Tânia Melo

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