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·25 de julho de 2020
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Técnico disciplinador e linha dura, Jorge Jesus gosta que suas equipes atuem com uma posse de bola agressiva e com uma defesa sincronizada, sempre alta. Paizão de seu elenco, seja para recriminar ou apoiar, o Mister deixa sua marca por onde passa. Nesse sentido, eternizado na história do Flamengo, o treinador completa mais um ano de vida nesta sexta-feira (24). Dessa forma, a Coluna Parabéns ao Craque vem homenagear esse grande vencedor por toda sua trajetória e superação.
De antemão, Jorge Fernando Pinheiro de Jesus nasceu no dia 24 de julho de 1954, na cidade de Amadora, em Portugal. Simultaneamente, despertou para a vocação ainda criança, no qual transitava pelas ruas da região periférica em que morava com a bola nos pés. Em outras palavras, seu grande influenciador era o pai, ex-atacante, Virgolino António de Jesus, falecido em 2017, aos 92 anos.
Nesse sentido, peça fundamental para entender a obsessão do filho pelo trabalho árduo no futebol, Jesus tinha em casa o exemplo de um campeão nacional, mas que precisava trabalhar porque não havia enriquecido. Como o futebol era um risco, o técnico começou a seguir os caminhos do pai, mas como operário.
Dessa forma, trabalhavam em uma empresa de cabos elétricos. Aprendiz de soldador, acordava às 6h para procurar cobre e metal. Vendia o ferro-velho, estudava e dava os primeiros chutes no Estrela da Amadora. Estafado, uma noite caiu de cara no prato de sopa no jantar da família. O pai, portanto, deu um conselho: Se optasse exclusivamente pelo futebol, só com muito trabalho venceria. De acordo com essas palavras, surgiu um workaholic, capaz de fazer de tudo pelo desejo de crescer na vida e ser reconhecido por mudar vidas e alçar voos inimagináveis, por meio do esporte que ama.
Virgolino de Jesus transmitiu ao filho a paixão que o movia. Nesse sentido, Jesus iniciou a carreira como jogador de futebol, ingressando nos juniores do Estrela da Amadora na época 1970/71. Entretanto, representou ainda equipes da 1ª Divisão como Belenenses, União de Leiria, Vitória de Setúbal, Farense e Sporting (entre 1973 e 1976). Passou igualmente por equipes da 2ª Divisão como o clube em que iniciou a carreira, Riopele e Juventude de Évora.
Aos 35 anos, prestes a terminar a carreira, o jogador estava no modesto Almancilense da 3ª Divisão. O futuro parecia sombrio e no entanto, em certo domingo, em pleno jogo a contar para a série F do campeonato, houve alguém que reparou naquele médio já entradote que mais parecia o dono da bola.
Dessa forma, o Amora estava a golear o time de Jorge Jesus por 3 x 0, mas ao intervalo, o médio e poderoso atleta entrou em campo e revolucionou a estratégia da equipa algarvia que empatou por 3 x 3 e só não ganhou porque um defesa do adversário retirou a bola em cima da linha de gol. Em suma, de tão atribulado desafio, os dirigentes do Amora decidiram convidar Jesus para treinar o seu clube. No entanto, após alguns dias de reflexão, o convite fora aceito.
Embora tenha percorrido os gramados como jogador, Jorge Jesus nem sequer se aproximou do prestígio que tem atualmente como técnico. Contudo, pendurou as chuteiras aos 35 anos para imediatamente tornar-se treinador. E, em pouco tempo, tomou gosto por fazer suas equipes conquistarem acessos. Nesse sentido, o primeiro clube que treinou foi o Amora, tendo-se sagrado campeão nacional da 3ª Divisão.
Logo depois, orientou o Felgueiras, no qual conseguiu atrair holofotes. Dessa forma, foi sob o comando dele, por exemplo, que o clube ganhou o direito de jogar a elite do futebol português pela primeira vez em sua história, em 1995. Todavia, os seus serviços foram recrutados sucessivamente por Estrela da Amadora, Vitória de Setúbal e Vitória de Guimarães (todos no escalão principal).
Acontece que, antes do início daquela temporada, Jesus foi à Barcelona vivenciar uma espécie de estágio com ninguém menos que Johan Cruyff. E voltou para a terrinha com a mente fervilhando de ideias, ansioso para colocar em prática os conceitos que aprendera. Foi dessa maneira que o Felgueiras surpreendeu na primeira metade do Campeonato Português. Entretanto, no segundo turno do campeonato, com os adversários vacinados contra a tática, o time comandado por Jorge Jesus engatou uma série de derrotas e não conseguiu evitar o rebaixamento.
Não é exagero afirmar que Jorge Jesus é um dos maiores treinadores da história do Benfica. No entanto, com o passado ligado diretamente ao Sporting, precisou driblar a desconfiança com seu perfil um tanto quanto inflexível.
O treinador chegou aos Encarnados em 2009, período em que o Porto dava as cartas no futebol português: àquela altura, era o atual tetracampeão nacional. Com jogadores como Luisão, Di María, Aimar, Saviola e Alan Kardec, sofreu apenas duas derrotas durante o campeonato inteiro e encerrou a hegemonia do rival com um título logo na sua primeira temporada.
Nos três anos seguintes, no entanto, o Porto retomou o caminho das vitórias e faturou a liga. Em 2013, com o fatídico gol do brasileiro Kelvin, no último lance na vitória do Porto por 2 x 1 sobre o Benfica na penúltima rodada do campeonato, que levou Jorge Jesus a ajoelhar-se tamanha a incredulidade. Os benfiquistas ficaram com o vice-campeonato com um ponto atrás.
De contrato renovado, Jorge Jesus pavimentou a estrada rumo à glória a partir da temporada 2013/14. Quando engatou um número considerável de vitórias, profetizou:
“O meu conhecimento e sensibilidade dizem-me que o Benfica está próximo de ter a hegemonia do futebol português”.
E não deu outra. Os Encarnados voltaram a conquistar o Campeonato Português naquele ano sob a batuta do treinador, que, por sua vez, estabeleceu uma porção de recordes, como o de equipe com o maior número de partidas consecutivas sem sofrer gols em casa (918 minutos). Chegou ainda a mais uma final da Liga Europa, dessa vez sendo derrotado pelo Sevilla nos pênaltis.
No ano seguinte, faturou o bicampeonato português, o que não acontecia com o Benfica fazia três décadas. Tornou-se o treinador mais longevo no comando do time, com seis temporadas e com o maior número de vitórias (225) e mais títulos (10). Só que em junho de 2015, acabou acertando com o Sporting. Era mais fácil ter apunhalado o coração do torcedor encarnado que levou o sentimento de amor ao extremo do que chamam de traição.
Após conquistar a Supertaça 2015 com o Sporting, o técnico caiu nas graças do torcedor Rubro-Negro e em Junho de 2019, a contratação foi confirmada pelo presidente do Flamengo, Rodolfo Landim. Nesse sentido, os milagres de Jesus começaram a acontecer. Dessa forma, em outubro, nas semi-finais da Copa Libertadores contra o Grêmio, Jorge Jesus deu uma “aula de tática” no técnico gremista, Renato Gaúcho. Assim, levou o clube da Gávea a final da competição depois de 38 anos.
Um título da Copa Libertadores, um do Campeonato Brasileiro, uma Recopa Sul-Americana, uma Supercopa do Brasil e um Campeonato Carioca, sempre com um estilo de jogo ofensivo e encantador. Em pouco mais de um ano, Jorge Jesus colecionou tantas façanhas no Flamengo que já pode ser considerado um dos maiores treinadores da história Rubro-Negra.
Dentro de campo, o estilo de jogo induzido pelo técnico, era o que mais chamava atenção. Nesse sentido, os jogadores estavam sempre marcando alto e sufocando os adversários. Todavia, apesar do enorme sucesso no clube carioca, Jesus decidiu retornar ao Benfica.
Entretanto, apesar da saída inesperada ter causado decepção nos torcedores, indiciou, sobretudo, o carinho, respeito e gratidão da torcida Rubro-negra nas redes sociais para com o Mister. No entanto, o legado que Jesus deixa na Gávea “ficou marcado na história”, como diz a canção “Em dezembro de 81”, que virou hit no Maracanã em 2019.
Em suma, todo trabalho, persistência e vontade de crescer fez de Jorge Jesus um dos grandes entendedores do mundo futebolístico. Sem papas na língua, de postura peculiar e espírito vencedor, o técnico é mais um exemplo daqueles que sonham, mas que acima disso, fazem acontecer. “Olê, olê, olê, olê. Mister, mister”
Foto Destaque: Divulgação/Twitter/Flamengo