Trivela
·12 de novembro de 2020
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·12 de novembro de 2020
David Marshall pulou ao canto esquerdo e espalmou o pênalti cobrado por Aleksandr Mitrovic. E hesitou. Não comemorou. Minha leitura labial em escocês está um pouco enferrujada, mas pareceu questionar se havia realmente acabado. Se aquela defesa realmente significava o que ele achava que significava. Sim, David Marshall, pela primeira vez em 23 anos a Escócia estará em uma grande competição internacional. Confirmou vaga na Eurocopa do ano que vem ao derrotar a Sérvia, na repescagem, com empate por 1 a 1 com bola rolando e vitória por 5 a 4 nos pênaltis.
Era compreensível a postura de descrédito do goleiro de 35 anos do Derby County. Quando ele começou carreira, pelo Celtic, em 2002, a Escócia não havia se classificado para a Eurocopa da Bélgica e da Holanda ou para a Copa do Mundo da Coreia do Sul e do Japão. Mas disputara o Mundial da França, em 1998, e não era tão incomum que pulasse alguns torneios.
O problema é que o jejum chegou longe demais. Apesar de sempre ter alguns jogadores em clubes importantes, embora nunca com a qualidade de Kenny Dalglish ou Graeme Souness, da geração de ouro dos anos oitenta, não se classificou para nenhuma grande competição a partir da Copa do Mundo de 1998. A última Euro era a de 1996. No intervalo, adquiriu a fama de ser eliminada com contornos dramáticos, como parecia que aconteceria mais uma vez.
A melhor maneira de descrever o primeiro tempo é como um impasse: dois times com muita vontade de fazer alguma coisa, mas sem se arriscar demais ou realmente alguma ideia do que fazer. Entraram com três zagueiros, formações espelhadas. No caso da Escócia, é uma maneira de encaixar os seus dois pés esquerdos: Kieran Tierney pelo lado esquerdo da zaga, Andrew Robertson como ala.
A Sérvia ficou um pouco mais com a bola. Tem mais qualidade no meio-campo, com Milinkovic-Savic e Dusan Tadic. A Escócia estava feliz de esperar alguma oportunidade para reduzir a distância ao gol adversário. Como em um lançamento de Tierney para um chute fraco de Ryan Christie ou uma cobrança de falta do próprio Christie, sem problemas para o goleiro Pedrag Rajkovic.
A única chance razoável de gol em uma jogada bem trabalhada foi da Sérvia, aos 23 minutos, quando alguns dos seus talentos conseguiram se encontrar. Tadic fez a jogada pela direita e lançou na área para Aleksandr Mitrovic fazer o pivô. Bola rolada ao semi-círculo, aonde Sasa Lukic chegou batendo colocado de perna direita, bem perto da trave de David Marshall.
A Escócia respondeu com outra bola longa. Houve uma dividida pelo alto, depois outra no chão. A sobra ficou com Stephen O’Donnell, que abriu na esquerda para McGinn. O jogador do Aston Villa invadiu a área pela esquerda, mas não conseguiu chutar direito. Bateu fraco e em cima do goleiro.
Do impasse fomos ao domínio da Escócia. Marcou o primeiro gol da partida aos sete minutos, quando McGregor interceptou a saída de bola da Sérvia e deixou com Ryan Christie. De costas para o gol, o atacante do Celtic girou e bateu rasteiro, no canto. Ele se tornou a principal arma dos visitantes. Deixou de lado com McGregor, que bateu forte, perto da trave, e depois fez boa jogada individual antes de chutar colocado, com muito perigo.
A Escócia era, de longe, o melhor time em campo. A Sérvia não conseguia chegar, não conseguia criar, mal conseguia ameaçar. Uma cabeçada de Milinkovic-Savic na segunda trave foi o mais próximo que chegou do gol de empate. Acontece que, entre as seleções, poucas têm mais inclinação à tragédia do que a escocesa. Os torcedores estão calejados. Sabem que uma hora ela virá. E aos 45 minutos do segundo tempo, Luka Jovic subiu completamente livre para desviar a cobrança de escanteio de Mladenovic e empatar a peleja.
A prorrogação poderia ter sido deixada de lado. Mais empolgada, a Sérvia levou perigo na primeira metade com alguns chutes cruzados de fora da área, que até passaram perto da trave. E teve outro escanteio no minuto final para tentar o segundo gol salvador, mas, desta vez, os escoceses lembraram de marcar. A disputa de pênaltis pela vaga na Eurocopa, porém, foi inevitável.
Os nove primeiros batedores converteram suas cobranças, embora não tenham batido tão bem. Os goleiros dos dois lados acertaram o canto e chegaram a tocar na bola em algumas delas. A Escócia havia começado a disputa e abriu 5 a 4 quando Kenny McLean acertou o seu chute. A responsabilidade caiu nas costas de Mitrovic. As hipóteses eram: fazer para manter a Sérvia na briga ou errar e classificar a Escócia.
David Marshall precisou de alguns segundos para perceber qual das duas havia acontecido.
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