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·20 de outubro de 2020
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A Academia Alemã de Cultura do Futebol concedeu a Daniel Thioune, atualmente no Hamburgo, o prêmio de Citação de Futebol do Ano, entregue desde 2006. Então técnico do Osnabrück, Thioune saiu em defesa de Bakery Jatta, jogador refugiado do Hamburgo que teve sua identidade colocada em xeque em agosto de 2019.
Questionado se o Osnabrück iria à justiça solicitar pontos caso sua equipe perdesse para o Hamburgo, como fizeram outras equipes, Thioune respondeu: "Se não consegue marcar no HSV, você não deve tentar obter uma vantagem nas costas de um refugiado que não fez mal a ninguém, mas sim olhar para seus próprios erros".
A HISTÓRIA DE BAKERY JATTA
Jatta chegou à Alemanha em 2015, sozinho, aos 17 anos, como refugiado de Gâmbia, país do continente Africano. Quando chegou ao país, Jatta não tinha planos de se tornar um jogador profissional de futebol. O gambiano queria apenas uma vida melhor, como contou ao jornal Hamburgo Morgenpost.
Estando na Alemanha, o jovem recebeu uma oportunidade numa instituição educacional, onde começou a demonstrar talento para o futebol, chamando atenção de Werder Bremen e Hamburgo, que lhe deu a chance de fazer um teste para ingressar nas categorias de base, em janeiro de 2016.
Bakery conseguiu a vaga e passou o ano atuando com as camadas de jovens dos Dinos. Em 16 abril de 2017, num derby contra o Werder Bremen pela Bundesliga, saiu do banco para fazer a sua estreia profissional e se tornar o primeiro refugiado a jogar na elite do futebol alemão. Atuou 7 minutos na ocasião.
Pouco mais de 2 anos depois após estrear pelo HSV e já estar consolidado na tradicional equipe, a sua identidade e, até mesmo sua idade, foi colocada em xeque por uma reportagem do SportBild. A matéria do jornal alemão alegava que Jatta estaria usando um nome falso e teria mentido sua idade para ingressar na Alemanha como menor de idade - o que lhe daria benefícios por não ter atingido a maioridade.
Segundo o SportBild, o verdadeiro nome de Bakery Jatta seria Bakery Daffeh e seu nascimento teria acontecido em 6 de novembro de 1995 e não em 6 de junho de 1998. O jornal também alegou que Bakery já era jogador de futebol quando chegou na Alemanha e teria representado a Seleção Sub-20 de Gambia, além de ter atuado por outras equipes do continente africano e realizado teste em uma equipe italiana.
A revista Der Spiegel reportou, pouco tempo depois da publicação do SportBild, que, à época que o gambiano foi contratado pelo HSV, o clube teria manifestado dúvidas sobre sua idade e que um funcionário tinha conhecimento da história de Bakery Daffeh, mas não obteve evidências de que Jatta e Daffeh seriam a mesma pessoa.
O caso foi investigado pelo Instituto Federal de Migração de Refugiados e pelas autoridades locais de Hamburgo, mas nenhum dos dois conseguiram comprovar qual era a real identidade de Jatta.
A temporada 2019/20 já estava em andamento quando tudo isso aconteceu. O Hamburgo já havia jogado as quatro primeiras rodadas da 2. Bundesliga e batido Nürnberg, Bochum e Karlsruher, que foram aos tribunais reivindicar os pontos dos jogos por conta da presença do gambiano nas partidas. No jogo contra o Karlsruher, pela quarta rodada, Jatta ainda sofreu ataques xenofóbicos da torcida do KSC.
Dias após a partida contra o KSC, o jornal Hamburger Abendblatt divulgou uma nova matéria sobre o caso. A reportagem mencionava que uma das testemunhas usadas pelo SportBild negava que Jatta e Daffeh fossem a mesma pessoa, refutando as afirmações do jornal.
Em 30 de agosto de 2019, o Hamburgo conseguiu obter a certidão de nascimento do jogador, bem como seu passaporte e uma declaração de um escrivão do Ministério de Relações Exteriores da Gambia, o que levou a Prefeitura de Hamburgo a aprovar seus documentos e a garantir que não existiam provas o suficiente de uma fraude para que as investigações continuassem a ser feitas. Os clubes que haviam entrado com recurso contra o HSV retiraram as ações após o parecer da prefeitura de Hamburgo.
O gambiano continuou atuando normalmente com a camisa do HSV após a constatação de que as alegações do SportBild não eram verdadeiras e, em seu Instagram, fez questão de agradecer o apoio que recebeu.
Na quinta rodada da 2. Bundesliga, contra o Hannover, Bakery marcou um dos três gols da vitória do HSV no Volksparkstadion e, além de ser abraçado por seus companheiros, teve seu nome gritado em alto e bom-tom por todo o estádio e, quando substituído, foi ovacionado. O Hannover, ao contrário do que fizeram os outros times derrotados pelos Dinos, ressaltou que não entraria com recurso "pois a identidade do jogador não tinha influência alguma na derrota, que só aconteceu porque foram inferiores dentro de campo". Já na rodada seguinte, num derby contra o St. Pauli, Jatta recebeu apoio de ambas torcidas, que ergueram faixas com mensagens para o jogador.
Mas... as investigações continuaram. O próprio SportBild voltou a reportar, em 19 de setembro, que Jatta havia informado um endereço de e-mail contendo o nome de Daffeh às autoridades de Bremen, em 2015, quando chegou no país. "A descoberta" do jornal fez com que a Polícia de Bremen buscasse informações e foram encontradas inconsistências em documentos preenchidos pelo jogador, ainda em 2015. Mas, semanas depois, um promotor da cidade anunciou que não havia mais procedimentos a serem tomados e que a investigação deveria ser encerrada.
Porém, em julho deste ano, o jogador teve sua sua casa revistada pela polícia sob a suspeita de violação da lei de residência alemã por conta das suspeitas de sua identidade. Segundo o promotor de Hamburgo, a revista constatou que Jatta teve contato com pessoas ligadas a Daffeh e o jogador teve seu celular e outro dispositivos confiscados.
Até agora, não houve nenhum novo desdobramento. O HSV se posicionou favorável ao seu jogador: "Continuamos a confiar nas decisões oficiais que confirmaram a identidade de nosso jogador e o continuaremos a apoiar".
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