Calciopédia
·02 de fevereiro de 2022
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Não faltam exemplos de jogadores de futebol que tiveram, em igual medida, o talento com a bola e o azar da propensão às lesões. Multicampeão por Stuttgart, Real Madrid, Juventus e seleção alemã, o volante Sami Khedira foi um deles. Apesar de ter sido um dos melhores de sua geração em seu ofício, o meio-campista se viu obrigado a se aposentar precocemente por causa dos recorrentes problemas físicos.
Filho de mãe alemã e pai tunisiano, Sami nasceu em Stuttgart, no ano de 1987. Inspirado pelo futebol de Zinédine Zidane e Patrick Vieira, o garoto decidiu se tornar jogador e, em 1995, entrou para os juvenis do maior clube local. Sua profissionalização ocorreu em 2004, quando já brilhava na base e, inclusive, nas seleções de garotos da Alemanha.
A escola do Stuttgart transformou Khedira num volante completo. Dinâmico, técnico, forte fisicamente e com grande visão de jogo, Sami construía e destruía jogadas com a mesma facilidade. Para completar, tinha uma boa capacidade de finalizar de média distância e, por costumar se posicionar com eficiência e ter uma altura razoável (1,89m), marcava muitos gols de cabeça. Foi com essas características que estreou pelo time reserva dos suábios, na terceira divisão germânica.
Sami teve a oportunidade de jogar pela equipe principal dos Roten a partir da temporada 2006-07. E não decepcionou: se tornou titular rapidamente e contribuiu para que o Stuttgart se tornasse campeão alemão pela primeira vez em 15 anos. Khedira, que atuava mais avançado na época, chegou a anotar um dos gols na partida que definiu título – vitória por 2 a 1 sobre o Energie Cottbus. Depois, o seu time ainda foi vice da copa nacional.
Absolutamente vitorioso, Khedira repetiu, na Juventus, os momentos de glória que obtivera por Stuttgart, Real Madrid e seleção alemã (Getty)
Nos três anos seguintes, o Stuttgart não repetiu a dose, mas continuou a fazer boas campanhas e a se classificar para torneios continentais. Khedira, por sua vez, ganhou mais minutos e passou a atuar como meia central, embora mantivesse uma boa chegada ao ataque – como provam os oito gols marcados em 2008-09. Ao fim daquela temporada, Sami foi o capitão da Alemanha no Europeu Sub-21 e, com três tentos, levou o time liderado pelo técnico Horst Hrubesch ao título, com direito a um 4 a 0 sob a Inglaterra na final.
Meses depois, Khedira estreou pela seleção principal da Alemanha em um amistoso contra a África do Sul, vencido pelos europeus por 2 a 0. Sami continuou a atuar bem pelo seu time e, em 2010, foi convocado para a Copa do Mundo. A lesão do cortado Michael Ballack fez com que o volante de origem tunisiana fosse titular, ao lado de Bastian Schweinsteiger, em todos os sete jogos feitos pelos germânicos. A Nationalelf foi a terceira colocada da competição e alcançou tal posto graças a seu camisa 6: o primeiro gol do jogador do Stuttgart pela equipe nacional foi o que definiu a vitória por 3 a 2 sobre o Uruguai.
Depois de ter feito uma boa Copa, Khedira se transferiu para o Real Madrid e assinou um contrato válido por cinco temporadas. Aos 23 anos, estava pronto para alçar voos mais altos e atingir o topo – o que viria a acontecer. Sami venceu tudo pelos merengues.
Até 2013, o alemão foi treinado por José Mourinho e, nesse triênio, viu o time faturar troféus em solo espanhol – Copa do Rei, La Liga e Supercopa da Espanha. Em 2011-12, Khedira anotou um dos gols da vitória do Real Madrid sobre o Barcelona, em pleno Camp Nou, ajudando os blancos a encaminharem o título nacional. Este tento também fez a equipe da capital se tornar a mais prolífica da história da competição, superando um feito dos próprios merengues, em 1989-90. No fim das contas, os madrilenhos balançarem as redes 121 vezes, ampliando bastante a marca anterior (107).
Foi no Real Madrid que Khedira passou a conviver com as lesões. Em 2010-11, sua primeira temporada pelo clube, o alemão teve alguns problemas musculares que, até aquele momento, eram incomuns em sua trajetória. Eles não chegaram a comprometer as suas atuações, mas anteciparam o calvário que viria a partir de 2013-14: naquela época, Sami rompeu os ligamentos cruzados do joelho num amistoso contra a Itália e ficou parado por seis meses. Seu corpo nunca mais foi o mesmo depois daquilo, embora ele tenha conseguido ajudar os merengues, já comandados por Carlo Ancelotti, a conquistarem a tão sonhada décima taça da Champions League. O volante disputou parte da decisão que opunha a sua equipe ao Atlético de Madrid.
Quando esteve bem fisicamente, o volante contribuiu de forma decisiva para a Juventus (Getty)
Após se recuperar da lesão ligamentar, Khedira pode defender a Alemanha na Copa do Mundo. Enquanto representava o Real Madrid, o volante se tornou um pilar da Nationalelf de Joachim Löw. Em 2012, já havia participado da Eurocopa, ajudado os germânicos a atingirem as semifinais da competição (caíram para a Itália) e, por isso, sido eleito para a seleção do torneio. Dois anos depois, Sami foi titular no Mundial e marcou o quinto gol sobre o Brasil no histórico 7 a 1 das semis, em pleno Mineirão. O meio-campista ficou de fora da decisão por conta de um estiramento muscular que lhe acometeu no aquecimento, mas pode celebrar a conquista do tetracampeonato.
Khedira tinha qualidade, experiência e uma trajetória de muitos troféus levantados. Mas não tinha condicionamento físico adequado para entrar em campo com regularidade. Assim, a sua temporada 2014-15 foi melancólica – apesar de ter acrescentado os títulos da Supercopa Uefa e do Mundial de Clubes da Fifa a seu já recheado currículo. Lesões em sequência fizeram com que o alemão disputasse somente 17 partidas, sendo apenas três completas e duas delas pela Copa do Rei. A partir de meados de abril, quando ficou claro que o seu contrato com os merengues não seria renovado, Ancelotti deixou de relacioná-lo.
Em junho de 2015, Khedira foi anunciado como reforço, a custo zero, de uma Juventus sedenta pelo título da Champions League. Naquele momento, a diretoria bianconera, encabeçada por Andrea Agnelli, Giuseppe Marotta e Fabio Paratici, entendia que a busca desse objetivo passava por algumas apostas como aquela. Afinal, apesar dos problemas físicos, Sami tinha atributos que, de maneira inquestionável, agregariam valor ao elenco.
O começo da passagem do volante alemão pela Juventus foi tortuoso. Khedira se machucou na pré-temporada e deu início a uma sequência de problemas físicos – entre lesões musculares e repousos por precaução, Sami somou nove pausas ao longo de 2015-16, ficando indisponível para 23 partidas. Por outro lado, sempre que esteve apto para jogar, o camisa 6 teve um bom rendimento: estreou com um gol de cabeça sobre o Bologna e, com mais quatro tentos, ajudou a Velha Senhora a fazer uma bela campanha de recuperação, concluída com os títulos da Serie A e da Coppa Italia.
Depois de disputar mais uma boa Euro, ajudando a Alemanha a ser semifinalista continental em 2016, Khedira conseguiu ter uma sequência longa e positiva pela Juventus. Em 2016-17 e 2017-18, o volante quase não perdeu partidas por lesão e foi uma peça fundamental para que o time de Massimiliano Allegri tivesse equilíbrio e faturasse a dobradinha nacional mais duas vezes – além de um vice-campeonato da Champions League. Sami fez cinco gols na primeira temporada citada e nove na segunda. Entre suas vítimas, equipes importantes, como Fiorentina, Lazio, Milan e Napoli. Ele também anotou a única tripletta da carreira numa vitória por 6 a 2 contra a Udinese.
Entre 2016 e 2018, Khedira teve o seu ápice com a camisa da Juventus (Getty)
De junho de 2018 em diante, contudo, nada mais deu certo para Sami. Naquele verão europeu, o volante viajou para a Rússia no intuito de buscar o bicampeonato mundial pela Alemanha, mas a Nationalelf passou muito longe disso: foi eliminada na fase de grupos. A queda precoce, numa chave com México, Coreia do Sul e Suécia, marcou o fim de uma grande geração alemã e Khedira, um de seus expoentes, se aposentou da seleção. No total, ele fez 77 partidas e anotou sete gols por seu país.
Khedira teve o seu contato com a Juventus renovado até 2021, num movimento da diretoria para evitar que ele aceitasse uma proposta do Arsenal. No entanto, o negócio não foi bom para a Velha Senhora: com um salário de 6 milhões de euros anuais, Sami passou a ser cada vez menos utilizado. Afinal, voltou a conviver com lesões no joelho e nos adutores, e também teve de ficar parado por um mês devido a uma arritmia cardíaca. No frigir dos ovos, o alemão fez apenas 17 partidas em 2018-19 e 18 em 2019-20, oferecendo aporte irrisório aos dois últimos scudetti do histórico eneacampeonato bianconero.
Em 2020-21, a diretoria da Juventus tentou rescindir o contrato de forma antecipada com o volante, mas teve sua oferta recusada. Fora dos planos de Andrea Pirlo, Khedira jamais foi relacionado naquela campanha, mas só rompeu o vínculo com o clube no último dia do mercado de inverno, em 1º de fevereiro de 2021. Em seguida, assinou com o Hertha Berlim. Nove partidas e três meses e meio depois, anunciou a sua aposentadoria, aos 34 anos, devido à recorrência dos problemas físicos que lhe acometiam.
No fim das contas, Khedira será para sempre lembrado como um meio-campista que marcou uma geração, e que poderia ter sido ainda mais reconhecido se não fossem as muitas lesões que atrapalharam a sua continuidade. Em cinco anos e meio de Juventus, o alemão integrou um time histórico e, com 145 aparições, 21 gols e 14 assistências, contribuiu para a conquista de 11 títulos. Atualmente, Sami trabalha como comentarista e estuda para ser treinador, ao passo que dois de seus irmãos seguem no esporte: Denny, o mais velho, é empresário de jogadores; Rani, o caçula, é volante do Union Berlin.
Sami Khedira Nascimento: 4 de abril de 1987, em Stuttgart, Alemanha Posição: meio-campista Clubes: Stuttgart (2004-10), Real Madrid (2010-15), Juventus (2015-21) e Hertha Berlim (2021) Títulos: Bundesliga (2007), Europeu Sub-21 (2009), Copa do Rei (2011 e 2014), La Liga (2012), Supercopa da Espanha (2012), Champions League (2014), Copa do Mundo (2014), Supercopa Uefa (2014), Mundial de Clubes da Fifa (2014), Supercopa Italiana (2015, 2018 e 2020), Serie A (2016, 2017, 2018, 2019 e 2020) e Coppa Italia (2016, 2017 e 2018) Seleção alemã: 77 jogos e 7 gols