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·25 de setembro de 2021

Sandro Tovalieri ficou conhecido como um dos grandes andarilhos do futebol italiano

Imagem do artigo:Sandro Tovalieri ficou conhecido como um dos grandes andarilhos do futebol italiano

Enquanto Paulo Roberto Falcão, Bruno Conti, Carlo Ancelotti e Roberto Pruzzo levantavam o segundo scudetto da história da Roma, em 1983, uma geração extremamente promissora dos giallorrossi era formada. Nomes como o meia-atacante Giuseppe Giannini e o meio-campista Stefano Desideri brilhavam nas competições de base e davam vazão a um dos principais legados do presidente Dino Viola, que consolidou o setor juvenil capitolino como um dos melhores da Itália. Nesse mesmo contexto, um réptil se encontrava à espreita: o “cobra” Sandro Tovalieri. Revelado em Trigoria, o matador ficou conhecido por mudar de “pele” frequentemente.

Na temporada do scudetto, a equipe sub-19 da Roma também foi campeã da conceituada Copa Viareggio – uma preparação para o título do Campeonato Primavera, no ano seguinte. Destaque na base giallorossa, Tovalieri era descrito como “inteligente e exuberante na área” por Conti, eterno ídolo romanista. Apesar disso, não obteve espaço no time principal naquela campanha: o máximo que conseguiu foi sentar no banco de reservas durante uma partida contra o Genoa. Aos 18, o atacante nascido em Pomezia, cidade da região metropolitana da capital, estrearia profissionalmente em outras paragens.


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Para ganhar experiência, Sandro foi emprestado ao Pescara, na Serie B. Devido a seu talento, o atacante se tornou titular do time biancazzurro de maneira imediata – algo incomum para alguém de sua idade, especialmente naquela época – e foi o seu grande destaque. Tovalieri marcou 10 vezes para a equipe dos Abruzos, ficou no grupo de maiores artilheiros da competição e foi o artífice da sua permanência.

Mais maduro, no ano seguinte Tovalieri repetiu a dose com a camisa do Arezzo. Auxiliado por jogadores como Amedeo Carboni, Stefano Colantuono e Fabrizio Di Mauro, o atacante marcou 10 gols na campanha de manutenção do time na Serie B e ainda balançou as redes outras duas vezes na Coppa Italia. As duas temporadas lhe permitiram chegar à seleção sub-21 e também lhe abriram as portas da Roma, que decidiu mantê-lo na capital após o giro por empréstimo.

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Na Roma, um boa temporada não foi o bastante para que Tovalieri tivesse lugar garantido na equipe (La Roma)

Como o experiente Pruzzo era o titular do time sob o comando de Sven-Göran Eriksson e do brasileiro Angelo Sormani, Tovalieri estava ciente de que teria pouco espaço e que precisaria mostrar qualidade quando recebesse oportunidades. Sandro sempre teve muita personalidade e aproveitou a chance que teve logo no primeiros jogos da temporada, pela Coppa Italia. A fase de grupos da competição acontecia antes do pontapé inicial da Serie A e o atacante foi o grande destaque da Roma na chave 8: marcou cinco gols e foi capa de todos os jornais esportivos da capital por uma tripletta anotada sobre o Ascoli.

Dessa forma, o prata da casa começou a temporada no ofensivo onze inicial romanista, ao lado de Pruzzo, Giannini e Zbigniew Boniek. Para se adaptar aos companheiros, Tovalieri muitas vezes foi escalado aberto pelos flancos (principalmente o esquerdo) ou como segundo atacante, de modo que raramente desempenhou a sua função predileta, no comando do ataque. Pela Serie A, Sandro atuou em 22 partidas, sendo 14 como titular, e marcou apenas num empate contra o Napoli de Diego Maradona e em vitórias sobre Torino e Lecce. Seu show estava reservado à Coppa Italia.

A Roma, que disputou o título da Serie A até a penúltima rodada, quando uma derrota caseira para o Lecce entregou o scudetto para a Juventus, teve a chance de se redimir na copa. Após o fim do certame nacional, o torneio retornava com o mata-mata a partir das quartas de final e Tovalieri voltou a deixar a sua marca: o atacante anotou um gol contra a Inter, nesta fase; balançou as redes da Fiorentina nas semis e, no jogo de ida da decisão, contra a Sampdoria, também guardou um. Sandro terminou a competição como vice-artilheiro, com oito tentos, e foi o principal nome da conquista da taça pela Loba.

Embora tenha sido importante para a Roma, Tovalieri não permaneceu na capital. Os giallorossi receberam uma proposta pelo atacante e não fizeram força para segurá-lo – ao mesmo tempo que o próprio Sandro também desejava ter mais minutos em campo. Sendo assim, seu próximo destino foi o Avellino, clube em que teria a missão de substituir Ramón Díaz.

No sul da Itália, dividiu as responsabilidades ofensivas com Dirceu, Angelo Alessio e Walter Schachner, mas acabou sendo menos utilizado pelo técnico brasileiro Luís Vinício do que na própria Roma. Em 24 jogos, anotou seis gols, sendo três no Campeonato Italiano. De qualquer forma, o atacante ajudou os irpini a repetirem a sua melhor colocação no torneio (8º lugar), naquela que seria a penúltima participação do Avellino na elite.

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No Bari, o Cobra viveu o seu auge, com 40 gols marcados em 86 partidas (Wikipedia)

No ano seguinte, Sandro voltou ao Arezzo para a disputa da segunda divisão. Buscando reencontrar a verve goleadora num clube em que já havia feito boa atuações, Tovalieri acabou naufragando: rompeu os ligamentos cruzados do joelho e perdeu parte considerável da temporada 1987-88. Para piorar, o time foi rebaixado à Serie C1. Depois de mais de 12 meses se recuperando, o atacante voltou à plena forma, colaborou com gols e terminou 1989-90 como artilheiro da equipe, mas seus préstimos não foram suficientes para o retorno dos amaranto à categoria.

No verão de 1990, Tovalieri já tinha 25 anos e era possível crer que seu bonde havia passado. No entanto, a década marcaria a sua consagração. A sua sorte mudou quando o Ancona o buscou na terceirona e lhe transformou no seu centroavante: após 13 gols na Serie B de 1990-91, Sandro anotou nove no certame seguinte e levou os dorici à elite pela primeira vez na história. Depois de ser artilheiro dos marquesãos neste biênio, o atacante chegou a acertar com a Ternana, mas o time da Úmbria estava envolto à problemas financeiros e não conseguiu pagar pelo seu passe. O imbróglio lhe permitiu fechar com o Bari, clube em que viraria ídolo.

Foi justamente no Bari que Tovalieri ganhou o apelido de Cobra: esperto, oportunista e, às vezes, imperceptível para o zagueiros, o centroavante passou a anotar gols a rodo. O primeiro ano na Apúlia foi o mais difícil, já que o time biancorosso acabara de ser rebaixado para a Serie B e o técnico brasileiro Sebastião Lazaroni não foi capaz de fazer um bom trabalho na metade inicial da temporada 1992-93. As chances de acesso foram comprometidas, mas Sandro – mesmo passando por problemas físicos – fez uma boa dupla de ataque com Igor Protti: os dois dividiram a artilharia dos galletti, com nove tentos.

No ano seguinte, o Cobra foi fundamental no retorno do Bari à máxima divisão do futebol italiano. Na campanha do vice-campeonato dos biancorossi, foi o artilheiro do time, com 14 tentos, e também ocupou o sexto maior goleador da Serie B. Em 1994-95, viveu a glória na elite e foi um dos comandantes do “trenzinho” barês, ao lado do colombiano Miguel Ángel Guerrero.

O time treinado por Giuseppe Materazzi fez uma ótima campanha, para os seus padrões, e terminou na 12ª colocação. Entre os grandes resultados dos biancorossi, destacam-se os triunfos fora de casa sobre Inter e Lazio. E, claro, a famosa comemoração do trenzinho: quando balançavam as redes adversárias, os jogadores do Bari faziam uma fila e engatinhavam, imitando vagões de um trem puxados por uma locomotiva. Foi esta a celebração que embalou o gol anotado por Tovalieri sobre os nerazzurri, em San Siro. Com 17 tentos, o Cobra foi o quinto maior artilheiro da Serie A, empatado com nomes como Gianluca Vialli (Juventus), Marco Simone (Milan) e Giuseppe Signori (Lazio).

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Tovalieri teve grandes momentos na Sardenha, mas não conseguiu impedir que o Cagliari amargasse o rebaixamento (Cagliari Calcio)

Depois de morder muitos adversários e espalhar o seu veneno pela Serie A, o réptil rumou para o norte: ter sido três vezes seguidas artilheiro do Bari, com 40 gols em 86 aparições, resultou no chamado da Atalanta, que voltava à elite depois de um ano na segundona. Na temporada 1995-96, a Dea foi vice-campeã da Coppa Italia, mas Tovalieri foi ofuscado por Christian Vieri e Domenico Morfeo, tendo poucos momentos de destaque. O atacante anotou duas vezes na competição, ambas nas quartas de final, quando foi decisivo frente ao Cagliari, e somente seis no Italiano. Todos estes tentos foram realizados no primeiro turno – e dois foram sobre o Bari, no próprio San Nicola.

A passagem infrutífera pela Atalanta lhe fez intensificar as trocas de “pele”. Tovalieri já havia mudado muitas vezes de clube, mas se tornou um verdadeiro flâneur: a partir da curta estadia em Bérgamo, nunca mais permaneceu mais do que um ano numa mesma equipe. Em 1996-97, o experiente atacante passou seis meses atuando pela Reggiana, na Serie A, antes de desembarcar na Sardenha, na tentativa de salvar o Cagliari do rebaixamento.

Sandro recuperou o faro de matador na ilha paradisíaca, anotando 12 gols em 23 aparições. O Cobra, inclusive, conseguiu balançar as redes em seis rodadas seguidas na reta final da Serie A. Apesar de ter realizado apenas metade da temporada pelos casteddu, foi o artilheiro do time. Infelizmente, sua grande contribuição não foi suficiente, visto que a equipe rossoblù acabou caindo depois de ser derrotada no jogo de desempate pelo Piacenza – numa partida em que o centroavante também deixou a sua marca.

O Cobra ainda atuaria quatro meses com a camisa da Sampdoria, na companhia de Jürgen Klinsmann, antes de ser cedido ao Perugia, que estava na Serie B. Na Úmbria, colaborou para o acesso dos grifoni à elite de forma esplendorosa: além dos 10 gols anotados em 25 partidas da temporada regular, que levaram os biancorossi a uma campanha de recuperação, Tovalieri foi vital no spareggio com o Torino. No jogo extra para selar o desempate entre os times, que terminaram o certame igualados em pontos, o centroavante foi às redes no tempo regulamentar, concluído em 1 a 1, e converteu e penalidade decisiva.

Na campanha seguinte, disputou suas últimas partidas na elite, antes de cometer uma traição, tal qual a mais peçonhenta das serpentes: rumou à Ternana, arquirrival regional do Perugia. Tovalieri fez apenas um gol na Serie B e encerrou a sua carreira na temporada posterior: com a camisa da Reggiana, então na terceira divisão, fez apenas sete jogos antes de decidir pendurar as chuteiras, com 35 anos.

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Já veterano, Tovalieri jogou pela Sampdoria: na equipe, marcou seus últimos gols na Serie A (imago/Allstar)

Tovalieri acabou se despedindo dos gramados de uma forma distinta da que gostaria. Anos depois, em uma entrevista, ele revelou o desejo que tinha de regressar ao Bari para encerrar a carreira. “Tinha manifestado ao clube esse interesse, não havia nenhum empecilho financeiro e sentia a camisa como minha pele. Tentei impedir a transferência (para a Atalanta) até o último instante, mas acabei vendido por um bom valor para a agremiação”, afirmou.

Em seu percurso como atleta, o Cobra somou mais de 160 gols anotados pelos clubes que representou. Sandro até hoje é um ídolo para muitos torcedores do Bari, que chegaram a dedicar-lhe pizzas e cervejas artesanais. O rapper Ghemon, da Campânia, também escreveu uma música em homenagem ao ex-atacante. Sempre intenso e com um faro goleador indistinguível, Tovalieri pode não ter sido o craque que se esperava quando surgiu na base romanista, mas certamente deixou sua marca nos gramados da Bota. O próprio centroavante afirma que ficou taxado como “jogador de Serie B” e que, em parte, isso se deveu a seu caráter conflituoso, que nem sempre o levou a fazer as melhores escolhas.

Em 2015, o ex-atacante lançou uma autobiografia, intitulada “Cobra, vida de um centroavante andarilho”, escrita com a ajuda da jornalista Susanna Marcellini. Nela, conta suas andanças pelo futebol italiano e momentos dramáticos de sua vida particular, como a perda prematura da esposa, Laura, em 2007. Fora dos campos, Sandro teve passagens como técnico de times juvenis da Roma e diretor de minúsculas equipes das divisões inferiores da Apúlia, além de ter sido presidente honorário da Res Roma, extinta agremiação de futebol feminino da capital. Como se vê, o hábito de trocar de pele não se perdeu com o tempo.

Sandro Tovalieri Nascimento: 25 de fevereiro de 1965, em Pomezia, Itália Posição: atacante Clubes: Roma (1982-83 e 1985-86), Pescara (1983-84), Arezzo (1984-85 e 1987-90), Avellino (1986-87), Ancona (1990-92), Bari (1992-95), Atalanta (1995-96), Reggiana (1996 e 1999-2000), Cagliari (1996-97), Sampdoria (1997), Perugia (1997-98) e Ternana (1998-99) Títulos: Copa Viareggio (1983) e Coppa Italia (1986)

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