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·04 de junho de 2025

Simone Inzaghi, agora ex-técnico da Inter, é um vencedor ou um perdedor?

Imagem do artigo:Simone Inzaghi, agora ex-técnico da Inter, é um vencedor ou um perdedor?

Seis títulos conquistados em quatro exatos anos, numa gestão iniciada em 3 de junho de 2021 e concluída em 3 de junho de 2025. Duas finais de Champions League perdidas. Uma Serie A e a brilhante segunda estrela na camisa. Scudetti perdidos para equipes que não eram favoritas no cenário nacional. Falamos de um perdedor ou de um vencedor? Independentemente de qual lado você está, há argumentos para defender ou apedrejar a passagem de Simone Inzaghi pela Inter, que terminou de forma chocante. E, inclusive, esse choque pode invisibilizar conquistas, defeitos e fatos relevantes de seu período em Milão pelo segunda maior campeã italiana. Afinal de contas, não dá para traçar uma única linha que define a justiça nessa avaliação. Nem mesmo cravar se a equipe terá um futuro melhor sem ele.

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Não só agora, mas pelos próximos anos, o treinador ficará marcado pela maior derrota da Inter em competições europeias, pela maior goleada em uma final da Champions League e de qualquer decisão em jogo único em torneios da Uefa – um fardo extremamente pesado. E, dentro do que Inzaghi e sua Inter vinham mostrando no cenário europeu, o 5 a 0 aplicado pelo Paris Saint-Germain foi um episódio fora da curva. Até o baque de Munique, os nerazzurri foram competitivos, ficaram somente 17 minutos no total do torneio atrás do placar (e nunca por mais de 370 segundos) e eliminaram o Barcelona, o time mais badalado da Europa e que conta com os principais concorrentes a melhor jogador do mundo em 2025. Não havia pistas da catástrofe que vinha pela frente.


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O desempenho de Inzaghi na maior competição de clubes da Europa sempre chamou a atenção, pela união entre futebol vistoso e resultados. Logo na primeira temporada, a Inter foi eliminada nas oitavas pelo vice-campeão Liverpool, que só não levantou o troféu por uma exibição monumental de Thibaut Courtois na decisão – e, em Anfield, os nerazzurri quase ganharam e levaram o duelo para a prorrogação. No ano seguinte, foi à final num confronto parelho contra um Manchester City de recursos ilimitados e terminou na segunda colocação. Na temporada passada, queda nos pênaltis para o aguerrido Atlético de Madrid de Diego Simeone, numa eliminatória em que a equipe acabou desperdiçando chances demais no Metropolitano. Nenhum vexame. Muito pelo contrário: sempre com um gostinho de que dava para ir além.

Vale destacar que Inzaghi nem sempre priorizava os jogos continentais. Foi comum observar times mistos e reservas nas partidas da Inter na Champions League, o que gerava alguma desconfiança pela estratégia. Porém, se o objetivo era preservar as principais peças para elas chegarem (mais) inteiras nos momentos decisivos, na prática, o desgaste ainda aconteceu em 2024-25.

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No primeiro ano em Milão, Inzaghi faturou a Supercopa Italiana e a Coppa Italia, mas foi criticado pela perda da Serie A (Getty)

Um dos pontos que era unanimidade no começo da temporada é que a Inter contava com o melhor elenco do futebol italiano. Apesar disso, muitos reservas não fizeram o suficiente para serem confiáveis em mais momentos e preservarem alguns dos envelhecidos titulares. Foi notória a queda de produção nas muitas vezes em que Yann Aurel Bisseck e Kristjan Asllani tiveram que substituir Benjamin Pavard e Hakan Çalhanoglu, fustigados por lesões ao longo de 2024-25. No ataque, então, Marko Arnautovic, Joaquín Correa e Mehdi Taremi jamais permitiram ao técnico descansar Lautaro Martínez e Marcus Thuram com segurança.

A idade é outro fator que pode ter jogado contra na apertada equação de minutagem de cada atleta. Quatro dos jogadores que compuseram habitualmente o onze inicial interista estão acima dos 30 anos de idade – Yann Sommer, Henrikh Mkhitaryan e Çalhanoglu, além de Francesco Acerbi e Stefan De Vrij, que se alternavam. Disputar todos os torneios até o limite pode ter gerado um desgaste físico e mental que ressoou fortemente na decisão europeia, assim como na reta final da Serie A.

A tentativa de alcançar a tríplice coroa caiu por terra na parte decisiva da temporada e a Inter ficou de mãos abanando, o que não havia ocorrido em nenhuma das três temporadas anteriores da gestão do técnico emiliano. Enquanto o Napoli de Antonio Conte focou na Serie A desde o primeiro jogo, inclusive preterindo a Coppa Italia ao escalar um time inteiro de reservas na eliminação contra a Lazio, nas oitavas, Inzaghi revezava seus titulares entre as competições – no mata-mata nacional, bem menos. Especialmente na liga, isso custou pontos pela queda de desempenho.

Se o foco total tivesse sido os torneios nacionais, será que Simone terminaria a temporada de mãos vazias? Muito provavelmente, não. No entanto, é difícil imaginar que a Inter deixasse de focar em um objetivo de maior importância, ao qual também se considerava como uma das pretendentes ao título – sem falar que as premiações por vitórias e classificações na Champions League engrossam as receitas do clube.

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Em 2022-23, Inzaghi teve cargo ameaçado, mas reforçou sua posição com a boa campanha na Champions League, encerrada com um vice no detalhe (Getty)

A principal crítica ao seu trabalho é justamente o desempenho no Campeonato Italiano. Herdando a equipe campeã de Antonio Conte, perdeu o scudetto de 2021-22 para o Milan de Stefano Pioli, que levou a taça para o lado rossonero da capital da Lombardia depois de mais de uma década, e o de 2024-25 para o Napoli de seu antecessor. A diferença foi de dois pontos e de um pontinho, respectivamente. Que ficaram faltando, por exemplo, nos confrontos diretos dos nerazzurri com os rivais em ambas as temporadas – nas quais não os venceu. Ou em derrotas decisivas para o Bologna. Detalhes.

Mas, ao mesmo tempo, detalhes que se somaram e evidenciaram erros e desatenções que se repetiram ao longo dos anos, numa espécie de dia da marmota. O que sugere falhas na preparação de torneios longos, principalmente no que concerne ao foco dos jogadores na construção de resultados positivos, ainda que Simone seja um bom gestor de grupo e, em sintonia com os atletas, sempre tenha obtido deles máxima dedicação a suas ideias. Pesa contra Inzaghi o fato de os dois times que ficaram com os scudetti terem montado elencos com menos possibilidades técnicas para disputar os troféus com a Beneamata. Em nenhum momento os nerazzurri deixaram de estar na briga, mas seu torcedor esperava mais que bom futebol ao longo de quatro anos – provavelmente o mais vistoso que a Inter teve em sua história, ainda que nem sempre eficiente.

Em 2023-24, a Inter finalmente uniu beleza e eficiência, no ápice do trabalho de Inzaghi. Dominante, a sua equipe, mentalmente fortalecida após ter chegado à final da Champions League e jogado de igual para igual com o Manchester City de Pep Guardiola, liderou a Serie A praticamente de ponta a ponta e conquistou o seu vigésimo scudetto, que lhe deu o direito de ostentar a segunda estrela acima do brasão – e confirmou o título justamente na sexta vitória seguida sobre o Milan.

Era a reviravolta para Inzaghi, que fora bastante criticado nos dois anos anteriores, mas conseguira manter o cargo por conta do bom futebol, dos títulos de Coppa Italia e Supercopa Italiana, além do percurso que levou a equipe à final europeia – inclusive, com dois triunfos sobre o Milan. Ganhava, enfim, o apreço quase unânime da torcida, que passou a fazer mais constantemente um trocadilho com Simone, seu primeiro nome: o técnico era Il Demone di Piacenza (“o demônio de Piacenza”, em tradução literal).

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O ápice: em 2023-24, a Inter de Inzaghi teve sua melhor versão e conquistou seu vigésimo scudetto (Getty)

Pouco mais de 12 meses depois, a insatisfação de parte dos nerazzurri pelos títulos perdidos, pela transformação de uma sequência recorde de vitórias sobre o Milan (as seis já citadas) em uma fila de cinco partidas sem triunfos contra um time muito desorganizado dos rivais locais, por um ano sem triunfos contra uma Juventus em má fase e, principalmente, pela humilhação sofrida na final da Champions League, resultaram em outra brincadeira bem menos lisonjeira com seu nome. Simone passou de Demone a Scemone – “burrone”, numa corruptela que une português e italiano. Seria ingratidão? Bem, o fato é que, sob esta pecha, Inzaghi optou por encerrar sua passagem por Milão e rumar ao Al-Hilal, da Arábia Saudita, para ser o técnico mais bem pago do mundo, com salário anual de 25 milhões de euros.

Lenda do futebol italiano, o ex-técnico Arrigo Sacchi foi um dos primeiros críticos de Inzaghi e foi mudando de ideia ao longo do tempo. Primeiro, chegou a dizer que o time do ex-treinador da Inter era “só defesa e contra-ataque”, sendo desmentido pelos dados. Depois, passou a afirmar que os nerazzurri haviam passado a jogar muito bem e a ter estilo mais moderno, praticado por clubes grandes de outras partes da Europa. Após o fim da passagem do emiliano pela Beneamata, voltou a opinar sobre o assunto na Gazzetta dello Sport, que dedicou várias páginas à troca de comando na edição de 4 de junho. Além do comentário do ex-técnico do Milan, foi publicado um contundente artigo de Santiago Vernazza, cujo título é “Poderia ter feito muito mais”.

Sacchi também não poupou Simone. “Acho que Inzaghi cresceu muito como técnico desde que saiu da Lazio, mas não consigo dizer que sua passagem pela Inter foi positiva. Vejamos os resultados: em quatro edições da Serie A, apenas um scudetto, apesar de sempre ter o plantel mais forte, com muitos jogadores de alto nível e bem pagos. Duas finais da Liga dos Campeões, ambas perdidas. A última, aliás, de forma traumática. Faltou o salto decisivo”, afirmou o ex-treinador. O Mago de Fusignano, porém, ignorou sua própria história ao fazer tal avaliação. Ele treinou o Milan pelo mesmo período e também faturou apenas um título italiano – compensando, entretanto, com duas conquistas europeias e duas mundiais. Só que ele tinha em mãos um dos maiores times da história do futebol.

O que isso quer dizer? As taças são importantes para se avaliar um trabalho e, provavelmente, o fator mais importante – porém, apenas parte de uma equação mais complexa. Quem só olha para a falta de troféus talvez fique surpreso em saber que Inzaghi é o técnico com o maior percentual de vitórias da história da Inter, com aproximadamente 65% de triunfos em todas as competições.

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O vexame na decisão da Champions League e um ano sem títulos encerraram a passagem do treinador por Milão (Getty)

Definitivamente, Simone montou uma equipe competitiva e potente, com variações táticas que permitiam aos zagueiros e laterais armarem o jogo e chegarem à área adversária para concluir jogadas e pela adaptação e mudança de peças, especialmente com a chegada de Thuram como substituto de Romelu Lukaku e o desenvolvimento de Çalhanoglu como regista a partir de problemas físicos vividos por Marcelo Brozovic. Só que não levantar um caneco no final da caminhada pesa contra no imaginário do futebol. Principalmente quando o favoritismo andou ao lado de seu time em muitos desses momentos.

Um ótimo percurso não basta para gravar seu nome como um vencedor. O receio e a aversão de seus detratores poderiam ter sumido (ou diminuído) com uma vitória no último jogo da temporada e dois pontos a mais na Serie A. Estamos falando disso em um universo de 217 partidas no comando desta mesma equipe. O olhar frio, para números e o contexto geral, é mais complexo do que apenas considerar a última – e trágica – impressão.

A Inter teve a faca e o queijo na mão para ser hegemônica na era Inzaghi. A conquista de apenas um scudetto, considerando a discrepância que se estabeleceu perante os rivais é decepcionante. As duas finais de Champions League, algo que só Helenio Herrera (com três) havia obtido pelos nerazzurri, são grandes feitos, sobretudo porque foram alcançadas num contexto de muita disparidade financeira entre os times italianos e os maiores tubarões do futebol europeu – lembrando que nas finais a Beneamata encarou dois clubes-estado, dentre os mais endinheirados do planeta, tendo chegado lá com elencos montados sem um aporte de capital tão vultoso.

Entretanto, o belo futebol e as campanhas em nível continental não preenchem a galeria de honrarias nem eternizam ídolos em agremiações gigantescas e que têm os triunfos como ordem do dia. O scudetto da segunda estrela e as copas e supercopas nacionais são insuficientes para sustentar um legado vitorioso inquestionável. A sensação que fica é a de um período de quases, em que detalhes e erros cruciais separaram um grande trabalho de um posto reservado a Inzaghi no panteão dos maiores técnicos da história nerazzurra, ao lado de José Mourinho e Helenio Herrera.

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