Gazeta Esportiva.com
·20 de outubro de 2023
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Nicolò Fagioli acreditou ter chegado ao fundo do poço quando suas dívidas de jogo chegaram a 3 milhões de euros (R$ 16 milhões na cotação atual). Isso foi antes de seus credores ameaçarem “quebrar suas pernas”, explicou o meio-campista da Juventus, suspenso por sete meses na última terça-feira (17) por fazer apostas ilegais.
Durante sua audiência na Federação Italiana de Futebol (FIGC), da qual o jornal La Repubblica publicou trechos em sua edição de quarta-feira, Fagioli detalhou as etapas de sua queda do céu ao inferno.
Tudo começou, explicou o jovem de 22 anos ao promotor da FIGC, em 2021, durante uma convocação da seleção sub-21 da Itália. Fagioli, seguindo os conselhos de seu grande amigo Sandro Tonali, se cadastrou em uma plataforma clandestina que não deveria deixar nenhuma pista.
Ele começa apostando em partidas de tênis e rapidamente pega gosto pelos jogos a dinheiro: “Eu tinha tempo livre, era uma forma de matar o tédio”, reconheceu.
O jogador da Juventus, clube ao qual chegou com 14 anos, estava emprestado à Cremonese, da 2ª divisão, onde se tornou uma das grandes promessas do futebol italiano.
Mas rapidamente, seu confortável salário anual, de 1 milhão de euros líquidos (R$ 5,3 milhões), passou a ser insuficiente para sustentar seu vício.
Ele apostava todos os dias, em todas as competições esportivas ao redor do mundo, também em jogos de futebol, mas nunca, ressaltou, nos que envolviam Cremonese e Juventus.
Fagioli acabou perdendo muito dinheiro: 250 mil euros (R$ 1,3 milhão) em um ano, 3 milhões (R$ 16 milhões) no pior momento de seu vício, que o levou a se cadastrar em cinco plataformas diferentes.
Ciente de que estava perdendo o controle e seguindo os conselhos de sua mãe, única pessoa que sabia de sua situação, ele consultou o SerT, serviço italiano de acompanhamento e prevenção de dependência.
Durante apenas algumas semanas.
Como sua mãe o controlava de perto, conseguiu dinheiro para poder apostar mentindo para seus companheiros Federico Gatti e Radu Dragusin, que lhe emprestam 40 mil euros (R$ 213 mil) cada um.
“Eu dizia a eles que era para comprar um relógio e que minha mãe tinha bloqueado minhas contas”, explicou à FIGC.
Seu dia a dia de apostas e suas dívidas começou a interferir no campo: em abril de 2023, durante um jogo entre Juventus e Sassuolo, Fagioli cometeu vários erros. Ele foi substituído e começou a chorar, “estressado e assustado”.
“Diziam para mim: ‘Vamos quebrar suas pernas se não pagar o que deve’ (…) Eu não dormia à noite. Quanto mais o tempo passava, mais obcecado eu ficava com a minha dívida”, reconheceu.
Seu nome aparece em uma investigação da polícia sobre essas plataformas ilegais. Em sua audiência diante do promotor de Turim, ele decidiu confessar seus atos à FIGC.
Depois de cinco semanas de processo, a federação aplicou uma suspensão de 12 meses, que foi reduzida para sete porque o jogador aceitou participar de um programa de cuidados e cooperou com a investigação.
Graças a esse acordo, ele escapou de uma pena maior, de até três anos, como estipula o artigo 24 do código de justiça desportiva da FIGC, que proíbe jogadores profissionais de apostarem em futebol, e poderá retornar aos gramados na última rodada do Campeonato Italiano, em maio de 2024.
Até lá, outros jogadores podem sofrer punições similares. Sandro Tonali e Nicolò Zaniolo foram interrogados pela justiça durante a última convocação da seleção da Itália.
E não para por aí: mais de 50 jogadores da Serie A estariam envolvidos, afirma Fabrizio Corona, conhecido como “rei dos paparazzi”, que revelou o caso.