Esporte News Mundo
·04 de dezembro de 2025
Veja por que Filipe Luís usa sempre a mesma roupa à beira do gramado

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·04 de dezembro de 2025

Filipe Luís tem um estilo próprio, e isso vale muito além do futebol. À beira do gramado, o treinador do Flamengo repete sempre o mesmo visual: tudo preto, sem variações.
A escolha não tem segredo nem superstição: trata-se de evitar mais uma decisão no dia a dia. Minimalista declarado, ele se apoia em uma lógica semelhante à de Steve Jobs, privilegiando foco total no que realmente importa: escalação, estratégia e desempenho.
A simplicidade externa, porém, contrasta com a complexidade que Filipe imprime no trabalho. Desde que assumiu o time principal, o técnico vem deixando suas digitais na rotina do clube, com um processo de gestão baseado em convicções firmes, cobrança intensa e atenção obsessiva aos detalhes. Todo jogador que chega ao Flamengo passa por um período de assimilação dos conceitos que o treinador considera essenciais para sustentar alto rendimento.
O episódio mais marcante desse rigor envolveu Pedro. Em uma entrevista que viralizou, Filipe não poupou críticas ao camisa 9, defendendo sua “cultura de treino” como princípio inegociável, aprendizado vindo diretamente de Diego Simeone, seu grande mentor no Atlético de Madrid. A resposta em campo, tanto do Flamengo quanto do próprio Pedro, se tornou argumento para reforçar a filosofia do treinador, que hoje diz publicamente que o atacante merece ser lembrado por Carlo Ancelotti na Seleção Brasileira.
O trabalho do técnico, aliás, já rendeu frutos importantes. No sábado (29), o Flamengo conquistou a Libertadores com vitória por 1 a 0 sobre o Palmeiras. Dias depois, celebrou o título do Brasileirão após vencer o Ceará, mesmo sem Pedro, lesionado na reta final.
O estilo de Filipe Luís é resultado de uma combinação de influências. Do período com Jorge Jesus, guardou treinos anotados e um modelo de intensidade. De Simeone, absorveu o valor do esforço máximo, e até manias curiosas. Uma delas é o “kiricocho”, expressão popularizada por Carlos Bilardo e usada para secar jogadas rivais. Segundo Guilherme Siqueira, amigo e empresário, o técnico incorporou hábitos de vestiário, rituais pré-jogo e até superstições herdadas da época de Atlético de Madrid.
O lado metódico também aparece na rotina no Ninho do Urubu. Filipe chega cedo, sai tarde e frequentemente dorme mal pensando nos jogos. Mantém um hábito intenso de estudo, assistindo semanalmente a equipes que considera referências, como o Arsenal de Arteta, o PSG de Luis Enrique e o Olympique de Marselha de Roberto De Zerbi, influência sugerida por José Boto.
A versão atual do treinador só existe porque ele recusou um convite da CBF no início de 2024. A entidade queria que ele assumisse a seleção sub-20 e fosse auxiliar de Dorival Júnior na principal, mas Filipe preferiu seguir estudando. Meses depois, virou técnico do sub-17 do Flamengo e iniciou a rápida ascensão até a equipe profissional.
A transição do campo para a área técnica foi instantânea. Filipe não tirou sequer um dia sabático após se aposentar. Segundo amigos, ele simplesmente “não consegue ficar parado”.
Assumir o comando de jogadores com quem conviveu por anos sempre foi um desafio. Mas, segundo Marcos Braz, isso foi “administrado logo no início”. O treinador enfrentou personalidades fortes, como Gabigol, com quem já viveu momentos de amor e conflito, e Arrascaeta, a quem procurou pessoalmente para explicar que decisões duras poderiam ser necessárias. O camisa 10 entendeu e se tornou peça central na temporada.
A palavra que guia todas essas relações é “convicção”. Para Filipe, insistir em uma ideia não significa teimosia: significa refletir, ajustar e reafirmar aquilo que se prova certo. René Simões, seu mentor, destaca que o treinador é “humilde, sincero e honesto”, e que está no caminho para se tornar um dos grandes técnicos brasileiros.
A mentoria de René começou depois de uma derrota dolorosa, logo no primeiro jogo de Filipe no comando do Flamengo, contra o Fluminense. A mensagem enviada naquela noite marcou o treinador, e desde então os dois discutem menos tática e mais comportamento, postura e tomada de decisão em um ambiente de alta pressão.
A ascensão meteórica retirou rapidamente a etiqueta de “interino” colocada após a saída de Tite. Marcos Braz conta que garantiu a Filipe estabilidade naquele momento, mesmo com o clube em ano eleitoral. Com a chegada de José Boto, o novo diretor de futebol, a permanência em 2025 foi reafirmada após uma longa conversa em Portugal.
O técnico já negocia renovação para 2026, recusou recentemente uma sondagem do Fenerbahçe e demonstra desejo de permanecer mais tempo no Flamengo. Os números, por enquanto, reforçam a aposta: em 85 jogos, são 55 vitórias, 21 empates e apenas nove derrotas.









































