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·06 de janeiro de 2023

Vitimado por lesões, Davide Santon não atingiu o nível esperado e se aposentou cedo

Imagem do artigo:Vitimado por lesões, Davide Santon não atingiu o nível esperado e se aposentou cedo

Revelado profissionalmente por José Mourinho, Davide Santon, cria das categorias de base da Inter, chegou a ser considerado pelo treinador português como um herdeiro da estirpe de Javier Zanetti e Giacinto Facchetti. Ou seja, o Mago de Setúbal apostava em seu talento e longevidade para se tornar um ícone nerazzurro. O lateral, capaz de atuar em ambos os flancos, teve um início de carreira para lá de animador, com destaque para uma grande atuação contra o Manchester United, pela Liga dos Campeões, quando anulou Cristiano Ronaldo.

No futebol, todavia, os fatos não necessariamente têm linearidade, e a trajetória do emiliano acabaria marcada por reveses físicos. Depois de muitos anos, a luta contra o seu próprio corpo se tornou insuportáveis e fez com que Santon decidisse pendurar as chuteiras precocemente.


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O garoto que encantou Mourinho

Nascido em Portomaggiore, Davide viu sua história futebolística ter início nas categorias de base do Ravenna, onde ficou dos nove aos 14 anos – idade que marcou a sua mudança para a Inter, agremiação pela qual teve destaque em conquistas pela equipe Primavera. Com tamanho sucesso, foi convocado para a seleção sub-16 da Itália em 2007 e, em seguida, para a sub-17. Em 2008, com 17, passou a atuar pelo time sub-20 da Nazionale e continuou a ser bastante elogiado. O bom momento fez com que Mourinho, em sua primeira temporada à frente da Beneamata, enxergasse nele um tremendo potencial.

Com um bom porte físico e velocidade, o jovem lateral-direito foi alvo de muitos elogios por parte do português. “Ele é um fenômeno. É tudo mérito de sua personalidade e isso conta muito. É um grande jogador e, daqui a 10 ou 15 anos, quando se tornar um novo Zanetti, Facchetti ou [Paolo] Maldini, com 200 ou 300 partidas pela Inter. Vou me lembrar dele naquele momento”.

Apesar de ser mais utilizado pelo flanco destro na base, Santon estreou pelos nerazzurri no lado esquerdo da defesa – e lá se estabeleceu. O primeiro jogo de Davide como profissional ocorreu em janeiro de 2009, no triunfo por 2 a 1 sobre a Roma, em duelo válido pelas quartas de final da Coppa Italia. Passados quatro dias, debutou na Serie A, contra a Sampdoria, em vitória por 1 a 0.

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Assim que estreou pela Inter, Santon chamou a atenção por não se intimidar em jogos grandes (Getty)

Em pleno viés de alta, fez a sua primeira aparição pela Liga dos Campeões, nas oitavas de final, pouco tempo depois – e logo em um batismo de fogo, diante do Manchester United. O encontro terminou sem gols, e Santon foi extremamente elogiado por conta de sua atuação, na qual conseguiu frear Cristiano Ronaldo, o então melhor jogador do planeta, com todos os méritos; o goleiro Julio Cesar foi outro destaque, com ótimas defesas. No jogo de volta, os ingleses se fizeram valer do fato de estarem atuando em seus domínios e garantiram a vaga, vencendo por 2 a 0. No final daquele ano, a Inter faturou o scudetto e Davide integrou a lista dos 10 jovens mais promissores da Europa, elaborada pela Uefa.

Além disso, depois de somente 20 partidas como profissional, Santon foi convocado pela primeira vez, aos 18 anos, para a equipe principal da Squadra Azzurra, cujo treinador era Marcello Lippi. Sua estreia se deu em junho de 2009, num amistoso vencido por 3 a 0 contra a Irlanda da Norte, quando atuou na lateral direita. O emiliano ainda foi inserido na lista italiana para a Copa das Confederações daquele ano, mas não recebeu minutos em campo – atuou apenas num jogo preparatório para o torneio, num 4 a 3 sobre a Nova Zelândia.

Em 2009-10, pela seleção sub-21, o lateral viveu um episódio que pode ter sido a origem de todo o sofrimento físico que atravessaria ao longo de sua carreira. Na ocasião, em um jogo contra Luxemburgo, Santon sofreu uma forte entrada no joelho e desconfiou de uma fratura no local. No intervalo, foi instruído a tomar um anti-inflamatório e regressar para o segundo tempo. Em declaração que deu já aposentado, ele disse que esses 45 minutos extras trouxeram danos irreparáveis em seu menisco.

Santon ficou afastado dos gramados durante cerca de dois meses, e se recuperou a tempo de participar da histórica tríplice coroa da Inter, que abocanhou Liga dos Campeões, Serie A e Coppa Italia na mesma temporada. No entanto, entrou menos vezes em campo e quase não foi utilizado na competição europeia: disputou somente 10 minutos no primeiro jogo da fase de grupos da Champions League e totalizou 15 aparições em 2009-10.

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Por conta de lesões e da saída de Mourinho, Santon perdeu espaço na Inter e foi emprestado ao Cesena (Getty)

Mourinho, em virtude do estrondoso sucesso, deixou a Inter para dirigir o Real Madrid no verão de 2010. Para o seu lugar, os nerazzurri contrataram Rafa Benítez, o que mudou o status de Santon no elenco: sem o maior patrocinador de seu futebol, Davide perdeu espaço na gestão do espanhol, apesar de ter tido algum tempo de jogo na segunda metade da temporada. Mesmo assim, acrescentou o título do Mundial de Clubes ao currículo. Na competição, só entrou nos últimos minutos da semifinal, contra o Seongnam.

Buscando minutos

Sem espaço no elenco nerazzurro, Santon foi cedido ao Cesena por empréstimo na janela de inverno de 2011, compondo uma transação que levou o japonês Yuto Nagatomo a Milão. O defensor permaneceu na Emília-Romanha, sua região natal, até o fim da temporada e disputou 11 partidas pelos cavalos marinhos, que escaparam do rebaixamento com uma rodada de antecipação.

Como foi emprestado sem opção de compra, Santon retornou à Lombardia ao fim da cessão. Contudo, não permaneceu na Inter: por 6 milhões de euros, foi vendido ao Newcastle, clube com o qual fechou um contrato válido por cinco anos. A Beneamata apostava no recém-promovido Davide Faraoni, que acabaria deixando a equipe no verão seguinte, como parte da negociação que levou Samir Handanovic, da Udinese, para o lado azul e preto de Milão.

Na Inglaterra, o lateral italiano levou alguns meses para se adaptar até cair nas graças do técnico Alan Pardew e se tornar um dos nomes mais utilizados no elenco dos Magpies. Em boas condições físicas e com sequência de jogos, teve o seu período mais regular na carreira. O bom momento não era apenas dentro das quatro linhas: em Newcastle, conheceu Chloe Sanderson, sua futura esposa, e juntos tiveram duas filhas, Sienna e Alaia. Tudo corria bem até a temporada 2014–15, quando novas lesões prejudicaram seu momento positivo e comprometeram a sua continuidade.

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O italiano teve sequência pelo Newcastle… ao menos até as lesões voltarem a lhe incomodar (Getty)

Em fevereiro de 2015, surgiu a oportunidade de regressar à Itália para uma nova passagem pela Inter através de um empréstimo com o passe fixado e obrigatoriedade de compra caso ele disputasse pelo menos 10 partidas como titular. Devido a baixas no elenco nerazzurro, Santon foi a campo poucos dias após sua apresentação, contando com a confiança do treinador Roberto Mancini, que passaria a escalá-lo em ambos os lados. Novamente tendo sequência, foi adquirido em caráter definitivo pela Beneamata e teve atuações sólidas. Contudo, aos poucos foi perdendo espaço na esquerda, setor onde vinha atuando mais, para Nagatomo e Alex Telles.

Em meados de 2016, chegou a acertar transferência para o Napoli, mas não foi aprovado nos exames médicos. Ainda em Milão, entrou poucas vezes em campo sob a orientação de Stefano Pioli e, no ano seguinte, ficou de fora da pré-temporada em decorrência de uma lesão na panturrilha direita. Retornou aos gramados em outubro contra o Milan, no Derby della Madonnina, vencido por 3 a 2 e, no mês posterior, fez seu 200º jogo na carreira, em uma vitória por 2 a 0 sobre a Atalanta.

Aos poucos, foi ganhando prestígio com Luciano Spalletti, que assumira o cargo no princípio da campanha, e passou à frente de Nagatomo e Dalbert, seus principais concorrentes. Até o final de janeiro, teve uma boa minutagem, mas depois foi perdendo espaço, e seus últimos seis meses na Inter foram catastróficos, com péssimas exibições, em especial em uma derrota para a Juventus, por 3 a 2.

Quando o corpo chega ao limite

No vácuo entre as temporadas 2017-18 e 2018-19, Santon se via na lista de dispensas da Inter. Até que, em junho de 2018, a diretoria nerazzurra fez uma proposta por Radja Nainggolan e conseguiu inserir o lateral no negócio, juntamente com o promissor Nicolò Zaniolo e mais uma quantia em dinheiro.

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Santon tentou colocar a carreira nos trilhos numa segunda passagem pela Inter, mas o momento ruim da equipe e seu joelho não lhe ajudaram (AFP/Getty)

Durante o início de sua passagem pela capital italiana, Davide era visto com desconfiança, muito por conta das incógnitas quanto a seu condicionamento físico. Apesar disso, chegou a encadear aparições: o lateral atuou com certa regularidade até sofrer uma lesão na coxa, na reta final da campanha giallorossa na Serie A. No ano seguinte, o português Paulo Fonseca assumiu a Roma e Santon teve uma positiva sequência no primeiro semestre, mas depois sofreu com diferentes contusões nas pernas e deixou de ser considerado uma opção no elenco. Ele só voltou a ter condições de jogo na última rodada, na vitória fora de casa por 3 a 1 sobre a Juventus.

O roteiro foi semelhante no ano seguinte, com Santon frequentando o departamento médico por boa parte da temporada e retornando aos gramados somente no final da campanha, quando os lupi fecharam a Serie A na sétima colocação. A Roma teve uma troca em seu comando técnico, mas não deixou de ter um português dirigindo sua equipe: Paulo Fonseca deixou o clube capitolino e foi substituído por Mourinho.

A chegada de Mou até poderia significar uma reviravolta para Santon. Mas o lateral não chegou a ter grandes momentos de esperança ou sequer sonhou em reeditar bons momentos ao lado do treinador que o alçou aos profissionais. Afinal, sabia que teria que superar sua inconsistência física para ser considerado de fato pelo exigente técnico. No fim das contas, somou apenas 11 aparições sob o comando do português e terminou a temporada afastado.

Sem rescindir o contrato, ficou sem atuar e foi acusado de recusar propostas para deixar a Roma, a fim de continuar recebendo seus altos vencimentos. “Eu não recusei ninguém. Inclusive, tive propostas, mas jamais fui aprovado nos exames médicos”, justificou mais tarde. Ele chegou a receber ofertas de Fiorentina, Sampdoria, Fulham e alguns clubes da Espanha e Turquia, mas nenhum negócio foi avante.

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Na Roma, o lateral disse basta: após tentar resistir de todas as formas, Santon levantou bandeira branca (AFP/Getty)

Santon acabou pendurando as chuteiras e dando adeus ao futebol de forma precoce, aos 31 anos de idade, em setembro de 2022. Seu último jogo como atleta profissional foi em maio de 2021, quando atuou por 46 minutos como lateral-esquerdo no empate em 2 a 2 contra o Spezia, na Ligúria. Em quatro anos na Cidade Eterna, disputou pouco 53 partidas oficiais.

Foram 268 partidas de Davide Santon como profissional, sendo oito pela Squadra Azzurra e 110 pela Inter, equipe que mais representou. Foi justamente em Milão que conquistou todas as taças da carreira, naquele início mágico de trajetória, com direito a participação na tríplice coroa. O jovem promissor que explodiu em seu início de carreira graças à sua velocidade (especialmente nas recuperações) teve um caminho turbulento e foi vítima de contínuas contusões que prejudicaram o seu desenvolvimento enquanto atleta.

“Não é que eu não tenha ofertas, mas o meu corpo simplesmente não aguenta mais depois de tantas contusões. Fui forçado a pendurar as chuteiras”, disse, em entrevista concedida ao portal Tuttomercatoweb, após o doloroso anúncio. “Ainda posso andar, mas isso não é suficiente para ser atleta profissional. Se continuasse a forçar, corria o risco de precisar de próteses. O meu joelho esquerdo está acabado. Isso me impede de fazer muitas coisas. No joelho direito, que foi operado três vezes, retiraram cartilagem e todo o menisco externo. Assim que estico um bocado, ele incha e não dobra. Todas as minhas lesões vieram daí, porque se o joelho direito não dobra, coloca mais pressão no esquerdo. Se jogasse um jogo, corria o risco de ficar fora de ação nos próximos cinco”, justificou.

Agora, enquanto utiliza o tempo livre para ficar com a família, o ex-jogador pensa se será treinador nas categorias de base ou se buscará se capacitar como comentarista. Santon, no entanto, descarta algo além disso. “O futebol é um negócio. Te usam, te descartam e contratam outro. Não sei se pertenço a esse mundo”, afirmou.

Davide Santon Nascimento: 2 de janeiro de 1991, em Portomaggiore, Itália Posição: lateral-direito e lateral-esquerdo Clubes: Inter (2008-11 e 2015-18), Cesena (2011), Newcastle (2011-15) e Roma (2018-22) Títulos: Supercopa Italiana (2008 e 2010), Serie A (2009 e 2010) e Coppa Italia (2010) Seleção italiana: 8 jogos

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