Nosso Palestra
·30 de junho de 2025
Voz Palestrina: ‘Abel ainda tem um plano’

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·30 de junho de 2025
Os últimos dois anos têm sido tensos para a relação entre a torcida palmeirense e Abel Ferreira. Ela atingiu seu auge em 2022, quando uma equipe afinadíssima passou perto de vencer o Mundial, chegou à semifinal da Libertadores e venceu o Campeonato Brasileiro com tranquilidade – uma máquina. Depois disso, nenhuma versão chegou ao mesmo nível. Mesmo o título nacional do ano seguinte não foi capaz de apagar essa impressão. O frustrante ano de 2024 a confirmou.
Surgiu, então, uma divisão entre os torcedores: de um lado, os críticos mais ácidos; do outro, os mais apegados Abel. O primeiro grupo foi juntando argumentos conforme escalações incompreensíveis e teimosias do treinador passaram a custar caro: a não titularidade de Endrick e Luis Guilherme contra o Boca Junior em 2023, a insistência em Rony, as dobras de laterais improdutivas, os excessos de prudência diante do Flamengo… No geral, a equipe parecia cada vez mais previsível. Em 2025, o problema tem sido o futebol abaixo do que o elenco pode produzir.
Tamanho questionamento fez surgir a expectativa de uma “volta às raízes”. A cada reclamação ou declaração mais forte, muitos esperavam ver o retorno do Abel do Velho Testamento, aquele cara com sangue nos olhos, capaz de dar ao Palmeiras a competitividade que é a marca da sua passagem. Por outro lado, notícias sobre renovações de contrato nos davam uma sensação (aqui incluo todos nós, pois eu sei que você pensou também) de que talvez fosse melhor encerrar o ciclo. Quem sabe trazer alguém mais jovem, com ideias frescas, um pouco mais ousado. Vojvoda, talvez?
Então, chegou a Copa do Mundo de Clubes. E com Abel prestigiadíssimo pela diretoria, embarcamos todos, amendoins ou passadores de pano, juntos para essa aventura nos States. Nos dois primeiros jogos, o time manteve a toada das últimas temporadas: ainda competitivo, mas longe de ser brilhante. Contra o Inter Miami, uma escalação equivocada e a postura passiva dos jogadores quase resultaram em uma derrota que poderia abreviar a participação (seja pela eliminação na fase de grupos ou por colocar o PSG no caminho nas oitavas de final).
Os dois gols no fim nos deram o direito de enfrentar o Botafogo e nos vingar das dolorosas derrotas do ano passado. Mas, para isso, o Palmeiras de Abel precisaria voltar a ser aquele Palmeiras do Abel. O adversário, ainda que enfraquecido em relação ao ano passado, chegava com as credenciais de quem derrotou o campeão da Champions League. As escolhas iniciais mostraram disposição a fazer o óbvio e recompensar quem vinha pedindo espaço – leia-se: Maurício e Allan. Porém, nosso português voltou a flertar com a corneta ao tirar Estevão no seu melhor momento e ao colocar Mayke para fazer a dobradinha de laterais com Giay.
Deu tudo certo porque Paulinho, o único fora de série no ataque alviverde na prorrogação, decidiu no limitado tempo em que esteve em campo. Porque Bruno Fuchs se jogou no chão para proteger a bola nos momentos finais. Porque Richard Ríos jogou o fino. Mas também deu certo porque o esquema de Abel empurrou o Botafogo para trás desde o começo; porque a defesa bem montada anulou Igor Jesus; porque a opção por Luighi se mostrou acertada, devido a sua colaboração tática. O herói foi Paulinho, e sua história de superação merece um texto próprio – mil deles! -, mas o arquiteto da classificação às quartas de final da Copa do Mundo é o mesmo treinador que questionamos tantas vezes de 2023 para cá. Abel tinha um plano, e ele funcionou.
Quiseram os deuses do futebol que, depois da classificação apoteótica, tenhamos pela frente outro adversário engasgado, o Chelsea. Desta vez, sem Gustavo Gómez e Piquerez, dois dos melhores em campo diante do Botafogo. Que os cartões deles tenham sido oferendas no altar dessas mesmas divindades que têm arquitetado a jornada palmeirense até aqui.
Da nossa parte, podemos ter aquela certeza que mantemos desde a chegada da caravela de Abel Ferreira e sua tripulação: a de que eles farão tudo o que podem para afiar o espírito alviverde, aproveitar as fraquezas dos adversários e levar o Palmeiras à glória. Até aqui, tem dado certo.
Luiz Andreassa é palmeirense e jornalista