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·23. April 2025

Conheça o Fiel Fazendinha, coletivo que denuncia o “abandono estrutural” do futebol feminino no Corinthians

Artikelbild:Conheça o Fiel Fazendinha, coletivo que denuncia o “abandono estrutural” do futebol feminino no Corinthians
  1. Por Daniel Keppler / Redação da Central do Timão

O Corinthians Feminino vive forte reformulação desde 2024, com as trocas do técnico Arthur Elias e da diretora Cris Gambaré por Lucas Piccinato e Íris Sesso, processo agora reforçado com a nomeação do diretor estatutário Carlos Elias. Aliado às saídas e chegadas de atletas, tal transição vem gerando reflexos dentro e fora de campo: desempenho inconstante, derrotas inesperadas, atrasos em premiações e promessas não cumpridas pela gestão do clube.

Visando chamar atenção para esse cenário, que atinge em cheio uma modalidade outrora dominante no cenário nacional e internacional, um movimento de torcedores começou a protestar, e promete não parar tão cedo. Autointitulado Fiel Fazendinha, o grupo se organizou nas redes sociais, chamou atenção com um protesto na Fazendinha em pleno Derby e cobra respostas sobre o que chama de “abandono estrutural” da modalidade.


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Foto: Reprodução

Em entrevista à Central do Timão, membros do coletivo explicaram que o grupo surgiu da insatisfação de torcedores com a situação atual das Brabas e da reflexão de que o problema não passa apenas por Piccinato ou Íris, mas vai além: “Por mais que eles possam ter sua parcela de contribuição, acreditamos que o problema vai muito além de duas pessoas que aparentam ser apenas fantoches nas mãos de quem realmente comanda o departamento.”

Para o movimento, as jogadoras também tem parcela de responsabilidade na queda de rendimento, mas reforçam que, enquanto outros clubes intensificam ações e investem na modalidade, a administração corinthiana parece seguir um caminho oposto. “Vemos uma involução do Corinthians Feminino, (com) uma gritante dificuldade de perceber a importância de se manter na vanguarda de uma modalidade que cresce esportiva e financeiramente”, disseram.

O primeiro protesto

O grupo ficou em evidência pela primeira vez no último dia 12. A ideia de protestar durante o clássico contra o Palmeiras foi aprovada em reunião online – o grupo conta com torcedores de diversos estados do Brasil. Decidiu-se fazer uma vaquinha para comprar os materiais e, em seguida, quais seriam as primeiras denúncias.

“Foi praticamente unânime a escolha das faixas do ‘Fora Mariano’ e do ‘Arrecada milhões, investe migalhas’. Para nós esses assuntos eram os mais importantes a serem tratados pela urgência. O nosso maior propósito é esse, abrir os olhos da torcida para as coisas que estão acontecendo além do campo.”

A primeira faixa faz referência à forte influência exercida por Marcelo Mariano no departamento, mesmo após sua saída do cargo de diretor administrativo do Corinthians – ele é investigado pelas autoridades por sua participação no caso VaideBet. Já a segunda protesta contra a falta de investimento na modalidade, que arrecadou mais de R$ 26 milhões em 2024.

O grupo explicou que não houve qualquer intervenção policial no dia, com o protesto transcorrendo normalmente: “Nós fomos revistados, entramos e expusemos as bandeiras durante o final do primeiro tempo quando estava 0 x 0. Não foi por causa da derrota no Derby, já havíamos decidido que o protesto iria acontecer naquele jogo. Nenhum policial ou segurança tentou impedir ou retirar as bandeiras. Em determinado momento, uma segurança do clube passou pela arquibancada e comentou sobre as faixas no rádio, mas também não se aproximou para retirar.”

Contra o 3B, “censura pura”

O clima mudou radicalmente no jogo seguinte, no último dia 19, quando o Timão recebeu o Instituto 3B no mesmo Parque São Jorge. Antes de chegar ao estádio, o coletivo soube por mensagens que torcedores estavam sendo barrados de entrar com faixas e bandeiras, supostamente por orientação do clube.

“Falaram que era a segurança do Corinthians quem estava limitando o acesso. Os policiais presentes disseram que a ordem deles era barrar apenas símbolos relacionados as torcidas organizadas por causa das proibições do último Derby masculino. A situação era totalmente anormal e notamos que poderia ser por causa dos protestos.”

Diante da situação, o grupo optou por não entrar com as faixas, por medo do que poderia acontecer com o material e com eles próprios no local. “A segurança estava reforçada e dificilmente teríamos tempo de colocar as bandeiras na grade. Foi uma situação que pegou todo mundo de surpresa, inclusive torcedores sem relação com os protestos e ficou ainda mais nítido quando percebemos que o jogo do masculino não passou por essa proibição. Isso aconteceu apenas na Fazendinha”, ressaltaram.

As faixas que não puderam ser expostas na Fazendinha neste sábado diziam “Cofre cheio, estádio vazio” e “As B̶r̶a̶b̶a̶s̶ Mansas”. A primeira frase faz referência a uma situação frequente ocorrida em jogos do feminino no estádio, em que os ingressos são esgotados, mas apenas uma pequena parcela do público comparece. Já a segunda faz uma crítica à postura das jogadoras dentro de campo durante as partidas.

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Parque São Jorge no último sábado, 19 (Foto: Reprodução)

“Somos torcedores comuns”

Após seu estabelecimento oficial nas redes sociais, algumas críticas pontuais surgiram por parte de torcedores que vinculam o movimento à oposição de Augusto Melo no Corinthians. O coletivo rechaçou a acusação, afirmando que defender o futebol feminino é, acima de tudo, um ato político e social.

“É uma modalidade que foi por 40 anos proibida no Brasil e que teve investimento negligenciado nas décadas seguintes. Não podemos precisar quantas meninas tiveram o direito a prática da modalidade ceifada nestes períodos. Defender que o Corinthians trate com respeito, invista, viabilize e visibilize a modalidade é respeitar os próprios princípios e valores históricos da instituição desde sua fundação como time do povo e que se estendeu na inclusão das classes populares na prática esportiva e até no movimento histórico da Democracia Corinthiana.”

O grupo ainda afirmou que é prática da democracia conviver e respeitar todos os pontos de vista, inclusive os discordantes. “Nós não temos nenhum vínculo político com ‘Corinthians Mais Forte’, ‘Salve o Corinthians’, ‘Renovação & Transparência’ ou qualquer outro, nós somos torcedores comuns, que não frequentam diariamente as alamedas do Parque São Jorge. Se tivéssemos relação com grupos partidários da instituição, não precisaríamos realizar vaquinha entre os membros para conseguir comprar os materiais para os protestos”, afirmaram.

Próximos passos

Questionamos o movimento sobre o que planejam para o futuro. Segundo eles, a ideia é continuar pressionando diretoria, técnico, jogadoras e patrocinadores do Corinthians Feminino, para que o nível do trabalho no departamento em geral melhore até chegar à excelência de temporadas anteriores.

“Entendemos que o futebol feminino trouxe um novo público ao clube que pretende ser contemplado com práticas que mantenham a equipe competitiva. Se a nossa hegemonia na modalidade for para ser superada, que seja pelo avanço dos demais rivais e da modalidade e não pela inércia, descaso e autossabotagem da própria instituição.”

O coletivo deixou claro, ainda, que os protestos não estão vinculados necessariamente à falta momentânea de títulos, mas à postura das atletas em campo e à organização do clube nos bastidores. Além disso, o movimento lançou a hashtag #VemPraFazendinha, com o objetivo de colaborar na criação de um laço entre a torcida e o estádio. “A ideia é que o torcedor possa compartilhar seus momentos na nossa casa”, explicaram.

Palavra do Corinthians

A Central do Timão procurou o clube na noite do último sábado, 19, questionando a respeito das supostas proibições a faixas e bandeiras durante o Derby Feminino no Parque São Jorge. Uma resposta foi prometida para depois de ser apurado o que aconteceu, mas até o momento este retorno não aconteceu. Caso o clube se posicione, esta matéria será atualizada.

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