Jogada10
·27. Oktober 2025
Da elite inglesa ao caos nacional: o que falta à arbitragem brasileira?

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·27. Oktober 2025

O desabafo de Leonardo Jardim após o jogo entre Palmeiras e Cruzeiro escancarou uma ferida antiga do futebol brasileiro: a desqualificação da arbitragem e a estrutura que compromete o próprio espetáculo. O técnico português, que chegou ao Brasil em fevereiro de 2025 e ajudou a elevar o nível do time mineiro, demonstrou frustração não apenas com os erros pontuais do árbitro Rafael Klein, mas com o sistema que permite que equívocos se repitam sem consequência.
A condução travada do jogo, a marcação exagerada de faltas e a falta de critério nas decisões do VAR são reflexos de um modelo que não evolui. Mesmo com o campeonato mais competitivo e com recordes de público, a arbitragem continua sendo um ponto de desgaste. Jardim não se limitou à crítica técnica: ele questionou se vale a pena continuar trabalhando no país diante de tantos obstáculos estruturais.
Além da arbitragem, o treinador apontou problemas como a qualidade dos gramados e o calendário extenuante. São fatores que afetam diretamente o desempenho dos atletas e a qualidade do futebol apresentado. Curiosamente, esses temas não são prioridade nas discussões das ligas LFU e Libra, que se concentram em acordos comerciais e distribuição de receitas, ignorando aspectos fundamentais do jogo.
A falta de voz dos jogadores nessas decisões, aliás, reforça a sensação de que o futebol brasileiro é conduzido por interesses que ignoram o essencial: o jogo em si.
A CBF, por sua vez, tenta mostrar disposição para mudanças. Enviou Rodrigo Cintra, coordenador da comissão de arbitragem, à Inglaterra para estudar os métodos da PGMO (Professional Game Match Officials), órgão que regula os árbitros profissionais da Premier League.
Em 2024, estive em Londres para cobrir dois amistosos da Seleção Brasileira e ouvi falar de como a metodologia da PGMO é eficaz. Lá, os árbitros são remunerados com salários fixos, bônus por jogo, seguros e prêmios por desempenho. Trabalham exclusivamente na liga e se dedicam até dez horas/dia à preparação física, técnica e teórica. É um modelo que valoriza a arbitragem como profissão e não como atividade paralela, como ainda ocorre no Brasil.
Os árbitros britânicos, aliás, são considerados profissionais de alto nível, recebendo suporte completo em treinamento físico, acompanhamento psicológico e acesso à tecnologia avançada. O reconhecimento começa pela formação rigorosa e se consolida na confiança que o sistema deposita em seu desempenho. Embora a profissionalização não elimine totalmente os equívocos, ela contribui para que sejam menos frequentes e mais transparentes.
É um caminho que o Brasil precisa seguir com urgência.
A comparação entre os 28 árbitros da Série A e os 20 da Premier League revela uma diferença de foco. Enquanto os ingleses investem em qualidade e exclusividade, o Brasil ainda aposta na quantidade e na rotatividade. O Grupo de Trabalho criado pela CBF para aperfeiçoar a arbitragem pode ser um passo importante, mas precisa ser acompanhado de mudanças reais na estrutura e na cultura do futebol nacional. Sem isso, seguirá apenas como mais uma iniciativa sem impacto prático.
O histórico de erros de arbitragem no Brasileirão é vasto, com decisões polêmicas que marcaram títulos e rebaixamentos. Contudo, é preciso salientar que não se trata de má-fé — como muitos insinuam até de modo irresponsável —, mas de um sistema vulnerável à pressão, à falta de preparo e à ausência de profissionalismo. O barulho constante dos dirigentes só piora a percepção pública e afasta o torcedor da confiança no campeonato.
Apesar disso, o Brasileirão vive um momento histórico de engajamento. As três edições mais recentes, já incluindo 2025, registraram as maiores médias de público de todos os tempos. Isso corrobora para a certeza de que o produto futebol brasileiro ainda é bom e desfila talento e paixão. Mas precisa parar com o autoboicote.
O posicionamento de Leonardo Jardim funciona, portanto, como um sinal claro para a CBF, os clubes e as ligas: é urgente repensar o modelo que rege o futebol brasileiro. Sem mudanças estruturais na arbitragem, no calendário e na gestão dos interesses esportivos, o sistema continuará a afastar profissionais qualificados e minando a confiança do público. A decisão está nas mãos das entidades que comandam o esporte: entregar um campeonato valorizado ou seguir alimentando práticas que comprometem sua reputação.
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