
Central do Timão
·26. März 2025
Polícia investiga distribuição de ingressos do Corinthians; clube omitiu informações

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·26. März 2025
A Polícia Civil de São Paulo investiga possíveis irregularidades na distribuição de ingressos para jogos do Corinthians na Neo Química Arena. O clube foi questionado oficialmente em fevereiro, dentro de um inquérito que apura indícios de envolvimento de dirigentes e funcionários com grupos de cambistas.
De acordo com a Gazeta Esportiva, que teve acesso ao ofício policial e às respostas enviadas pelo clube à 4ª Delegacia de Polícia de Lavagem e Ocultação de Ativos Ilícitos por Meios Eletrônicos (DCCIBER-DEIC), apesar de prestar esclarecimentos às autoridades, a diretoria corinthiana omitiu informações relevantes sobre a destinação de entradas e admitiu repasses realizados fora do Programa Fiel Torcedor.
Foto: José Manoel Idalgo/Agência Corinthians
Às autoridades, o clube informou que aproximadamente 8 mil ingressos são repassados às torcidas organizadas por meio do plano “Minha Torcida”. No entanto, o número exato seria 7.298 ingressos, distribuídos entre os principais grupos organizados, como Gaviões da Fiel (4.444 ingressos) e Camisa 12 (1.180 ingressos).
Além disso, o Corinthians reconheceu a existência do login “Torcida 2”, um sistema que, segundo a diretoria, seria utilizado apenas em jogos de grande apelo para atender pedidos das organizadas. No entanto, segundo a reportagem, esse mecanismo tem sido acionado em todas as partidas da equipe, garantindo aproximadamente 1.200 ingressos extras por jogo, comercializados sem passar pelo Fiel Torcedor.
A publicação também afirma que o clube não informou à Polícia que parte dos ingressos corporativos, originalmente destinados a patrocinadores e parceiros comerciais, têm sido alocados nos setores Norte (destinados às torcidas organizadas) e Sul, embora não façam parte do Programa Fiel Torcedor nem do plano Minha Torcida. No jogo contra o Santos, pelo Paulistão deste ano, por exemplo, foram 810 ingressos corporativos no setor Norte e 206 no setor Sul.
Setores e cortesias
O Corinthians revelou que cerca de 3 mil ingressos são destinados aos participantes do plano Minha Cadeira, mas não informou às autoridades que aproximadamente 180 ingressos desse setor têm sido distribuídos como cortesias ou vendidos fora do Programa Fiel Torcedor, sem esclarecer o critério adotado pela diretoria. Para a final do Campeonato Paulista, marcada para a próxima quinta-feira, por exemplo, foi registrado que uma única pessoa adquiriu seis ingressos para o setor Oeste Inferior Central, pagando R$ 900,00 por cada ingresso, conforme documentos obtidos pela reportagem.
Os membros do Conselho Deliberativo do Corinthians têm direito a um ingresso gratuito e a prioridade na compra de até quatro ingressos com desconto. No entanto, a diretoria não informou à Polícia que cerca de 300 assessores internos do clube usufruem dos mesmos privilégios. Somados, esses dois grupos têm à disposição aproximadamente 3 mil ingressos por jogo.
Distribuição interna e dificuldades para o torcedor comum
O clube afirmou que, caso ingressos não sejam adquiridos integralmente pelos beneficiários iniciais, eles são disponibilizados para compra dos sócios-torcedores ou, eventualmente, do público geral. Na prática, porém, há mais de um ano os ingressos remanescentes, inclusive os mais caros, não aparecem à venda no site “Ingresso Corinthians” nem no Fiel Torcedor, mesmo para associados com pontuação.
Segundo apuração da Gazeta Esportiva, com base em planilhas obtidas, esses ingressos estão sendo comercializados internamente pela gestão do clube, sem critérios divulgados. No jogo contra o Santos, em 12 de fevereiro, na Neo Química Arena, por exemplo, 682 ingressos foram destinados à categoria “sócios do clube” e 162 à categoria “PCD com acompanhante”. Todas essas vendas foram realizadas pela plataforma “Ingressos Corinthians”, com links de pagamento liberados diretamente por um funcionário do clube.
Divergências contratuais e ingressos sem identificação
O clube também garantiu às autoridades que o Programa Fiel Torcedor contempla “todas as categorias e planos” e que aproximadamente 70% da carga de ingressos é disponibilizada dentro do programa. No entanto, o contrato entre o clube e a OneFan, empresa responsável pela gestão do Fiel Torcedor, revela que os planos “Minha Torcida” e “Minha Cadeira” não são contabilizados como parte do programa. Além disso, os ingressos destinados a sócios do clube social e aos camarotes também não entram nessa conta, e a empresa não recebe participação nos ganhos provenientes desses setores.
Outro dado controverso envolve a emissão de ingressos cortesia. O clube declarou que todas as entradas dessa categoria são nominais e registradas corretamente. No entanto, planilhas analisadas pela reportagem mostram que muitos ingressos foram cadastrados apenas como “Cortesia 1” e “Cortesia 2”, sem identificação dos beneficiários.
Reclamações de torcedores e investigação em andamento
Nos últimos meses, torcedores cadastrados no Fiel Torcedor têm relatado dificuldades crescentes para comprar ingressos, mesmo estando com seus planos em dia. As reclamações se multiplicam em redes sociais, canais de ouvidoria do clube e até mesmo em boletins de ocorrência registrados na Polícia.
O Corinthians, por sua vez, anunciou recentemente a “Operação Ingresso Legal“, uma iniciativa para combater a revenda irregular de ingressos emitidos por perfis vinculados ao próprio clube. Enquanto isso, as investigações da Polícia Civil seguem em andamento, buscando esclarecer se há envolvimento direto de dirigentes e funcionários na destinação indevida de ingressos e na suposta facilitação do cambismo.
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