T5, Ep. 10 | Daniel Pacheco: «O projeto do FC Famalicão, com a devida distância, é parecido com o do Benfica» | OneFootball

T5, Ep. 10 | Daniel Pacheco: «O projeto do FC Famalicão, com a devida distância, é parecido com o do Benfica» | OneFootball

In partnership with

Yahoo sports
Icon: Zerozero

Zerozero

·6. November 2024

T5, Ep. 10 | Daniel Pacheco: «O projeto do FC Famalicão, com a devida distância, é parecido com o do Benfica»

Artikelbild:T5, Ep. 10 | Daniel Pacheco: «O projeto do FC Famalicão, com a devida distância, é parecido com o do Benfica»

No décimo episódio da temporada, o Primeiro as Senhoras recebeu mais um convidado que está ligado a um dos clubes da Liga BPI. Daniel Pacheco colocou em pausa a carreira de treinador para abraçar o desafio de ser coordenador técnico no «projeto apaixonante» que o FC Famalicão começa a traçar.

No «ano zero» de uma nova era no emblema famalicense, o responsável por definir toda a estratégia do conjunto minhoto esteve no zerozero para explicar todo o projeto e divulgar, inclusive, algumas novidades em primeira mão.


OneFootball Videos


ZEROZERO (ZZ): Disse que o FC Famalicão era um projeto que estava a precisar. No último ano esteve ausente, desde que saiu do projeto do Länk Vilaverdense. O que é que se passou neste último ano?

Daniel Pacheco (DP): Até me permitem esclarecer algumas coisas. Nós chegámos a renovar com o Länk Vilaverdense, em julho, e o que estava em cima da mesa era um projeto bastante aliciante, ambicioso. Só que, de repente, o investidor decidiu alterar radicalmente o projeto ao nível do investimento e achamos por bem sair do projeto. Deixou de haver identificação com o caminho que queriam trilhar para o futebol feminino. Saímos sem mágoa absolutamente nenhuma. Continuo com uma relação muito próxima com o presidente, porque não confundi o clube com a pessoa. O Nené é alguém com quem eu falo, embora as relações com a agência com a qual trabalho não sejam as melhores. A relação pessoal ficou lá.

Depois, como sabem, desenho projetos no âmbito social. Tinha na gaveta o desafio de várias pessoas de desenhar um projeto social para o futebol feminino e foi um ano em que estive completamente dedicado a isso. Estive a terminar o projeto, as candidaturas para os fundos sociais europeus terminaram agora em outubro. Tivemos a aprovação de uma Câmara Municipal e temos outras três interessadas no projeto. Vamos trabalhar o futebol feminino de uma forma social, com os bairros sociais e com os apoios das Câmaras Municipais. É um projeto muito grande, com um investimento de quase 350 mil euros. O projeto piloto vai ser iniciado em Guimarães e foi algo que me deu imenso trabalho.

Aqui e ali tivemos alguns clubes interessados. Por este ou por aquele motivo, as coisas não aconteceram. Houve projetos que não nos aliciaram, outros que nos aliciaram, mas por algum motivo não aconteceram. Sempre mostrei esta independência em relação ao futebol feminino e o último ano mostrou isso, porque tenho outras ocupações. Mantive-me tranquilo e sabia que iam aparecer projetos. Nunca pensei que aparecesse algo com esta amplitude de ação. Nunca estive no futebol como estou agora, numa coisa mais macro e onde tenho de olhar para o projeto de cima a baixo. Sou responsável por tudo o que acontece com o futebol feminino. No início, quando me ligam a primeira vez e me explicam a ideia, tive alguma dificuldade em perceber. Depois sentei-me com eles e ficou tudo claro. Está a dar-me um gozo especial.

ZZ: A experiência com os projetos sociais ajudou a ampliar a visão para essa questão mais macro?

DP: Sim. Na reunião que tive com o vice-presidente responsável pelo futebol feminino do FC Famalicão, José Miguel Costa, ele referiu isso mesmo. Sentiam que havia em mim uma visão diferente do que os treinadores têm, uma coisa mais ampla. Por aí é que pensaram em mim para estruturar e pensar o projeto mediante a ideia do clube, porque a ideia vem do presidente e do vice-presidente. O nosso presidente, o José Pina Ferreira, é alguém que chegou ao FC Famalicão e percebeu rapidamente o problema do futebol feminino e mudou o paradigma para o que eu acho que é o único que pode ter futuro.

Quando um clube como o FC Famalicão, por muito que custe aos adeptos ouvir o que eu vou dizer... Quando se olha para o projeto e se diz 'aconteça o que acontecer no final da época, vamos estar prontos para reagir e sabemos que a única hipótese de futuro é precisamente termos uma aposta muito mais forte na nossa formação'. É evidente que este ano é o ano zero. Não conseguimos ainda melhorar a capacidade de scouting para as sub-15, sub-17 e sub-19. Mas acredito que num futuro próximo o scouting do FC Famalicão será muito mais focado nesses escalões do que propriamente na equipa sénior feminina. A visão do nosso presidente e também do vice-presidente é essa: não pode haver futebol feminino com o investimento tão grande quanto o FC Famalicão estava a fazer. Isso trouxe problemas muito grandes para o clube e não podíamos continuar nesse caminho.

Temos dez jogadoras que vêm diretamente da formação e treinam todos os dias com a equipa A. Já é um reflexo muito grande. Estamos a falar de mais de 40 por cento do plantel que vem da formação e são jogadoras ainda com idade de sub-19. É muito importante que as pessoas percebam isto. Há aqui uma ideia que também é muito importante retirar das pessoas: o projeto nunca esteve em causa. Quando se falou na pré-época, que chegou a haver rumores... Nunca esteve em causa. Teve que se parar com o que estava a ser feito, que era insustentável para o clube, e teve de se reformular. Houve um vazio de informação muito grande porque as pessoas estavam a repensar o projeto todo. Fiz parte desse processo, fizemos um plantel que consideramos que poderá ser competitivo. Ainda não o é, mas poderá ser.

O FC Famalicão reduz claramente no orçamento para as jogadoras, seremos talvez uma das equipas com orçamento mais baixo para as jogadoras, mas no que é estrutural aumentou o investimento. É mesmo uma questão de projeto. Nós continuamos com a Marina, a nossa team manager, totalmente profissional. Continuamos com uma nutricionista, continuamos a fazer estágios e a ter todas as condições de trabalho. Trabalhamos todos os dias em relvado natural, temos todas as condições para as jogadoras no pós-treino e pré-treino.

Há um pensamento geral de tudo o que queremos e precisamos. Diria que, com as devidas distâncias, é muito parecido com o Benfica, com a forma como o Benfica está estruturado, com o professor Fonte Santa a pensar tudo o que seja relacionado com o futebol feminino. Com a devida escala, claro, porque estou muito longe do professor Fonte Santa e a própria dimensão dos clubes. Mas diria que o pensamento de estruturação do clube e das equipas femininas é algo parecido.

ZZ: Há alguma desconfiança dos adeptos, que estavam habituados a outra coisa. Não vai há muito tempo que o FC Famalicão ganhou uma Taça de Portugal.

DP: Eu entendo que essa Taça de Portugal seja vista pelos adeptos como um momento único da história do FC Famalicão. Entendo perfeitamente. O que devemos perguntar é qual foi o custo dessa Taça de Portugal e que implicações é que isso teve no futebol feminino do clube. De repente, o que pensamos é que é possível ganhar essa Taça e se calhar numa ótica de médio/longo prazo, com uma estrutura diferente e que não ponha em causa os anos vindouros do clube. Temos a visão de que é possível fazê-lo e é possível com jogadoras jovens e que possamos potenciar o talento delas.

ZZ: O futebol feminino ainda tem muito a questão dos contratos serem de curta duração. Ainda é uma dificuldade prender as jogadoras a contratos mais longos? É este um passo que o FC Famalicão também quer dar?

DP: É um dos grandes problemas do futebol feminino em Portugal e é um problema que o FC Famalicão não terá na próxima época. É certo que teremos em 2025/26 a preparação efetivada até maio. Diria que, do atual plantel, umas 14 jogadoras renovarão antes de a época terminar. Estão identificadas, estamos à espera dos timings certos e é preciso conversar com os empresários, explicar o plano desportivo. Também difere se a equipa está na Liga BPI ou vai estar noutro campeonato, embora o projeto não se desvie.

ZZ: A quanto tempo está desenhado o projeto?

DP: Diria que está pensado a cinco anos. A ideia global do projeto são cinco anos. Há um alinhamento muito grande no que o clube e a SAD pensam em relação ao futebol feminino. As relações estão muito saudáveis, há uma simbiose de ideias do que deve ser feito no futebol feminino, que é do clube e não propriamente da SAD. Toda a gente se sentou à mesa e decidiu pensar o futebol feminino. Saiu dessa comunhão de ideias este projeto e diria que é a cinco anos.

O que posso garantir é que deixarei tudo pronto para a próxima época, de certeza absoluta. A nível de renovações, de talento identificado para as sub-19, talento jovem identificado para a equipa A, para as sub-17. Principalmente sub-19 e sub-17. Isso eu garanto que vai estar tudo planeado. A época estará planeada, os orçamentos, as jogadoras já com as renovações efetuadas. Esse trabalho eu garanto que deixarei feito e acho que está toda a gente no clube sossegada em relação a isso.

O que vai acontecer na próxima época não sei, mas diria nesta fase que continuaremos [inseridos] no projeto. É difícil olhar a médio/longo prazo, porque na carreira acontecem sempre muitas coisas. Mas este papel que tenho agora está a dar-me muito prazer. Nunca pensei que fosse gostar tanto. Numa situação normal eu veria com o meu empresário no final da época que clubes podiam aparecer, mas neste projeto é diferente. Estou muito apaixonado pelo projeto e pelo clube. Vejo-me a continuar. O projeto diria que a cinco anos, se calhar nessa altura haverá frutos, uma equipa a lutar por objetivos ambiciosos e os adeptos a identificarem-se completamente com a equipa, com raízes do concelho e uma simbiose grande entre adeptos e equipa.

A conversa está disponível, na totalidade, no Primeiro as Senhoras, o podcast do zerozero dedicado ao futebol feminino. Não perca!

Impressum des Publishers ansehen