
Calciopédia
·22 October 2025
Atropelado, o Napoli teve fragilidades expostas pelo PSV na Champions League

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·22 October 2025
O Napoli chegou aos Países Baixos buscando reencontrar, na terceira rodada da Liga dos Campeões, a força coletiva que lhe levou a um início positivo na Serie A – mas que parece ter se perdido em outubro. Bastaram 90 minutos no Philips Stadion para a realidade europeia mostrar-se bem mais cruel e fazer o alarme soar na Campânia. Protagonista de uma das partidas mais impressionantes desta edição da Champions League, o PSV Eindhoven foi rápido, intenso, impiedoso e perfeitamente sincronizado, goleando por 6 a 2 e deixando os partenopei à deriva entre erros defensivos, desatenções e um colapso emocional que o técnico Antonio Conte definiu como o prenúncio de “um ano complexo”. Foi uma das piores derrotas dos azzurri em competições da Uefa em toda a história.
Ainda sem o lesionado Højlund, mas contando com as voltas de McTominay e Politano ao time titular, o Napoli encarou um PSV postado no 4-2-3-1 e com várias figuras que passaram pelo futebol italiano – Perisic, Schouten, Man, Flamingo e Salah-Eddine no onze inicial, além de Dest no banco. Em teoria, a equipe de Conte, no já habitual 4-1-4-1, chegava a espelhar, nos encaixes, a formação de Peter Bosz. Na prática, o ritmo elevado levou ao desajuste dos azzurri e a bastante alternância de domínio, em um cenário que se mostraria favorável aos mandantes no longo prazo.
Nos primeiros minutos, o Napoli demonstrou maior agressividade na marcação, optando por um sistema individualizado, que dificultou as saídas de bola do PSV. Ainda assim, os holandeses mostraram capacidade de adaptação, alternando passes curtos com investidas rápidas pelas pontas. De cara, Lucca desperdiçou boa chance após passe vertical de McTominay, sinalizando o caráter aberto do jogo. De Bruyne, aos 6, teve outra oportunidade: driblou o goleiro Kovar, cruzou, e a defesa afastou o perigo em escanteio. O PSV respondeu com Man, ex-Parma, que obrigou Milinkovic-Savic a efetuar uma defesa sensacional. Na sequência, Til perdeu uma nova ocasião.
A partida continuou apresentando boas chances para os dois times nos minutos seguintes. Na casa dos 18, Saibari teve um gol anulado por impedimento, enquanto aos 21 o zagueirão Flamingo, ex-Sassuolo, mandou para fora uma cabeçada a partir de uma boa posição. A resposta do Napoli apareceu já aos 28, com um chute perigoso de Spinazzola.
O Napoli sofreu defensivamente e o PSV não se fez de rogado: aproveitou para construir uma goleada histórica (Getty)
O equilíbrio inicial foi rompido aos 31 minutos, em rápida sequência de gols. Primeiro, Spinazzola deixou Schouten, ex-Bologna, para trás e cruzou com precisão para McTominay, que cabeceou firme para abrir o placar a favor do Napoli. O empate, contudo, saiu do papel quase imediatamente: ex-Roma, Salah-Eddine e Perisic, que foi ídolo na Inter, construíram boa tabela pela esquerda, e Buongiorno, ao tentar se antecipar a Til e interceptar o cruzamento do croata, acabou desviando de maneira bizarra, com o cocuruto, contra o próprio gol.
O PSV Eindhoven se empolgou e, ainda antes do intervalo, estabeleceu sua vantagem. O lance que originou o segundo gol começou na área dos holandeses, quando o capitão Schouten desarmou Lucca com um carrinho preciso – os azzurri pediram pênalti, mas nada ocorreu. Saibari aproveitou erro do zagueiro Beukema, que falhou ao tentar manter a posse para o Napoli, com um passe indecente, e, após receber a assistência de Til, disparou em contra-ataque para virar a partida, concluindo com frieza diante de Milinkovic-Savic. O 2 a 1 no placar refletia a eficiência holandesa frente à irregularidade napolitana, que oscilava entre bons momentos ofensivos e falhas defensivas preocupantes.
O segundo tempo transformou-se em um verdadeiro espetáculo do atual campeã holandês, embora a primeira oportunidade tenha sido de Lucca, num cabeceio perigoso. Logo aos 54 minutos, o brasileiro Mauro Júnior fez excelente jogada pela esquerda e cruzou para Man, que concluiu por entre as pernas de Beukema, ampliando para o PSV: 3 a 1.
O destempero de Lucca, expulso por reclamação, foi o retrato de um Napoli pouco lúcido em Eindhoven (Getty)
A partir daí, o time da casa mostrou domínio absoluto, enquanto o Napoli se desorganizava emocionalmente: Til, Perisic, Schouten e Mauro Júnior quase ampliaram em sequência. Aos 76 minutos, Lucca perdeu a cabeça e reclamou acintosamente com o árbitro Daniel Siebert, recebendo cartão vermelho direto – retratando o nível de descontrole dos azzurri nesta noite. Com a expulsão, o PSV até poderia ter administrado o placar, mas o time de Bosz estava ciente de que o saldo de gols pode fazer a diferença na acirrada fase de liga da Champions League. Assim, manteve o ímpeto ofensivo.
O quarto gol do time de Eindhoven saiu aos 80. Man, novamente decisivo, puxou a bola da direita para a sua perna esquerda, em posição mais central, e arriscou um forte chute de fora da área. O romeno contou com falha de Milinkovic-Savic, que tinha visão encoberta e nem pulou para tentar rebater um arremate que nem foi tão no canto.
Nos minutos finais, o jogo ganhou ares caóticos, com chances para ambos os lados. Sem o apagado De Bruyne, que foi rendido por Elmas aos 84, o Napoli diminuiu aos 86: McTominay, novamente de cabeça, colocou na rede após escanteio cobrado por David Neres. Entretanto, a reação italiana foi contida imediatamente e o PSV respondeu rapidamente, com dois gols em sequência.
McTominay marcou duas vezes, mas não evitou o vexame do Napoli (Getty)
O primeiro – ou melhor, o quinto – foi do promissor norte-americano Pepi. O atacante aproveitou passe de seu homólogo Driouech, que recebeu no espaço deixado por Di Lorenzo, para empurrar para o gol vazio na casa dos 87 minutos. Depois, o próprio Driouech coroou a boa atuação coletiva do PSV ao finalizar uma belíssima troca de passes que envolveu a zaga do Napoli. E o marroquino o fez com categoria, com um chute potente de fora da área, que encobriu Milinkovic-Savic e, aos 89, decretou o expressivo 6 a 2.
A partida terminou com uma rara defesa do sérvio em conclusão de Pepi, mas o massacre já estava selado. Os holandeses impuseram aos napolitanos a sua maior derrota em torneios organizados pela Uefa, ao lado de um 5 a 1 aplicado pelo Werder Bremen nas oitavas da Copa Uefa, em 1989-90, com Maradona e Careca em campo. O Napoli, entretanto, jamais havia sofrido seis gols em torneios da entidade. A surra também foi a pior da carreira de Conte como treinador.
Com o resultado, o PSV – que alcançou a sua primeira vitória nesta Champions League – ultrapassou o Napoli na tabela: chegou aos 4 pontos, contra 3 dos azzurri. Na próxima rodada, os italianos receberão o Eintracht Frankfurt, enquanto os neerlandeses viajam até a Grécia para encararem o Olympiacos. Até lá, contudo, muito precisará ser reavaliado em Nápoles. Até porque, já nesse fim de semana, pela Serie A, o atual campeão italiano recebe a Inter, uma de suas grandes rivais na luta pelo scudetto.
Ao pagar caro pelas falhas defensivas e pela falta de consistência após o intervalo, que levaram o PSV a se impor em seus domínios, o atropelado Napoli abriu espaço para contestação: são três derrotas nos cinco últimos jogos e as boas atuações têm sido raras em 2025-26. Ironicamente, Conte atribuiu grande parte da goleada à excelente sessão de mercado feita pelo clube. Para ele, os nove reforços contratados “foram demais”. Segundo o técnico, eles ainda não se adaptaram à sua filosofia e isso dificultaria o trabalho nos meses iniciais da campanha. Sem dúvidas, uma linha de raciocínio deveras exótica.