
Gazeta Esportiva.com
·26 June 2025
De volta ao São Paulo, Crespo encara missões diferentes em segunda passagem

In partnership with
Yahoo sportsGazeta Esportiva.com
·26 June 2025
Hernán Crespo foi devidamente anunciado e apresentado como novo técnico do São Paulo na última terça-feira. Contratado após a saída de Luis Zubeldía, o argentino retorna ao clube após quatro anos e encara missões ‘diferentes’ em sua segunda passagem.
O comandante reencontrou alguns remanescentes de quando esteve no clube, como Arboleda, Luan, Luciano e Calleri. Apesar dos velhos conhecidos, muita coisa mudou. Antes, o objetivo era findar o jejum de títulos e ajustar o time. Agora, Crespo tem as missões de afastar o perigo do rebaixamento e dar uma nova identidade à equipe.
Em sua primeira passagem no São Paulo, Crespo chegou ao clube em fevereiro de 2021. Na época, os estádios estavam proibidos de receber torcida devido à pandemia de Covid-19. Ou seja, o treinador ainda não teve a oportunidade de viver a atmosfera do Morumbis lotado, o que mudará neste 2025.
Em 2021, Crespo pegou o São Paulo no início da temporada com um grande objetivo: tentar colocar um ponto final no jejum de quase nove anos sem títulos do Tricolor. O argentino, contudo, não teve muito tempo para trabalhar, uma vez que pegou todas as competições já em andamento: Paulista, Libertadores e Brasileirão.
Ainda assim, o técnico conseguiu implementar seu estilo de jogo e foi um dos responsáveis por ajudar o São Paulo a findar o jejum de títulos. A equipe tricolor venceu o rival Palmeiras por 2 a 0 e sagrou-se campeã do Paulista, fato que deu ainda mais força a Crespo no início do trabalho.
Contudo, apesar do início promissor, o desgaste com o calendário intenso, as lesões do plantel e a queda de rendimento em competições nacionais acabaram abreviando a primeira passagem do argentino. O Tricolor caiu nas quartas de final da Libertadores e da Copa do Brasil, e brigou contra a parte de baixo da tabela no Brasileirão, com apenas seis vitórias em 25 jogos.
O cenário atual do São Paulo, porém, é um pouco diferente do qual Crespo encontrou no início de sua primeira passagem, pois o time não está em uma situação confortável no Brasileirão. Quando Crespo chegou, há quatro anos, o Tricolor havia perdido a liderança, mas ainda ocupava as primeiras colocações. Hoje, a equipe está brigando contra o rebaixamento e ocupa a 14ª posição, com 12 pontos – somente um a mais que o Inter, que abre o Z4.
O comandante, portanto, terá a responsabilidade e a pressão de tirar o São Paulo da situação preocupante na Série A. Em coletiva na última terça-feira, inclusive, ele deixou claro que a urgência é o torneio de pontos corridos. O Tricolor nunca foi rebaixado em sua história, e Crespo quer evitar que isso aconteça sob seu comando.
Em meio à busca pela melhora no Brasileirão, o técnico também terá que lidar com as disputas das oitavas de final da Libertadores e da Copa do Brasil. Na competição continental, o São Paulo encara o Atlético Nacional, da Colômbia. Já no torneio nacional, pega o Athletico-PR.
A ‘sorte’ de Crespo é que ele terá tempo para trabalhar e corrigir o que acredita ser os problemas da equipe. Em função da Copa do Mundo de Clubes da Fifa, que paralisou o calendário do futebol brasileiro até 12 de julho, o treinador terá uma espécie de mini pré-temporada, o que não aconteceu em sua primeira passagem.
O argentino terá quase três semanas para preparar a equipe para a retomada do calendário. Neste meio-tempo, Crespo revelou quais serão seus planos iniciais. Ele planeja consolidar uma identidade de jogo para que a equipe volte a ser competitiva dentro de campo.
Crespo teve a oportunidade de conhecer alguns jogadores do elenco que já voltaram aos trabalhos no CT da Barra Funda, como Lucas, Calleri, Ferreira e Juan Dinenno. O grupo completo do São Paulo, por sua vez, se apresenta já nesta quinta-feira para dar início aos trabalhos sob o comando do argentino.
“Sigo sendo a mesma pessoa de antes, mas tenho mais ferramentas para poder oferecer ao grupo. O que é mais importante é que nenhum treinador tem a fórmula mágica. Não existe o manual do treinador vencedor, não existe. Temos que trabalhar. O que posso, sim, garantir, é que a equipe vai ser muito competitiva. A equipe vai competir. Ganhar? Vamos ver, temos que chegar nesse momento. O primeiro que temos que fazer é tratar de competir e dar uma identidade, o que creio ser a minha identidade”, afirmou.
“Respeito muito o trabalho do Zubeldía, me parece um grande treinador, alguém que conheço, então tenho muito respeito. Vou tratar de aproveitar o trabalho que Zubeldía fez até aqui, para dar uma identidade com a qual me identifique pessoalmente. Meu prazer será que o torcedor do São Paulo se identifique com a equipe e, para isso, precisa-se de tempo”, prosseguiu.
Crespo também destacou a importância de não se prender a um estilo de jogo específico. Parte da torcida são-paulina argumentava que Zubeldía não abria mão de suas convicções táticas e apostava quase sempre na mesma estratégia, independente do adversário.
Na visão de Crespo, o São Paulo não deve apostar somente no pragmatismo ou no ‘jogo bonito’. O ponto focal do Tricolor deve ser manter a identidade de uma equipe competitiva, que pode adotar as duas posturas em diferentes momentos na sequência da temporada.
Em sua primeira passagem no São Paulo, por exemplo, Crespo adotou o sistema com três zagueiros, que foi um sucesso nos primeiros meses de trabalho. Foi justamente com esse esquema que o treinador sagrou-se campeão paulista e encerrou o jejum de títulos.
“Estamos falando de dois mundos paralelos. ‘Temos que ser pragmáticos, ponto. Jogar bonito, não sei’. E, para mim, não. Porque não existe uma fórmula. Foi o que disse antes, não existe fórmula mágica. Jogar pragmático garante pontos, e jogar bonito não. Não estou de acordo. A identidade é o que alguém sente. Não é um 3-5-2, 4-3-3. A identidade é outra coisa, é um estilo, é forma de entender e viver o futebol. Nós queremos jogar bem. Jogar bem para mim significa que os jogadores entendam as necessidades da partida. O que temos que fazer para ser melhor que o adversário, e entender que o adversário também joga e pode ser superior a nós, tranquilamente, e aceitar isso”, apontou.
“Estamos falando de uma equipe com uma história tão grande, como o São Paulo, que tem que entender as características dos jogadores. Para mim, não são duas coisas separadas. Vou voltar ao meu lugar como ex-jogador. Joguei no ataque com Drogba, com Shevchenko, com Vieri. Todos eles tinham características diferentes. Mas uma coisa que não mudava era minha fome de fazer gols. Podemos mudar situações, mas não muda a identidade. É isso que pretendo no São Paulo. Vamos jogar com três, quatro [zagueiros], 4-4-2, 3-5-2. Mas a identidade de ganhar, vencer o jogo, ser ofensivos, tratar de criar situações, isso não vai mudar”, concluiu o comandante.
A estreia de Crespo no São Paulo deverá ser contra o Flamengo, em pleno Maracanã. Isso, é claro, se o time rubro-negro não chegar às fases finais do Mundial de Clubes. Caso isso aconteça, o treinador deve estrear diante do Red Bull Bragantino, também fora de casa.