MundoBola Flamengo
·11 October 2025
O futebol que eu via e o jornalismo esportivo que vejo hoje

In partnership with
Yahoo sportsMundoBola Flamengo
·11 October 2025
Eu acompanho futebol desde moleque, lá pelos idos de 1985 ou 1986. Tinha sete anos, lembro da Copa, das bandeirinhas nas janelas, da família reunida em frente à TV de tubo. Foi ali que começou uma relação que, por muito tempo, foi de pura paixão.
Durante anos, eu assistia de tudo: campeonato estadual, Seleção, Libertadores, amistoso, o que passasse. Gostava do jogo, da tática, das histórias, da emoção. Mas, aos poucos, fui me afastando. Hoje, confesso que vejo praticamente só o Flamengo.
Não porque o resto tenha perdido o brilho, mas porque o entorno do futebol se tornou difícil de acompanhar. E o que me afastou não foi o jogo em si, mas o que se fala sobre ele.
Antes, o jornalismo esportivo era, pra mim, uma extensão do prazer de ver futebol. Tinha admiração por alguns jornalistas. Caras experientes, de opinião forte, mas sempre com respeito à informação, ao fato, à verdade.
Ultimamente, no entanto, tenho visto um cenário que me deixa espantado. Profissionais com décadas de estrada, referências para muita gente, caindo em armadilhas que beiram o absurdo.
Não sei se é por clubismo, por pressão, por audiência ou por simples vaidade, mas o que se vê hoje é um contorcionismo quase artístico para transformar fatos em versões convenientes. Parece que a verdade perdeu espaço para a narrativa mais confortável.
Parei de acompanhar os programas da TV aberta há tempos. Depois, larguei a TV fechada. Hoje, sigo uns poucos canais, e mesmo assim, cada vez com menos paciência. O foco, que deveria ser o futebol, virou um palco de debates apaixonados, distorcidos e, muitas vezes, sem o menor compromisso com a realidade.
O mais triste é pensar que muitos desses jornalistas eram a base de referência para as gerações seguintes. Se quem servia de exemplo se deixou levar por isso, o que esperar de quem está começando agora?
A consequência é inevitável: o debate se empobrece, a credibilidade se perde, e o futebol vira só mais um pretexto pra briga de torcida.
Hoje, ligo a TV e vejo menos jornalismo e mais torcida disfarçada de análise. É desanimador.
Não sei pra onde vamos, sinceramente. Se os mestres já se desviaram, os aprendizes dificilmente farão diferente. Talvez ainda existam alguns resistentes - gente que acredita que o futebol merece mais do que gritaria e clubismo. Mas, por enquanto, o futuro do jornalismo esportivo me parece sombrio.
E eu que comecei lá atrás, com sete anos e um brilho no olhar, sigo tentando manter acesa a chama daquele futebol que eu via. O que era jogo, paixão e verdade.
Rico Monteiro é advogado - sócio do escritório Heringer, Monteiro e Curvelo Advogados. Pós Graduado em Processo Civil. Ex-Professor da ESA e da Estácio de Sá. Pai de duas Marias, apaixonado por música e pelo Flamengo. Siga
Live