Esporte News Mundo
·31 December 2025
Retrospectiva 2025: Um ano de transição, conflitos e esperança no Botafogo

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·31 December 2025

O ano seguinte à maior conquista da história costuma ser implacável. Para o Botafogo, 2025 foi exatamente assim: um período marcado por instabilidade esportiva, decisões apressadas, perdas profundas dentro e fora de campo e uma permanente sensação de reconstrução. Ainda assim, entre tropeços e conflitos, o clube conseguiu resistir, sobreviver e encerrar a temporada olhando para 2026 com expectativa, mesmo que cercada de incertezas.
O ponto de partida do ano foi simbólico. Pouco depois de levantar Libertadores e Brasileirão em 2024, o Botafogo precisou lidar com a saída do comandante que havia liderado o período mais vitorioso de sua história recente. A decisão de Artur Jorge em aceitar uma proposta do futebol do Catar abriu um vazio técnico e emocional que o clube demorou a preencher.

Artur Jorge – Foto: Vitor Silva/BFR
Sem um substituto definido, o Alvinegro iniciou a temporada de forma improvisada, entregando o comando da equipe a um treinador das categorias de base. O que deveria ser provisório se alongou, e os primeiros compromissos importantes de 2025 foram disputados em meio à indefinição.
A escolha por um interino, Carlos Leiria, que até então era treinador do time sub-20 coincidiu com jogos de peso. Supercopa do Brasil e Recopa Sul-Americana escaparam, deixando claro que o Botafogo entrava no ano sem a mesma força de convicção que havia marcado o título continental. O Campeonato Carioca seguiu o mesmo roteiro: atuações irregulares e um desempenho abaixo do esperado, que culminou numa campanha distante das fases decisivas.

Carlos Leiria – Foto: Divulgação/BFR
Enquanto isso, a ausência de reforços e a lentidão no planejamento expunham um clube ainda celebrando o passado, mas atrasado em relação ao presente.
A temporada também começou com despedidas dolorosas. Peças centrais do time campeão foram negociadas, entre eles, o atacante Luiz Henrique, indo para o Zenit, da Rússia, e Thiago Almada, indo para o Lyon, obrigando o Botafogo a reformular sua espinha dorsal. A saída de jogadores decisivos alterou o equilíbrio do elenco e exigiu reposições que demoraram a chegar.
Ao longo dos primeiros meses, o grupo foi perdendo identidade. O impacto das mudanças não foi apenas técnico, mas também simbólico: o time campeão se dissolvia rapidamente, e a nova versão ainda não se reconhecia em campo.
Em meio aos resultados ruins, a diretoria sustentou o discurso de que a temporada, de fato, começaria apenas com o Brasileirão e a Libertadores. A ideia de um “início tardio” virou quase um mantra, mas custou caro esportivamente. O Botafogo entrou nas grandes competições pressionado, sem margem para erros e ainda em processo de adaptação.
Após negativas de nomes consolidados, a solução encontrada foi interna e surpreendente. Renato Paiva surgiu como escolha rápida, fruto mais de oportunidade do que de planejamento a longo prazo. A contratação simbolizou bem o espírito do ano: decisões tomadas no limite do tempo, sem grande convicção, mas com a esperança de que funcionassem.

Renato Paiva – Foto: Buda Mendes/Getty Images
Se o cenário doméstico era instável, o palco internacional reservou um dos capítulos mais marcantes de 2025. Na Copa do Mundo de Clubes, o Botafogo entrou desacreditado, reforçou o elenco durante a competição e acabou protagonizando uma campanha que devolveu orgulho ao torcedor.

Botafogo x PSG – Foto: Vitor Silva/BFR
A classificação em um grupo considerado impossível e a vitória sobre um gigante europeu se tornaram o ponto alto do ano. Por alguns dias, o Botafogo voltou a competir em pé de igualdade com o mundo.
O encanto durou pouco. Após a eliminação para um rival brasileiro, veio mais uma ruptura. A comissão técnica foi desfeita de forma repentina, evidenciando divergências internas e um modelo de gestão centralizado. A escolha seguinte foi ousada: Davide Ancelotti, um treinador jovem, em seu primeiro trabalho como técnico principal, assumiu a missão de conduzir o restante da temporada.

John Textor e Davide Ancelotti no Botafogo – Foto: Vitor Silva / Botafogo
O segundo semestre foi cruel. Vendas em bloco para o exterior, negociações contestadas o goleiro John, o zagueiro Jair, o atacante Igor Jesus e o lateral Cuiabano foram vendidos ao Nottingham Forest. Em poucos meses, o Botafogo perdeu metade de sua base titular, entrando na fase decisiva do ano com um elenco remendado.
Como se o campo não bastasse, os bastidores entraram em ebulição. Conflitos judiciais entre investidores e a SAF vieram a público, expondo divergências profundas sobre gestão, finanças e controle. O clube passou a operar de forma mais isolada, rompendo, na prática, a lógica de integração com outros times da rede internacional.
A disputa jurídica trouxe insegurança institucional e levantou dúvidas sobre o futuro do projeto.
Com um elenco enfraquecido e um trabalho ainda em adaptação, o Botafogo caiu antes do esperado nas competições mata-mata. A eliminação continental e a despedida da Copa do Brasil selaram um ano sem títulos e deslocaram toda a pressão para o Campeonato Brasileiro.
Nem mesmo internamente houve consenso. O clube social entrou no debate jurídico, questionando a condução da SAF e exigindo garantias. A Justiça interveio de forma parcial, estabelecendo limites, mas o clima político permaneceu tenso até o fim da temporada.
Apesar de tudo, o Botafogo não desabou. Mesmo assolado por lesões em série, o time encontrou forças para reagir. Uma sequência invicta na reta final recolocou o clube na zona de classificação continental e garantiu, ao menos, a presença na próxima Libertadores.
Foi um fim de ano de sobrevivência, não de celebração.
Mais uma ruptura no comando
Quando parecia haver estabilidade, veio nova mudança. Divergências internas e conflitos sobre a comissão técnica encerraram de forma precoce o trabalho do treinador italiano. Mais uma vez, o Botafogo precisou recomeçar antes mesmo de terminar o ano.
Desta vez, a escolha foi rápida. Um treinador argentino, Martin Anselmo, campeão da sul-americana pelo Independiente Del Valle, identificado com ideias modernas e personalidade forte, foi anunciado como o nome para liderar a próxima temporada. A decisão sinaliza uma tentativa de ruptura com 2025 e a busca por um projeto mais claro.

Martin Anselmi – Foto: Divulgação/Porto
2025 ficará marcado como o ano em que o Botafogo aprendeu, da forma mais dura, o peso de sustentar o topo. Foi uma temporada de erros, conflitos e instabilidade, mas também de resistência. O clube termina o ciclo ferido, porém vivo, e com a obrigação de transformar lições em planejamento para não repetir o mesmo roteiro em 2026.

(Foto: Vítor Silva/Botafogo)









































