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·19 de mayo de 2025

OPINIÃO: Fim do basquete era questão de tempo. E modalidade serviu só para catapultar Belmonte politicamente

Imagen del artículo:OPINIÃO: Fim do basquete era questão de tempo. E modalidade serviu só para catapultar Belmonte politicamente

Festa pelo título paulista de 2021: adeus basquete (Rubens Chiri/SPFC)

RAFAEL EMILIANO@rafaelemilianoo


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"O São Paulo não é só futebol. Mas é só futebol".

A frase enigmática foi dita a esse escriba em uma nublada tarde de fevereiro de 2006 pelo então presidente Juvenal Juvêncio, recém-empossado no cargo, em um bate-papo com jornalistas em um dia banal de treino no CT da Barra Funda.

Voltando no tempo, na ocasião eu era um mero estagiário de um conhecido portal esportivo, completamente apaixonado por basquete e que tinha uma informação de que uma universidade de Mogi das Cruzes (SP) buscava uma parceria com um grande clube do futebol paulista para, digamos 'alugar a camisa'.

Na ocasião, o São Paulo contava com equipes de handebol, vôlei e futsal competindo ao menos o Estadual e parecia a escolha mais assertiva para um projeto que nascera grande. Até porque ostentava o título informal de clube mais organizado (e rico) do país na ocasião.

Juvenal declinou da negociação e a universidade acabou acertando com o rival Corinthians, conseguindo relativo sucesso, com um vice-campeonato Paulista, perdido para o meu time do coração na modalidade, o Ribeirão Preto (que hoje está extinto, vejam só).

Percebendo o vacilo da frase, afinal ele mandava em um clube que ostenta duas estrelas em seu distintivo por conquistas olímpicas, Juvenal me chamou de canto instantes depois. E durante mais de 30 minutos pelo menos tentou explicar o que pensava sobre o assunto. Até que fazia certo sentido.

"As coisas hoje estão muito mais profissionais do que antes. Existe muitos custos no futebol, profissional e de base, que eu simplesmente não posso tirar verba deles para cobrir alguma outra modalidade sem o mesmo impacto. Eu tenho torcida, eu tenho paixão, por causa do futebol. No passado, as mensalidades do sócio permitiam, porque as bilheterias pagavam o futebol. Hoje não", disse, em uma tradução livre do que minha memória permite recordar, claro, da rara conversa tête-à-tête com um dos maiores dirigentes são-paulinos da história.

"Se tiver que cortar gastos, onde acha que vou cortar? São projetos que não se sustentam", completou, com a sobriedade que lhe é peculiar.

De fato, a profecia se fez como o previsto e, pouco a pouco, o Tricolor foi cortando o investimento profissional (nunca concordei com o termo amador, já que de amador esses esportes não têm nada) em todas as modalidades na gestão do histórico dirigente.

O basquete foi o pioneiro nos cortes de Juvenal assim que ele assumiu. Sem ter a modalidade na categoria adulta desde o início dos anos 1990, o São Paulo retomou as atividades fazendo parcerias tão logo Marcelo Portugal Gouvêa virou o mandatário. Com a Associação Atlética Guaru, de Guarulhos, disputou o Paulista da Série A-2 de 2002 e o Torneio Novo Milênio de 2003. Com a Associação Desportiva Santo André, o clube disputou o Novo Milênio e o Campeonato Paulista em 2005 e o polêmico Campeonato Nacional de 2006. Polêmico porque uma série de brigas judiciais mancharam a competição (e levaram à desistência da modalidade do meu Ribeirão Preto, por exemplo).

Esse era o cenário quando a universidade bateu à porta no Morumbi: o modelo de 'aluguel' de camisa já estava ultrapassado. E assumir por conta própria um time na modalidade parecia delírio, pelos custos, e causava o temor de Juvenal se que virasse algo personalista interno de alguém, que poderia urgir para dividir o protagonismo com ele caso o projeto fosse bem-sucedido. Na minha breve passagem como setorista d

o São Paulo naquele ano, mais de um conselheiro me procurou, dado o meu interesse no tema, para tentar plantar reportagens em que o presidente havia barrado planos deles de implantar a modalidade profissionalmente. Queria, claro, algum holofote à margem do que o futebol, então tricampeão continental, tricampeão mundial e com Cotia prestes a ser inaugurado, oferecia.

No fundo, a retórica de Juvenal estava correta. Se mesmo nos rivais Palmeiras e Corinthians, com departamentos de basquete mais sólidos e com histórico melhor e mais vencedor na modalidade, a manutenção de times profissionais vive um eterno vai e vem, no São Paulo, só o empenho de uma pessoa influente interna poderia sustentar um projeto.

Essa pessoa viria em 2017. E chama-se Carlos Belmonte...

No clima de 'barata voa' da gestão Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, com o clube vindo do furacão Aidar e muitas incertezas acerca do futuro político com a implantação de um novo estatuto social, Belmonte tinha em seu grupo político nomes fortes do Paulistano, o nobre clube paulistano 'pai' do Tricolor. Para ascender politicamente, era necessário um fato novo. E Belmonte junto com seus pares tirou da gaveta o projeto basquete.

Veio do Paulistano a ideia primordial. Fora do futebol profissional há quase um século, o tradicional clube sempre manteve as chamadas modalidades amadoras. E o basquete era uma espécie de carro-chefe, disputando títulos. Veio de lá o conhecimento necessário e a ideia básica de quanto custaria a aventura, autorizada por Leco.

A ascensão meteórica e principalmente o título paulista de 2021 conseguiram catapultar a imagem de Belmonte, fortalecer o seu nome internamente no clube e torná-lo uma figura conhecida da torcida em geral. Justificando, de certa forma, sua escolha para ser diretor de futebol da gestão Julio Casares, com quem se aliou e deu o apoio necessário no Conselho para ser eleito.

Em um clube enfiado em dívidas e que vivia uma desgastante fila de títulos, o sucesso do basquete supriu parte da carência da torcida. E no fundo, como falava Juvenal, projetos personalistas tinham o objetivo apenas ascensão pessoal.

Então, de uma só vez, o fim do basquete, anunciado nesta segunda-feira (19), é a coroação de mais um projeto esportivo que nasceu natimorto. O São Paulo não promoveu investimentos em categorias de base, por exemplo. Apostou em uma fórmula recorrente de contratação de nomes conhecidos, veteranos que estão há anos rodando de time em time e que, como aconteceu, eventualmente chegariam às decisões mais por uma ausência de qualidade geral das competições por um projeto sólido.

Fora que o principal padrinho do projeto, Belmonte, conseguiu degraus muito mais altos para sua promoção interna na política do clube. O mais alto deles, aliás.

Em um clube sufocado pelas dívidas, era natural que o esporte fosse vitimado pelos cortes. Cortes esses antecipados pela própria diretoria, que não englobou o basquete, por exemplo, no contrato de fornecimento de material esportivo da New Balance (até o society social usa fardamento da marca) e não se empenhou em arrumar uma parceira para ajudar nos custos e salvar a degola.

Na verdade, não importava. O principal objetivo, ascender Belmonte, fora conquistado.

Sobre o futuro, um dia o basquete volta. Quando algum conselheiro quiser promoção da imagem.

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