Rivais de <i>extremos</i>: leões, águias e dragões têm toda uma tabela a separá-los na Segunda Liga | OneFootball

A equipa B do Sporting conseguiu carimbar a subida à Liga Portugal 2 Meu Super na temporada passada, isto depois de sete anos de ausência da competição. Assim, os três grandes passaram novamente a disputar o segundo escalão do futebol português, apesar de os objetivos não serem os mesmos das formações principais.

As equipas B foram criadas para que os jovens jogadores pudessem somar minutos de forma regular e crescessem num ambiente competitivo, como é o caso da Segunda Liga. Não lhes é exigido o mesmo que no patamar de cima: trata-se de um espaço onde podem tentar, errar e aprender.

Ainda assim, é sempre curioso analisar o ponto de situação dos três conjuntos em questão: como se estão a sair? Quem se tem destacado mais? Quais os maiores problemas? Com esta premissa em cima da mesa, há um dado que se destaca para quem olha para a tabela classificativa

Neste momento, o Sporting B é líder do campeonato, ao passo que Benfica B e FC Porto B seguem nos lugares de despromoção.

Leão ruge no topo

O arranque de campeonato do Sporting B tem sido impressionante, com os leõezinhos a ocuparem, atualmente, o primeiro lugar de forma isolada. Foram já 18 os pontos conquistados, graças a seis triunfos em oito jornadas.

Muitos jogadores têm-se destacado pela positiva, principalmente do meio-campo para a frente. Flávio Gonçalves tem ganho protagonismo neste contexto, somando já três golos, os mesmos que os dois pontas-de-lança, Rodrigo Ribeiro e Rafael Nel. Na defesa, João Muniz tem assumido um papel mais preponderante, com Salvador Blopa também em bom plano.

Diego Callai, que, à semelhança do central português, não teve um bom último período de empréstimo, também se tem afirmado neste escalão. Afinal de contas, o Sporting é a defesa menos batida da prova, com apenas três golos sofridos.

Este início de época também está ligado ao comandante do leme. João Gião tem demonstrado capacidade para liderar estes jovens leões, mostrando-se capaz de se adaptar à exigência de uma equipa B e fazendo-os sonhar - ainda que de forma muito prematura - com o título de campeão nacional. A verdade é que o treinador e a equipa já tinham demonstrado uma resiliência acima da média.

Na temporada passada, a turma de Alcochete viveu uma montanha-russa de emoções. Depois de um bom arranque com João Pereira, a equipa foi perdendo gás. Vale ressalvar que o ex-treinador esteve ao leme por duas ocasiões distintas, com Pedro Coelho a assumir pelo meio. João Pereira voltou a abandonar o barco pela segunda vez e o substituto chegou de Moreira de Cónegos: Gião deixou de ser adjunto no Moreirense para dar a estabilidade necessária ao Sporting B.

«É fantástico chegarmos à Segunda Liga. Não era o primeiro objetivo da época e, por isso, nunca o assumimos. Nunca nos desviámos do desenvolvimento individual dos jogadores porque é para isso que servem as equipas B. Acreditei sempre, mas acreditei mais depois do primeiro jogo. Não conhecia a equipa, mas para subir de divisão não basta ter bons jogadores, é preciso ter uma série de outras valências: ter grupo, gente com alma, caráter, miúdos com uma maturidade muito grande», afirmou o treinador, no momento da subida.

Encontrada a tal estabilidade, o Sporting B tem sido a principal surpresa desta edição, seja pelas vitórias, pela qualidade ou pela capacidade de adaptação. No entanto, este início ganha um outro sabor, pois a última vez que os leões disputaram esta competição foi em 2017/18, com jogadores como Luís Maximiano, Tiago Djaló, Merih Demiral e Rafael Leão ainda no plantel. A equipa deixou mesmo de existir após a descida de divisão, tendo apenas voltado em 2020/21. Agora, vive a melhor fase de sempre.

Dez anos depois do inédito título

Na ponta oposta da tabela classificativa está o FC Porto B, que conquistou apenas cinco pontos até ao momento. Depois de um arranque extremamente complicado, os dragõezinhos somaram a primeira vitória na última jornada, ao vencerem o Marítimo por 1-0.

Contudo, nesse triunfo, alinharam alguns jogadores do plantel principal, como o guarda-redes João Costa, o lateral Martim Fernandes e o extremo Yann Karamoh. O próprio Ángel Alarcón também já é uma cara conhecida dos adeptos, visto que já participou em dois encontros às ordens de Francesco Farioli. O avançado espanhol é mesmo uma das principais figuras da segunda equipa do FC Porto, mas ainda não somou qualquer participação para golo, o que mostra um dos problemas desta equipa B.

Os azuis e brancos são o pior ataque da competição, tendo faturado apenas por seis vezes - as mesmas que Tamble Monteiro, o melhor marcador do campeonato. É justo dizer que a situação já esteve pior, visto que o primeiro golo só chegou à quinta jornada, com o tento de Trofim Melnichenko. No lado defensivo, o conjunto orientado por João Brandão também tem apresentado imensas dificuldades, sendo a segunda pior defesa, com 15 golos sofridos.

«Vamos ter de fazer mais e melhor. A equipa tem outra fluidez, tem uma dinâmica diferente e tem uma consistência defensiva muito melhor, mas temos de fechar a nossa baliza. Numa 2ª Liga tão competitiva, o número de golos que sofremos tem-nos custado caro e esse é um dos focos para o próximo jogo», afirmou o técnico, em antevisão à polémica derrota com o Torreense (2-3). Ainda assim, vale destacar o triunfo mais recente - e já referido -, onde o FC Porto somou o segundo jogo sem sofrer, depois do empate a zero na primeira jornada, com o Feirense.

Da equipa, que mantém uma certa continuidade das gerações anteriores, nota para o central Gabriel Brás, que continua a merecer a confiança de Luís Freire na Seleção Nacional sub-21, e para o defesa Pedro Lima, que foi reforço no último dia do mercado de transferências. Quem também já somou alguns minutos foi o jovem médio Bernardo Lima, de apenas 17 anos, que foi campeão europeu sub-17 e e que está entre os mais promissores do mundo na categoria.

Curiosamente, esta época marca uma década após o título conquistado na temporada de 2015/16 - o primeiro e único de uma equipa B. José Sá, Rafa Soares e André Silva, que brilhou ao apontar 15 golos, faziam parte dessa equipa campeã. Daí para a frente, o FC Porto passou a disputar um lugar no meio da tabela, com a exceção das épocas 2020/21 e 2024/25, onde lutou até ao fim pela manutenção - tal como se prevê este ano.

Uma nova geração de águias

Na passada jornada, o Benfica B também somou a primeira vitória no campeonato, evitando assim cair para o último lugar, mas mantendo-se em zona de despromoção. Acaba por ser um enorme contraste com a época anterior, onde os encarnados alcançaram a quarta posição.

«Há aqui jogadores que claramente estão em fim de ciclo no projeto da equipa B. Vai haver uma remodelação, ou uma renovação mais ou menos profunda na mudança de ciclo», afirmou Nélson Veríssimo, treinador das águias, quando fez o balanço da temporada 2024/25 à BTV.

Apesar de o técnico de 48 anos estar mais focado no desenvolvimento dos jovens atletas, a verdade é que passar da disputa por um lugar do pódio para uma luta pela manutenção não é fácil. No entanto, Veríssimo já contava com algumas dificuldades, uma vez que o plantel é praticamente novo.

«Vai ser uma época com jogadores novos, mas, acima de tudo, estou muito esperançoso na resposta que vão dar enquanto equipa. Isto sabendo que será um processo naturalmente difícil, como foi no início da época anterior. Há qualidade e os jogadores têm capacidade para dar resposta», declarou, na mesma entrevista.

Ao mesmo canal, mas desta vez em antevisão ao mais recente triunfo com o Feirense (0-2), o técnico mostrou-se satisfeito com o propósito de uma equipa B, apesar dos resultados: «Desde o jogo que tivemos com o Penafiel, muitos dos jogadores tiveram a oportunidade de representar as nossas seleções. Depois, no regresso, muitos deles participaram no jogo da Youth League com o Newcastle. Nesta quinta-feira [23 de outubro], voltámos a juntá-los para preparar o nosso jogo com o Feirense. Portanto, do ponto de vista do desenvolvimento individual, numa perspetiva de permitir que os nossos jogadores passem por vários contextos diferenciados, acabou por ser bom. Estamos no processo de aprendizagem, num futebol de adultos, em que cada vez mais temos de cometer menos erros.»

Nesse crescimento individual, alguns nomes saltam mais à vista, como é o caso de Gonçalo Moreira. Com apenas 19 anos, o avançado tem sido bastante utilizado na segunda equipa, onde se tem destacado pela capacidade de criação. Gonçalo Oliveira, com a mesma idade, tem mostrado segurança defensiva, merecendo já um par de convocatórias para a equipa principal. Recentemente, quem também acompanhou o central até à equipa A foi Ivan Lima, que mereceu elogios de José Mourinho, após a estreia na Taça de Portugal: «É um perfil de jogador que nós não temos na primeira equipa. É aquele ala mais tradicional, que ataca a defesa um contra um. Eu acho que ele ainda não está polido tecnicamente. Ainda tem algumas debilidades ao nível técnico, mas é um miúdo com uma capacidade física grande.»

Assim, ainda que os resultados na Segunda Liga não estejam a ser positivos, o objetivo de alimentar a equipa principal parece estar a ser, ainda que de forma suave, cumprido no conjunto encarnado.

Com vários meses de competição ainda pela frente, em que posição ficarão as equipas jovens de leões, dragões e águias?