Zerozero
·21 octobre 2025
Porque falhou Suárez no Marseille? «Fiquei surpreendido quando o vi bem no Sporting»

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·21 octobre 2025
O Estádio José Alvalade vai ser esta quarta-feira palco do terceiro confronto entre Sporting e Marseille. Curiosamente, ambos conjuntos chegam a este encontro com uma vitória e uma derrota nesta edição da Liga dos Campeões.
Curiosamente, estas duas equipas apenas se defrontaram por duas vezes, precisamente nesta competição. Até ao momento, o emblema gaulês venceu sempre. Os dois jogos foram disputados em 2022/2023, ainda com o antigo modelo de fase de grupos.
Ainda que curto, o histórico já foi capaz de nos presentear com um acontecimento mesmo 'à moda do futebol'. Luis Suárez, agora avançado dos verde e brancos, estava no banco marselhês aquando dos anteriores dois confrontos.
Há que o referir: a experiência do colombiano foi curta e criou pouco impacto em Marselha. Para abordar a partida e a passagem de Suárez por França, o zerozero falou com Baptiste Chaumier, jornalista do L'Équipe, que habitualmente acompanha a turma marselhesa.
O primeiro grande passo da carreira de Luis Suárez foi dado na direção do Marseille. No seguimento de uma mão cheia de boas épocas realizadas em Espanha, oscilando entre I e II divisão, os olympiens olharam para o cafetero como uma opção de futuro e, ainda para mais, de baixo custo.
Na altura, a transferência do Granada para o sul de França ficou avaliada em oito milhões de euros. Este valor, olhando ao mercado atual, parece uma aposta com pouco risco de prejuízo, principalmente para um atleta com bom currículo aos 25 anos.
A verdade é que, ao fim de seis meses, este casamento foi interrompido. Baptiste Chaumier arranjou uma explicação bastante concisa para este acontecimento: «Tem duas razões muito específicas. Primeiro, o Marseille comprou o Alexis Sánchez no verão de 2022. Por isso mesmo, o Luis Suárez não conseguiu ganhar o lugar de ponta de lança. O Alexis era fantástico. Dificilmente não seria o número um naquela frente de ataque.»
«Depois, o modelo implementado por Igor Tudor, o treinador da altura, só utilizava um avançado. Era entre o Alexis, Milik ou o Suárez. O Alexis Sánchez era bastante melhor. Ainda era um excelente jogador, bastante útil para a equipa.»
O atual avançado do Sporting, ainda que não tenha tido enorme impacto em França, brilhou na estreia: «Ele, no primeiro jogo, marcou logo duas vezes. Não me esqueço, foi contra o Reims, na inauguração da época. A questão é que o Alexis Sánchez ainda não havia chegado.»
«Nesse primeiro jogo, achei que ele não era nada mau, tinha força e alguma qualidade. Mas, como disse, o método de jogo do Igor Tudor não foi o melhor para as qualidades dele. Acho que, por exemplo, se tivesse apanhado o Jorge Sampaoli, as coisas podiam ter dado certo.»
«O modelo de jogo do Tudor é bastante cru, não se vê muito em França. Assemelha-se mais ao estilo inglês. Gosta de jogo direto, contacto físico, muita velocidade, contra-ataques pelas alas. Não se vê muito na Ligue 1», prosseguiu o jornalista francês.
Baptiste Chaumier recordou, ainda, a altura em que o presidente do Marseille vendeu Suárez ao Almería: «Quando o Pablo Longoria, presidente do Marseille, viu os primeiros meses do Suárez, decidiu vendê-lo logo. Ele não se encaixava mesmo na equipa. Em campo, neste caso. Fora dele não faço ideia. Foi para o Almería por oito milhões de euros, o mesmo valor que havia custado.»
Mantendo o olhar em 2022/23, é possível perceber outro dado: Suárez não foi a única cara conhecida a ter algum insucesso por Marselha. Vitinha, avançado contratado ao SC Braga por 32 milhões de euros, também teve dificuldades em encontrar o caminho da baliza.
«A situação do Vitinha não pode ser comparada à do Suárez. Ele custou 32 milhões de euros. As expectativas estavam muito altas em relação ao Vitinha. Acho que foi um erro enorme ter contratado o atleta ao SC Braga. Era demasiado novo, não tinha a experiência que se pedia», referiu Chaumier.
Por esta altura, o avançado lusitano atua no Genoa, para onde foi transferido em 2023/24, primeiro por empréstimo. No início de 2024/25, o conjunto italiano desembolsou 16 milhões de euros para ficar com o atleta.
Relativamente à transferência do ponta de lança colombiano para o Sporting, o jornalista gaulês confessou: «Não segui muito o trajeto do Suárez após ter saído do Marseille, mas quando vi que estava bem no Sporting, fiquei algo surpreendido, para ser honesto. Tirando o primeiro jogo, nunca mais vimos nada de especial dele aqui em França.»
Caro leitor, há que relembrar: esta equipa francesa é um autêntico gigante adormecido. Apesar de andar sempre na luta por títulos, já não vence nenhum desde 2011/2012. Na altura, com Didier Deschamps no cargo e Lucho González no 11 inicial, os Olympiens venceram o Lille por 5-4 e levantaram a Supertaça francesa.
Em relação a campeonatos, como deve imaginar, o figurino é ainda pior. Devido à grande hegemonia criada pelo PSG, somente interrompida por Monaco e Lille em 2016/17 e 2020/21, respetivamente, o emblema marselhês não é campeão nacional desde 2009/10, também com Lucho e Deschamps no plantel.
A este nível, a turma do sul de França apresenta uma ligeira semelhança com o Sporting: à imagem dos leões, é, também, a terceira equipa com mais campeonatos conquistados no seu país.
«Marselha é de loucos. Nunca sabes quando vai sair dali uma boa ou má época. Qualquer coisa pode acontecer. Tudo pode desmoronar num espaço de duas semanas. Comparo muito a Nápoles, por exemplo», foi assim que Baptiste Chaumier optou por descrever o contexto do Marseille.
Feita esta apreciação por quem realmente conhece a vivência daquelas bandas, é fácil de perceber que a instabilidade é um fator que contribui, e muito, para que o Marseille não consiga voltar à rota dos títulos. É bom relembrar que, se olharmos para o palmarés, nos deparamos com uma Liga dos Campeões conquistada, neste caso em 1992/93, numa equipa que inclui nomes absolutamente memoráveis.
Deixando para trás este breve olhar a um glorioso passado, é hora de perceber o que apresenta o presente dos de Marselha: «Como disse anteriormente, Marselha é um sítio estranho. O início da época foi terrível. Até houve aquele episódio de altercação física entre o Adrien Rabiot e o Jonathan Rowe no primeiro jogo da temporada, frente ao Rennes.»
«Isto são coisas que acontecem em qualquer equipa, eles estavam nervosos depois da partida. Ainda assim, o clube decidiu vender os dois atletas. O Rabiot foi o melhor jogador do Marseille na época passada. Fomos surpreendidos por estas dispensas.»
O jornalista do L'Équipe explicou, ainda, de que forma os olympiens conseguiram contornar o início de época algo titubeante: «Depois, foram ao mercado e trouxeram o Benjamin Pavard, o Emerson Palmieri, o Matt O'Riley e o Nayef Aguerd.»
«A partir daqui, com sete ou oito novos jogadores no onze, começaram a vencer e até já ganharam ao PSG. Além disso, estiveram bem contra o Real Madrid e venceram em Strasbourg, um campo sempre difícil. Neste momento, já estão na liderança da Ligue 1.»
Nomeando Mason Greenwood como o melhor jogador do plantel, Baptiste Chaumier também falou das dinâmicas de Roberto De Zerbi, treinador do Marseille, e do «pêndulo» do meio-campo, Pierre Hojbjerg: «O Marseille joga de forma bastante parecida ao que se via no Brighton. Os defesas gostam de sair a jogar curto, há bastantes passes entre setores. O Pierre Hojbjerg é muito importante nesta manobra, ajuda muito no meio-campo.»
«É bastante capaz de flanquear e jogar em espaços curtos. Ele não é o capitão, porque esse é o Balerdi, mas o Hojbjerg é bastante importante. Não é o melhor jogador porque não é o que sobressai mais. Não é a estrela. É um atleta que não salta à vista do adepto, mas tem um papel essencial.»
Quanto à partida com o Sporting, Chaumier admitiu não acompanhar os leões muito regularmente, mas confessou que o Marseille pode ter uma boa hipótese: «Para ser franco, ainda não vi muitos jogos do Sporting, por isso não consigo declarar um favorito. Vi que ganharam a Liga no ano passado, ainda que sem o Ruben Amorim. Agora também perderam o Viktor Gyökeres.»
«Durante o sorteio, quando vi o Real Madrid, percebi logo que viria dali uma derrota. Depois, ao aparecer o Sporting, deu-me a impressão que o Marseille poderia ter aqui uma oportunidade para vencer», finalizou.
Como dito acima, o registo sportinguista frente ao Marseille é negativo. Do ponto de vista do emblema leonino, esta será uma oportunidade para 'reescrever'/minimizar um historial negativo e, mais importante do que isso, somar mais uma vitória na Liga dos Campeões.