Em 1986, a Juventus teve seu percurso europeu parado pelo Real Madrid da Quinta del Buitre | OneFootball

Em 1986, a Juventus teve seu percurso europeu parado pelo Real Madrid da Quinta del Buitre | OneFootball

In partnership with

Yahoo sports
Icon: Calciopédia

Calciopédia

·21 Oktober 2025

Em 1986, a Juventus teve seu percurso europeu parado pelo Real Madrid da Quinta del Buitre

Gambar artikel:Em 1986, a Juventus teve seu percurso europeu parado pelo Real Madrid da Quinta del Buitre

No fim dos anos 1980, o segundo encontro oficial entre Juventus e Real Madrid foi marcado por um choque de gerações. De um lado, a Velha Senhora era uma gigante que tinha que lidar com o fim de uma era dourada e precisava encarar a transição entre craques envelhecidos e promessas ainda em amadurecimento; do outro, os blancos atravessava o auge de um ciclo sustentado por um elenco carismático e carregado de talento. Como o novo sempre vem, os espanhóis acabariam impondo a passagem do tempo aos italianos.

Voltemos a 1986. Naquele ano, a Velha Senhora estava em busca de identidade após a saída de Giovanni Trapattoni, que ficou uma década no comando, e o ocaso de estrelas como Michel Platini e Gaetano Scirea. Para liderar a revolução que sucedia a época de ouro da agremiação, o escolhido foi o técnico Rino Marchesi. Não seria nada fácil repetir o antecessor, visto que, em 10 temporadas, a Juve abocanhou seis scudetti, duas copas nacionais, uma Copa Uefa, uma Recopa, uma Copa dos Campeões, uma Supercopa Uefa e, por fim, um Mundial Interclubes.


Video OneFootball


O Real Madrid, por sua vez, vinha de dois títulos seguidos da Copa Uefa – e um de La Liga. Luis Molowny, técnico daquelas conquistas, se aposentou e deu lugar ao holandês Leo Beenhakker, que venceu pelo Ajax e teve bons trabalhos pelos mais modestos Zaragoza e Volendam. O elenco blanco reunia nomes de peso, como o artilheiro mexicano Hugo Sánchez, o argentino Jorge Valdano, e os espanhóis José Antonio Camacho, Chendo, Juanito e Santillana.

Mas, é claro, o Real Madrid contava também com o grupo de pratas da casa que referenciaram aquele período histórico do clube. Davam alma ao plantel os quatro remanescentes da célebre Quinta del Buitre, liderada por Emilio Butragueño. Ao lado do “abutre”, vestiam branco Manolo Sanchís, Míchel e Rafael Martín Vázquez – Miguel Pardeza havia sido vendido ao Zaragoza. Aquele time era considerado a versão mais forte do Madrid desde os sucessos europeus nas décadas de 1950 e 1960, com Francisco Gento, Ferenc Puskás, Alfredo Di Stéfano e outras lendas.

Cabrini era um dos destaques de uma Juventus com peças envelhecidas e que passava por período de transição (Getty)

O destino quis que, em 1986, o encontro entre Real Madrid e Juventus acontecesse já na segunda fase da Copa dos Campeões. O peso simbólico de um confronto desse porte aparecer tão cedo, em uma etapa equivalente às oitavas de final de um torneio então disputado inteiramente em mata-mata, acabou servindo de argumento para mudanças posteriores no regulamento – já que, no ano seguinte, foi a vez de os merengues medirem forças com o Napoli de Diego Armando Maradona na estreia. Até ali, porém, os sorteios sem cabeças de chave permitiam que campeões nacionais se cruzassem logo no início, como aconteceu entre a Velha Senhora, dona do scudetto, e os blancos, vitoriosos em La Liga.

Ambas as equipes chegaram às oitavas de final com trajetórias similares. A Juventus havia massacrado o Valur, da Islândia, com um placar agregado de 11 a 0, sem tomar conhecimento do adversário. O Real Madrid, por sua vez, passou pelo Young Boys com autoridade: goleada de 5 a 0 no Santiago Bernabéu após derrota magra na Suíça (5 a 1 no total). No único confronto prévio entre italianos e espanhóis, em 1962, os blancos haviam levado a melhor. Depois de uma vitória para cada lado nas quartas de final da Copa dos Campeões, um novo triunfo em jogo extra levou o time ibérico às semis – posteriormente, perderiam a decisão para o Benfica.

O jogo de ida aconteceu em 22 de outubro, no Santiago Bernabéu, diante de cerca de 100 mil torcedores. Beenhakker tinha que lidar com a pressão de buscar a taça da Copa dos Campeões, que não ia para Madrid desde 1966, e a ciência da torcida de que era possível sonhar concretamente com o título – sobretudo depois do bi na Copa Uefa. Vale destacar que havia também uma questão envolvendo a rivalidade com o Barcelona, que eliminara os bianconeri na temporada anterior. A Juventus, em seu corner, chegava à Espanha cheia de problemas: Scirea estava lesionado e foi substituído por Roberto Soldà, que, apesar de já ter 27 anos, estreara em palcos continentais meses antes. Já Michael Laudrup retornava de contusão e não estava em plena forma física. Por fim, Platini, perto da aposentadoria, já não rendia como antes.

O Real Madrid partiu para cima desde o início, impondo superioridade coletiva e ofensiva. Depois de poucos minutos, Sánchez já perdera chance clara, chutando para fora após driblar Stefano Tacconi. Em seguida, o mexicano semeou o caos na defesa italiana e obrigou o arqueiro a rebater a bola para o meio da área, onde Rafael Gordillo tentou aproveitar o rebote. Acertou o poste, contudo.

Em fim de carreira, Platini teve uma eliminatória apagada, com apenas alguns lampejos na volta (Arquivo/Juventus FC)

O gol madrilenho estava amadurecendo e saiu aos 20 minutos: Chendo avançou pela esquerda e cruzou na medida para a finalização de Butragueño no segundo pau, com Tacconi batido. O domínio dos merengues continuou, com Míchel distribuindo jogo. Assim surgiram mais chances nos pés de um endiabrado Sánchez e também nos de Valdano, no mano a mano com o arqueiro, e Ricardo Gallego, num arremate de fora da área. Os espanhóis não ampliaram, e a Juventus chegou a balançar as redes em escanteio cobrado por Massimo Mauro e concluído por Lionello Manfredonia, anulado pelo árbitro Robert Valentine por falta – imperceptível por qualquer imagem de vídeo da época.

No segundo tempo, o ritmo do jogo caiu bastante e a única chance clara caiu nos pés de Butragueño, que mandou na lua. Do outro lado, Platini parecia um fantasma e pouco criava – só surgiu numa cobrança de falta desviada na barreira e num levantamento à área, que o capitão Antonio Cabrini cabeceou para fora. Vecchia Signora ainda perdeu Soldà, lesionado, substituído por Nicola Caricola. No fim das contas, o triunfo por 1 a 0 frustrou o Real Madrid, que teve oportunidades de construir vantagem maior.

A volta ocorreu em 5 de novembro, no Comunale de Turim. O Real Madrid repetiu a escalação, embora com mudanças táticas – trocou o 3-4-3 por um 4-3-3, reposicionando Chendo e Camacho, além de promover uma marcação por zona. Já a Juve ainda não podia contar com Scirea e, em consequência do desfalque do também lesionado Soldà, Caricola foi o líbero. No ataque, o grandalhão Aldo Serena substituiu o franzino Massimo Briaschi.

Os italianos começaram bem e tiveram uma chance clamorosa aos 7 minutos, quando Laudrup recebeu lançamento longo de Cabrini, deu um drible da vaca em Camacho e, ao tentar encobrir Francisco Buyo, desperdiçou. Os bianconeri abririam o placar logo depois, aos 9. Mauro fez uma jogadaça pelo lado direito, deixou Gallego na saudade, invadiu a área e cruzou para Serena, que não alcançou. Porém, no flanco oposto, o capitão Cabrini apareceu no segundo pau para finalizar com pouco ângulo, mas imensa felicidade. O placar agregado estava igualado e, a partir dali, a Juventus poderia impor o seu jogo.

Laudrup teve uma chance inacreditável no comecinho, mas a desperdiçou e o Real Madrid agradeceu (Arquivo/Juventus FC)

Não foi exatamente o que aconteceu. Aos 18 minutos, o Real Madrid teve uma clara oportunidade de dentro da área, com Butragueño, só que Tacconi foi fenomenal ao espalmar para escanteio – na cobrança, Sanchís também levou perigo. A Juve tentou responder com uma girada de Serena, na casa dos 21, mas Buyo saltou e pegou com segurança. Perto do intervalo, o Buitre madrilenho teve outra chance e finalizou com muita curva, obrigando o arqueiro bianconero a fazer um milagre de mão trocada.

No segundo tempo, a partida continuou aberta e com chances para os dois times. Aos 54 minutos, Míchel arriscou um arremate de posição pouco usual e assustou Tacconi. Já aos 61, foi a vez de Massimo Bonini obrigar Buyo a rebater um foguete.

Na casa dos 84, Míchel errou um chute, porém acabou conseguindo um passe. Aproveitando descuido de Caricola, Valdano ficou cara a cara com o goleiro da Juve, mas viu o arqueiro se opor, com a ponta dos dedos, à sua tentativa – era uma chance cristalina que terminava em escanteio. O Real Madrid poderia crescer moralmente depois disso. Entretanto, observou a Juventus responder de imediato, numa tabelinha entre o até então sumido Platini, Briaschi e Serena: o voleio do centroavante acabou se tornando uma assistência para o francês, que parou no milagre que Buyo realizou com os pés.

Com o 1 a 0 no tempo normal, se repetia o placar da ida e a decisão caminhou à prorrogação. Nos prolongamentos, a única chance clara foi da Juventus, depois de uma grande jogada de Manfredonia, que terminou com Serena balançando as redes – Briaschi, contudo, estava impedido e o árbitro Dieter Pauly invalidou o lance corretamente. Sem gols nos 30 minutos extras, a vaga foi definida nos pênaltis.

Os bianconeri marcaram cedo e até pareciam inclinados a virar a eliminatória: a festa, contudo, não durou muito (Arquivo/Juventus FC)

Na marca da cal, pesou a diferença de confiança. Apesar do erro inicial de Sánchez, o Real Madrid converteu suas três cobranças seguintes, com Butragueño, Valdano e Juanito. A Juventus, pelo contrário, mostrou nervosismo: apenas Beniamino Vignola acertou, enquanto nomes como Serena se recusaram a bater, e Cabrini, lesionado, também não participou. Platini seria o último da lista, mas não foi para a batida porque Sergio Brio e Manfredonia pararam em Buyo e Luciano Favero chutou para fora. Em Turim, festa para a Quinta del Buitre.

Nas entrevistas pós-jogo, Beenhakker foi diplomático, elogiando a defesa juventina, o goleiro Tacconi e o incansável meio-campo, com destaque a Mauro. O seu Real Madrid passaria no detalhe pelo Estrela Vermelha e seguiu até as semifinais, onde caiu frente ao Bayern de Munique. O time repetiria esse destino nas duas temporadas seguintes, porém sem alcançar a tão sonhada decisão – aliás, em 1989, sendo destroçado pelo Milan de Arrigo Sacchi. A Quinta del Buitre foi dominante em La Liga e somou cinco troféus consecutivos do torneio nacional, mas não levantou a tão sonhada orelhuda.

Para a Juventus, a eliminação simbolizava o fim de uma era. Platini penduraria as chuteiras ao fim daquela temporada de vacas magras, concluída com o segundo lugar da Serie A, e a equipe viveria um período de transição ainda maior até a chegada de Dino Zoff ao comando. Em 1990, o título da Copa Uefa não foi suficiente para lhe conferir maior brilho continental, e nem mesmo a volta de Trapattoni elevou a equipe ao topo do continente – a lenda conquistou outra Copa Uefa, em 1993.

Demorou quase uma década para a gigante retomar o protagonismo europeu, já na gestão de Marcello Lippi. Com o igualmente histórico treinador, a Juventus levantou a Champions League em 1996, deixando os merengues pelo caminho, e foi finalista nas duas edições seguintes, ante Borussia Dortmund e… Real Madrid, que em 1998 bateu os bianconeri e interrompeu um jejum de 32 anos sem taças da competição.

Real Madrid 1-0 Juventus

Real Madrid: Buyo; Sanchís, Salguero, Camacho; Chendo, Míchel, Gallego, Gordillo (Martín Vázquez); Butragueño, Sánchez, Valdano (Santillana). Técnico: Leo Beenhakker. Juventus: Tacconi; Favero, Soldà (Caricola), Brio; Mauro, Bonini, Manfredonia, Cabrini; Platini; Briaschi, Laudrup (Bonetti). Técnico: Rino Marchesi. Gol: Butragueño (20′) Árbitro: Robert Valentine (Escócia) Local e data: estádio Santiago Bernabéu, Madri (Espanha), em 22 de outubro de 1986

Juventus 1-0 Real Madrid (1-3 nos pênaltis)

Juventus: Tacconi; Favero, Caricola, Brio; Mauro (Vignola), Bonini, Manfredonia, Cabrini; Platini; Serena, Laudrup (Briaschi). Técnico: Rino Marchesi. Real Madrid: Buyo; Chendo, Salguero, Sanchís, Camacho; Míchel, Gallego, Gordillo (Juanito); Butragueño, Sánchez, Valdano (Santillana). Técnico: Leo Beenhakker. Gol: Cabrini (9′) Pênaltis convertidos: Vignola; Butragueño, Valdano e Juanito Pênaltis perdidos: Brio, Manfredonia e Favero; Sánchez Árbitro: Dieter Pauly (Alemanha Ocidental) Local e data: estádio Comunale, Turim (Itália), em 5 de novembro de 1986

Lihat jejak penerbit