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·21 Oktober 2025

Em 1996, a Juventus aprofundou jejum do Real Madrid e seguiu caminho rumo ao título europeu

Gambar artikel:Em 1996, a Juventus aprofundou jejum do Real Madrid e seguiu caminho rumo ao título europeu

Soa quase inverossímil, mas até meados da década de 1990 duas das maiores potências do futebol mundial, Juventus e Real Madrid, haviam medido forças oficialmente apenas em duas eliminatórias, ambas vencidas pelos ibéricos, e somavam cinco partidas no total. Em 1996, quando a Velha Senhora buscava voltar ao topo da Europa após quase uma década de espera, e os blancos viviam um período de instabilidade, o sorteio da Liga dos Campeões produziu um choque de titãs que definiria rumos opostos. Os italianos exorcizaram um fantasma, num duelo serviu como trampolim para a conquista da “orelhuda” no Olímpico de Roma, enquanto os espanhóis, distantes de sua essência, tiveram de lidar com mais uma ferida aberta num jejum continental que já se arrastava por 30 anos.

Treinada por Marcello Lippi, a Juventus iniciava a temporada 1995-96 com autoridade. Em 1994-95, a equipe travou um duelo enorme com o Parma em três frentes e, sobre os gialloblù, reconquistou a Serie A após um jejum de nove anos e engatou a dobradinha nacional com o título da Coppa Italia – por outro lado, os crociati lhe impuseram o vice da Copa Uefa.


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A Velha Senhora tinha motivos para sonhar alto. Alessandro Del Piero, jovem de 21 anos, assumia de vez o protagonismo deixado por Roberto Baggio, transferido ao Milan, e se tornava o símbolo de uma geração em transformação. Os bianconeri ainda tinham elenco recheado de outros grandes jogadores e operários de alto rendimento, como Gianluca Vialli, Angelo Peruzzi, Ciro Ferrara, Fabrizio Ravanelli, Antonio Conte e Didier Deschamps.

Numa época em que só vencedores dos campeonatos nacionais da Europa entravam na Champions League, a Juventus era uma das favoritas ao título e foi uma das oito equipes classificadas diretamente à fase de grupos – outras 16 se enfrentaram em etapa preliminar para definição das quatro chaves com quatro clubes. A gigante de Turim caiu no Grupo C, juntamente com Borussia Dortmund, Rangers e Steaua Bucareste, e venceu os quatro primeiros jogos, com direito a duas goleadas sobre os escoceses, garantindo a liderança de maneira antecipada. Relaxada, acabou perdendo para os alemães e empatando com os romenos nos duelos em que só cumpria tabela.

Um dos remanescentes do confronto entre Juventus e Real Madrid nos anos 1980, o merengue Laudrup era ex-bianconero (EMPICS/Getty)

Classificada às quartas de final, a Juventus encararia o Real Madrid, que se portava como um gigante hesitante. Depois do título de La Liga em 1995, a equipe blanca mergulhou em turbulência: Jorge Valdano foi demitido, Arsenio Iglesias assumiu em meio a desconfiança, e a temporada terminou de forma caótica. A derrota na Supercopa da Espanha para o Deportivo La Coruña, a eliminação nas oitavas da Copa do Rei e o pífio sexto lugar no Campeonato Espanhol foram prova disso. Na Champions League, os merengues ficaram com o segundo posto no Grupo D, que contava com Ferencváros, Grasshoppers e o líder Ajax, vencedor da competição em 1995, com vitória sobre o Milan na final. O time de Amsterdã derrotou os madrilenhos nos dois encontros – os ibéricos somaram três vitórias e um empate na Hungria.

Juventus e Real Madrid não se enfrentavam havia quase 10 anos, quando o destino lhes reservou um precoce encontro na segunda fase da Copa dos Campeões, em 1986. Uma década depois, estariam envolvidos no duelo cinco remanescentes daquele embate vencido pelos espanhóis, e todos atuavam no time madrilenho: o goleiro Francisco Buyo, o lateral-direito Chendo, o zagueiro Manolo Sanchís (que, desta vez, só ficaria banco no jogo de volta) e o meia Míchel faziam parte do elenco merengue na ocasião, enquanto o meia-atacante Michael Laudrup, então camisa 10 dos blancos, vestia bianconero na década de 1980.

Além desses jogadores citados, o Real Madrid tinha outros nomes de respeito, apesar do momento negativo. Os merengues contavam com Iván Zamorano, goleador chileno que jogaria na Inter; Fernando Hierro, líder incontestável; Fernando Redondo, maestro argentino que não teria sorte no Milan; ou os polivalentes Luis Enrique e Freddy Rincón, ex-Napoli, por exemplo. E, claro, com um jovem Raúl, que começava a aparecer como herdeiro natural da mística merengue. Em termos de talento, o atacante era considerado como principal antagonista de Del Piero na eliminatória.

A Juve sofreu com o ataque do Real Madrid no jogo de ida, mas conseguiu manter desvantagem mínima (EMPICS/Getty)

O primeiro ato foi em 6 de março, no Santiago Bernabéu, sempre usado pelos espanhóis como instrumento de intimidação – e dessa vez funcionou. A Juventus, sem o capitão Vialli e obrigada a lançar Attilio Lombardo no ataque, sentiu o peso da atmosfera hostil da tradicional arena madrilenha. O Real impôs ritmo, cercou os italianos e encontrou um gol logo aos 20 minutos, depois de uma bela jogada. Zamorano deixou a área para receber um lançamento, puxando a marcação, e já ajeitou no espaço para Laudrup. O dinamarquês conduziu e só rolou para Raúl, então um menino de 18 anos, fuzilar Peruzzi com sua canhota afiada. Mais tarde, o garoto produziu uma das imagens mais lembradas pelos merengues naquela eliminatória ao dar uma encarada no veterano Pietro Vierchowod.

O gol da joia madridista foi o único da partida, mas o domínio espanhol continuou sem qualquer abalo – como poderia ter acontecido quando Miquel Soler se lesionou e deu lugar a Quique Sánchez Flores, que no seu tempo como atleta era conhecido apenas por seu apelido. Ainda na primeira etapa, Peruzzi fez boa defesa num chute de longa distância de Rafael Alkorta e num arremate à queima-roupa de Raúl. Pouco antes, aos 38 minutos, Zamorano carimbou a trave.

A Juventus voltou do intervalo com maior presença de área, já que Lippi trocou o ponta Lombardo pelo atacante Michele Padovano. Com pouco tempo em campo, numa confusão, o reserva acertou uma cotovelada em José García Calvo, mas acabaria escapando da expulsão – o que, mais tarde, se revelaria decisivo para a classificação da Juventus.

Com gol de falta no início do jogo, um jovem Del Piero iniciou a reviravolta bianconera em Turim (Arquivo/Juventus FC)

A troca não adiantou muito, visto que o Real Madrid continuou a mandar na partida e só não marcou, aos 59 minutos, porque Peruzzi fez outro milagre: o italiano cresceu na frente de Zamorano, que saiu na cara do gol, e evitou o segundo. Em seguida, Ravanelli tentou cavar um pênalti, mas o árbitro Kurt Röthlisberger não se deixou levar pela pressão.

No fim das contas, a Juventus deixou a Espanha aliviada por ter perdido de pouco, como confessaram Lippi e o vice-presidente Roberto Bettega: eles admitiram que a equipe jogou mal e que correu o risco de ter sofrido mais gols. Anos mais tarde, recordando a partida em entrevista ao jornal El País, Moreno Torricelli – que havia realizado um sonho de infância ao atuar no Bernabéu – enalteceu Peruzzi: “se não fosse por ele, o jogo teria terminado em 3 a 0”, disse. Já o madridista Alkorta, falando com o mesmo diário, lamentou: “na ida merecíamos mais e devíamos ter resolvido a eliminatória”.

Duas semanas depois, em 20 de março, o estádio Delle Alpi recebeu quase 63 mil pessoas para assistirem a partida de volta – dada a ocasião, um raro bom público numa praça esportiva que jamais conquistou o coração da torcida da Juve. Os bianconeri queriam vingar a eliminação de uma década antes e exorcizar um fantasma, visto que haviam sido parados pelo Real Madrid nos dois confrontos já realizados entre os clubes. Precisando virar o duelo e vencer por dois gols de diferença, sabiam que não havia espaço para vacilos.

A defesa madrilenha falhou e Padovano não perdoou (EMPICS/Getty)

O Real Madrid viajou sem os titulares Hierro e Zamorano, que eram baixas pesadas. Do lado italiano, Ferrara e Massimo Carrera eram desfalques na defesa e Sergio Porrini acabaria fazendo a dupla de zaga com Vierchowod, enquanto Gianluca Pessotto também ganhou uma vaga no onze inicial. No ataque, Vialli se recuperou de lesão, mas Ravanelli foi cortado de última hora. A solução de Lippi foi escalar Padovano desde o início. Agraciado por não ter sido expulso na Espanha, o piemontês teria o que definiu como a melhor noite de sua vida – e a consagração de sua carreira.

O jogo começou elétrico, com a Juventus em cima. Bem cedo, Deschamps ficou cara a cara com Santiago Cañizares, que substituía Buyo, e parou em defesa dupla do arqueiro. Pouco depois de apenas 15 minutos transcorridos, o árbitro Mario van der Ende assinalou uma falta sobre Padovano perto da meia-lua. Del Piero foi para a bola e nem chegou a bater bem, mas contou com um buraco na barreira madrilenha – algo que Alkorta definiria, depois, como um dos “dois erros pontuais” que custaram a classificação dos espanhóis. O goleiro foi traído pelo quique da pelota no gramado e, mesmo se esticando o máximo que pôde, se resignou a escutar o barulho do estádio indo abaixo.

Com a vantagem, a Juventus seguiu dominando. Conte e Torricelli se desdobravam na marcação e o segundo citado, que já havia deixado Deschamps na cara do gol, perdeu uma grande chance após tabela com Padovano. Os italianos ganhavam a maior parte das divididas e Del Piero, caindo pela esquerda, era uma senhora pedra no sapato para Quique e Chendo. No fim das contas, a única pequena ameaça do Real Madrid na etapa inicial se deu quando Luis Enrique ganhou de Vierchowod no corpo a corpo e avançou à área bianconera. Entretanto, o atacante estava isolado, tentou definir sozinho e chutou torto, à direita da meta de Peruzzi.

Festa ao apito final: a Velha Senhora encerrou tabu contra o Real Madrid e seguiu seu caminho rumo ao título europeu (Arquivo/Juventus FC)

O segundo tempo começou com uma boa chance para o recém-entrado Angelo Di Livio, que substituiu Vladimir Jugovic, mas seu chute de primeira, após puxeta de Vialli, foi para fora. Aos 53 minutos, entretanto, a Juventus ampliou o placar numa inacreditável falha de posicionamento da defesa do Real Madrid. Os espanhóis afastaram mal uma cobrança de escanteio, Porrini ficou com a bola na entrada da área e serviu Padovano, no lado esquerdo. Como sete jogadores merengues estavam posicionados desde o centro até o flanco canhoto e nenhum cobria o direito, o atacante dominou sozinho e soltou uma bomba cruzada, vencendo Cañizares.

A Juventus seguiu dominando o jogo e teve mais uma boa oportunidade com Vialli, cuja finalização foi agasalhada por Cañizares. Aos 69 minutos, Van der Ende foi bem ao expulsar Alkorta, que impediu uma clara ocasião de gol ao derrubar Del Piero quando este partia na velocidade com a bola dominada, em frente à área. Já na casa dos 79, foi a vez de Torricelli cometer falta no meio-campo, receber o segundo cartão amarelo e ir para a rua mais cedo.

A Vecchia Signora viu o seu controle ser abalado e ainda teve um grande susto no fim: Luis Milla arriscou um chute que passou passou rente à trave. Se entrasse, o time espanhol avançaria devido ao gol qualificado. Depois disso, alívio e festa para os bianconeri em campo e nas arquibancadas. Depois do apito final, porém, Lippi destacou que Peruzzi não fez nenhuma defesa e que o Real Madrid não criou chances claras – ainda que tenha admitido que aquele arremate lhe deu frio na espinha. Já Del Piero resumiu com naturalidade: “na ida venceu Raúl, hoje eu; mas quem vai à semifinal somos nós”.

O triunfo sobre o Real Madrid quebrava um tabu na história da Juventus, que abriria uma sequência positiva de embates com os merengues em mata-matas, excluindo finais. A noite em que o passado de frustrações foi enterrado também antecipou que aquele time tinha um encontro marcado com a história. Torricelli lembraria anos depois que foi naquele 20 de março que o grupo percebeu que era capaz de conquistar a Champions League. E assim seria: os bianconeri eliminaram o Nantes nas semifinais e, um mês depois, em Roma, ergueriam a taça contra o Ajax, nos pênaltis. Após 11 anos, a orelhuda voltava a Turim. Para o Real Madrid, restava lidar com o prolongamento de um jejum que só terminaria em 1998, em revanche sobre a equipe de Lippi.

Real Madrid 1-0 Juventus

Real Madrid: Buyo; Chendo, García Calvo, Alkorta, Soler (Quique); Luis Enrique, Redondo, Hierro, Laudrup (Míchel); Raúl, Zamorano. Técnico: Arsenio Iglesias. Juventus: Peruzzi; Carrera (Pessotto), Vierchowod, Ferrara, Torricelli; Conte, Paulo Sousa (Jugovic), Deschamps; Lombardo (Padovano), Del Piero; Ravanelli. Técnico: Marcello Lippi. Gol: Raúl (20′) Árbitro: Kurt Röthlisberger (Suíça) Local e data: estádio Santiago Bernabéu, Madri (Espanha), em 6 de março de 1996

Juventus 2-0 Real Madrid

Juventus: Peruzzi; Torricelli, Porrini, Vierchowod, Pessotto; Conte, Deschamps, Jugovic (Di Livio); Del Piero (Marocchi); Padovano (Lombardo), Vialli. Técnico: Marcello Lippi. Real Madrid: Buyo; Quique (Rincón), Chendo, García Calvo, Alkorta, Lasa; Luis Enrique, Míchel, Milla (Esnáider), Laudrup; Raúl. Técnico: Arsenio Iglesias. Gols: Del Piero (17′) e Padovano (54′) Cartões vermelhos: Torricelli; Alkorta Árbitro: Mario van der Ende (Países Baixos) Local e data: estádio Delle Alpi, Turim (Itália), em 20 de março de 1996

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