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·20 agosto 2025
Bernardo Lopes, o capitão gibraltariano que vai tentar travar o Braga: «Oportunidade de fazer história»

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·20 agosto 2025
Nesta quinta-feira joga-se um duelo que pode ser histórico, mas que já é, no mínimo, peculiar. O SC Braga defronta o modesto Lincoln Red Imps a contar para o playoff de acesso à fase oficial da Liga Europa, com a particularidade dos dois jogos desta eliminatória serem realizados em Portugal.
À beira deste jogo tão especial, no qual o clube mais titulado em Gibraltar terá o Estádio do Algarve enquanto casa, o zerozero esteve à conversa com Bernardo Lopes, português que se tornou internacional por Gibraltar e que enverga a braçadeira de capitão do clube.
O defesa de 32 anos mostrou-se ciente e animado por participar nesta eliminatória que pode ser especial para o clube, mesmo que este já esteja satisfeito com a caminhada europeia feita até ao momento.
«Retirar-nos confiança não retira. A única coisa que vai ser diferente é não termos tanto o apoio da nossa gente. De resto, ao fim ao cabo, é futebol e joga-se 11 contra 11 e dentro das quatro linhas. Tudo o resto não afeta, mas claramente que o apoio não ser igual e não ter aquele empurrãozinho extra dos adeptos, pode prejudicar-nos um bocadinho», começou por referir Bernardo Lopes, em relação ao facto do jogo caseiro ser no país do adversário.
«As expectativas são sempre tentar fazer o nosso melhor. O objetivo que o clube tinha de entrar na fase liga da Conference já foi cumprido e agora temos a oportunidade de jogar o playoff de acesso à Liga Europa, no qual nós gostávamos de poder entrar também e ainda mais a eliminar uma equipa do nível do SC Braga. Por isso, a expectativa tem de ser alta em termos de motivação e de tentar fazer o nosso melhor, sem nunca duvidar ou perder a confiança», revelou o jogador, com os pés bem assentes na terra.
Mas se o facto de as duas equipas se enfrentarem as duas vezes em solo português já é especial, para Bernardo Lopes juntam-se ainda dois fatores emocionais: o regresso ao país de origem e como capitão de uma eliminatória histórica.
«O facto de jogar em Portugal é um fator extra. É o país onde eu nasci e cresci, sente-se sempre em casa», disse ao nosso portal. «Ser capitão não altera nada. É tentar dar o exemplo e passar alguma tranquilidade e experiência aos jogadores mais jovens. Temos um plantel com qualidade e com jogadores que já jogaram no estrangeiro e isso torna as coisas mais fáceis. Não sinto que esta eliminatória pese ao nível da capitania, até porque a equipa e o clube esperam sempre o melhor de mim. O facto de ser o capitão mostra o respeito que tenho ganho por todos nos últimos e é continuar a manter a equipa unida e ajudar o clube a ir para a frente», afirmou.
Mas o que torna esta eliminatória tão importante para o Lincoln Red Imps? A verdade é que se a equipa estrangeira conseguir eliminar o conjunto bracarense, entra pela primeira vez na fase oficial da Liga Europa.
«É uma motivação extra. A oportunidade de fazermos mais uma vez história pelo clube e pelo país é tudo o que precisamos para estarmos motivados», começou por referir o atleta. «Demonstrava que o futebol em Gibraltar está a crescer e que as equipas pequenas, como nós, também têm forças, qualidade e que a ambição não tem limites. Queremos provar que mesmo estando de fora do círculo habitual do futebol europeu, também podemos competir e chegar a outros patamares», rematou.
Sobre o jogo, Bernardo acredita que a chave é «jogar em equipa, respeitar o SC Braga da melhor maneira possível e fazer o nosso melhor. Jogar com humildade e não tentar inventar ou fazer algo que não tenhamos vindo a fazer até agora. Temos que ser nós próprios e jogar o nosso futebol.» Ainda assim, reconhece ainda as dificuldades de começar a competir tão cedo nas pré-eliminatórias.
«Todos os anos começamos na primeira eliminatória da Liga dos Campeões. A partir do primeiro jogo, conseguimos perceber o nível de competitividade. Existem sempre dificuldades, mas a principal é o ritmo de jogo e a intensidade porque não temos esse nível ao longo do ano. Apenas quando vamos à seleção e acaba por não ser constante, mas estamos a melhorar de época para época», afirmou.
Desde que assinou pelo clube de Gibraltar, Bernardo tem vivido de perto o crescimento não só do clube que representa, mas também do próprio futebol em si e da Federação. Contudo, é realista quanto há hipótese de, um dia, um clube do pequeno país ingressar na fase oficial da Liga dos Campeões.
«Há um longo caminho ainda por percorrer e muita coisa para melhorar. Mas também acho que esse tem de ser um objetivo. Tem sido todo um processo e sempre com a noção de que nem tudo tem sido fácil, com muitos altos e baixos. Mas claro que tanto para mim como para o clube, esse tem de ser um objetivo a longo prazo», referiu, explicando depois como a evolução futebolística pode continuar.
«Ao longo dos anos tem se tornado mais profissional e isso tem ajudado muito o desenvolvimento da liga e dos jogadores. Esse é o caminho que temos de continuar a seguir. Quanto mais pessoas atrairmos para cá, mais a competitividade vai aumentar e mais vezes iremos às competições europeias, porque no fim, tudo isso faz com que a liga fique mais profissional e que os clubes continuem a crescer.»
O melhor exemplo desse profissionalismo é o próprio Lincoln Red Imps, que soma 64 títulos nacionais conquistados. Sendo os atuais pentacampeões, a responsabilidade nacional acaba por ser outro fator importante para os jogos europeus.
«Estamos habituados a competir o ano todo, seja nas competições europeias ou internas. O facto de termos essa competitividade e essa exigência de ganhar todas as competições a nível nacional, ajuda naquilo que é competir a nível europeu», afirmou o jogador.
No entanto, e como revelou ao zerozero numa entrevista mais pessoal onde pode ler aqui, o que o levou a rumar a Gibraltar foi mesmo a «oportunidade de jogar em eliminatórias da Liga dos Campeões.» Ainda assim, revelou que sempre quis dar o salto para uma liga mais forte.
«A minha ideia quando cheguei cá era de usar isto como uma rampa para chegar a outros patamares. Por uma razão ou por outra, tenho ficado aqui, mas, não vou mentir, gostaria de experimentar outras ligas. Gostava de aceitar outros desafios para me por à prova noutras ligas e noutras competições. Não tem acontecido e estou muito feliz aqui», declarou, antes de abordar um possível regresso a Portugal em definitivo.
«Gibraltar já é casa, mas no futebol nunca se sabe. Neste momento estou aqui e estou muito feliz, mas se houvesse a oportunidade de voltar a Portugal, era uma coisa que teria em séria consideração porque é o meu país. Gostaria de jogar na Primeira Liga portuguesa, mas na ausência dessa hipótese, estou feliz e continuarei aqui», concluiu.
Ao fim de uma década a representar o Lincoln, acabou por se tornar internacional do pequeno país que fica na ponta da península ibérica - entre outras histórias que também pode ler na entrevista -, apesar da dúvida inicial: «Tive várias reuniões, apresentaram-me o projeto e a proposta de representar Gibraltar. Estava um bocadinho na dúvida, mas depois de falar com a minha família, cheguei à conclusão que era uma boa oportunidade para jogar a nível internacional e de fazer parte do tal crescimento.»
O crescimento do clube ao longo dos últimos anos é notório, com o objetivo europeu deste ano já atingido, mas a história está aí à porta e a ambição é de não parar.
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