Gazeta Esportiva.com
·24 de outubro de 2025
A pedido do MP, Polícia Civil investiga possível furto de materiais esportivos no Corinthians

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·24 de outubro de 2025

A Polícia Civil de São Paulo abriu, na última quinta-feira, um inquérito para investigar o possível desvio de materiais esportivos no Corinthians. A apuração teve início a partir de um pedido do Ministério Público de São Paulo (MP-SP), feito pelo promotor Cassio Roberto Conserino, que lidera outra investigação sobre gastos indevidos nas gestões de Andrés Sanchez, Duilio Monteiro Alves e Augusto Melo.
O caso será conduzido pela Delegacia de Repressão aos Delitos de Intolerância Esportiva (Drade), órgão vinculado ao Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) da Polícia Civil. As autoridades apuram a suspeita de furto qualificado.
A informação foi publicada inicialmente pela Trivela e confirmada pela Gazeta Esportiva. Procurado pela reportagem, o Corinthians informou que ainda não foi notificado pelo poder público.
Além da investigação policial, existe uma sindicância interna do próprio clube que apura as supostas irregularidades.

(Foto: Divulgação/Corinthians)
Em 2024, o Corinthians recebeu R$ 13,2 milhões em peças da Nike tanto no Parque São Jorge quanto no CT Dr. Joaquim Grava, mais do que o triplo do valor de R$ 4 milhões relativos à “cota anual não cobrável” combinado com a fornecedora de material esportivo. Parte destes itens não foram devidamente registrados, para fins fiscais, no ato do recebimento, expondo a instituição a riscos alertados pela Ernst & Young e pelo Departamento de Tecnologia da Informação (TI) do clube, que foram ignorados pela diretoria então liderada pelo presidente destituído Augusto Melo.
A Gazeta Esportiva teve acesso à troca de e-mails entre departamentos do Corinthians e a E&Y, empresa que prestou serviço de consultoria ao clube entre janeiro e setembro do ano passado. A ex-parceira relatou ao Timão, em agosto, graves irregularidades no cadastramento de notas fiscais (NFs) de materiais esportivos fornecidos pela Nike e as possíveis consequências que tais atos poderiam causar.
Naquele mês, a E&Y se reuniu com o Corinthians para debater questões ligadas à logística e estocagem de material esportivo. A empresa demonstrou, através de um e-mail enviado a diversos dirigentes do clube, preocupação com a descentralização do estoque e emissão das NFs, que até então eram feitos em apenas um CNPJ (Parque São Jorge), mas passaram a ser realizados também no CT Dr. Joaquim Grava.
De acordo com o e-mail, a mudança partiu de uma solicitação de Caio do Valle, apontado pela E&Y como “responsável pelo estoque no CT”. A alteração teria sido motivada pela alta demanda do futebol masculino, atrasos nas entregas por parte da Nike e a intenção de não misturar materiais com outras modalidades. A Gazeta Esportiva também apurou que o Timão não recebeu apenas uniformes no CT, mas também outros produtos.
A aprovação da descentralização e a comunicação à Nike foram feitas no início do ano, mas, segundo a E&Y, outras equipes necessárias para a execução de ações sistêmicas e contábeis não foram envolvidas e notificadas a tempo. O time de almoxarifado do CT estava enviando todas as notas fiscais por e-mail ao ex-diretor administrativo Marcelo Mariano. Como resultado, aproximadamente R$ 3,5 milhões em notas fiscais da Nike não foram lançados no sistema até aquele momento.
O não cadastramento das NFs expunha o Corinthians a riscos alertados pela consultora, como “multas fiscais, processos contra o clube, possibilidade de quebra contratual, reembolso dos valores que excedam os R$ 4 milhões previstos em contrato, além de danos à reputação”. Isso sem contar com as chances de desvio de materiais esportivos, agora investigado pela Polícia Civil.
A situação, conforme consta no alerta enviado pela E&Y, já se agravava desde julho de 2024. De janeiro até aquele período, o Timão já havia consumido 28.027 itens da Nike, equivalentes a R$ 9,8 milhões, superando a cota de R$ 4 milhões. Para efeito de comparação, durante todo o ano de 2023, o clube utilizou 33.824 produtos.
Visando “melhorias operacionais”, a empresa recomendou a centralização do estoque no Parque São Jorge. Porém, a orientação foi negada pela equipe responsável pelo CT, que alegou “falhas no envio de materiais” da sede do clube ao centro de treinamento. Foi dito, ainda, que a determinação de separar a distribuição dos produtos e a emissão das NFs em dois CNPJs foi feita pela diretoria do clube, no início do ano.
A E&Y, então, sugeriu a instalação do sistema Protheus no CT para atender as obrigações fiscais. O software de gestão empresarial, desenvolvida pela TOTVS, é responsável por controlar o estoque, fazer a contabilidade do clube e é utilizado no Parque São Jorge há anos. Como medida emergencial, até que o sistema fosse configurado, as notas deveriam ser faturadas com o CNPJ do Parque São Jorge, mas entregues no CT.
O Departamento de TI do Corinthians, então chefiado por Marcelo Munhoes, reforçou o alerta da antiga consultora e levantou a necessidade de envolver os departamentos fiscal e contábil do clube. Isso porque a legislação tributária brasileira exige autorização prévia para alterações no faturamento, sob risco de autuações, sem contar que a Nike também precisaria validar o processo.
O sistema Protheus enfim foi implementado no CT, conforme relatado em e-mail enviado em dezembro de 2024, o qual a reportagem também teve acesso. Porém, as diretrizes seguintes à instalação, como a emissão de notas pendentes, não foram cumpridas. Desde a reunião do dia 2 de agosto até dezembro de 2024, os números saltaram de R$ 3,5 milhões para R$ 4,9 milhões em produtos sem o devido cadastramento de NF.
Pouco mais de um mês após o alerta, a parceria entre Corinthians e Ernst & Young foi encerrada.
As pendências documentais foram uma das razões que motivaram o Cori (Conselho de Orientação) a recomendar a reprovação das contas do Corinthians de 2024, referentes ao primeiro ano da gestão Augusto Melo.
O relatório do órgão, enviado no dia 24 de abril, afirma que foram “solicitados documentos comprobatórios da contabilização das notas” da empresa FISIA Comércio de Produtos Esportivos S/A, que representa a Nike no Brasil. Porém, tais documentos não foram apresentados pela diretoria executiva até a votação no Conselho Deliberativo.
Na época, a antiga diretoria do Corinthians emitiu uma nota oficial sobre o assunto e, apesar de admitir o atraso, alegou que a situação se encontrava regularizada, com o registro de todas as notas sendo realizados manualmente, consequência de uma “readequação no sistema”.









































