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·27 de outubro de 2025

A queda do ‘tampão’ Igor Tudor apenas retrata uma Juventus sem rumo definido

Imagem do artigo:A queda do ‘tampão’ Igor Tudor apenas retrata uma Juventus sem rumo definido

Nesta segunda, 27 de outubro, foi dada uma notícia esperada desde 23 de março. Quando Igor Tudor assumiu a Juventus, no fim do terceiro mês de 2025, já se especulava quanto tempo ele duraria no cargo de treinador bianconero. Pois bem, acertou quem, por acaso, apostou em sete meses e quatro dias. Técnico com prazo de validade, o croata não resistiu à pior sequência sem vitórias da Velha Senhora desde 2009 e foi exonerado após uma gestão em que o futebol apresentado nunca convenceu a torcida da gigante de Turim. O ex-jogador da equipe, porém, não é o único culpado.

A sensação de que Tudor já chegara demitido nunca deixou de pairar sobre a Continassa. Ele assumiu o cargo em um ambiente de transição, ciente de que sua função seria apenas “tapar um buraco” até o retorno de Antonio Conte, o nome preferido da cúpula bianconera. O plano fracassou porque o ícone juventino optou por permanecer no Napoli e o croata acabou transformado de interino a titular quase por inércia, pela escassez de opções convincentes na praça – mas também por falta de convicção da diretoria em qualquer rumo futuro. Em junho, a surpreendente, pouco criteriosa e arriscada renovação até 2027 parecia uma tentativa desesperada de dar alguma continuidade a um projeto, mas o rótulo de técnico-tampão jamais foi totalmente apagado. E o fim do trabalho, apenas adiado.


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A queda do treinador foi motivada principalmente por baixa performance de resultados e atuações. O aproveitamento de aproximadamente 53%, fruto de 10 triunfos, oito empates e seis derrotas em 24 compromissos, nem é tão baixo, mas é inflado pela arrancada do fim de 2024-25. E só disfarça a confusão do time em campo, aliada à improdutividade de um ataque que, no papel, é excelente.

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Técnico com prazo de validade, Tudor foi mais um profissional triturado por uma Juventus que se vê sem rumo definido (Getty)

A Juventus se encontra, juntamente a Atalanta e Udinese, apenas na sétima colocação da Serie A, seis pontos atrás de Napoli e Roma, e não ganhou nenhum dos três jogos que fez na Champions League – empatou dois deles e está fora até da zona de classificação aos playoffs. A Vecchia Signora acumula oito jogos sem vitórias somando todas as competições, o que não ocorria desde 2009. Além disso, vem de três derrotas consecutivas – incluindo para a Lazio, equipe anterior de Tudor, da qual saiu em 2024, após se desentender com vários atletas do elenco – e quatro partidas seguidas sem marcar gols, o que não acontecia desde 1991. Inicialmente, a imprensa italiana informou que o croata teria até o Derby della Mole, contra o Torino, válido pela 11ª rodada do campeonato, para provar que merecia ficar. Seu prazo de validade venceu antes.

Além da crise de resultados, a relação entre Tudor e a nova gestão da Juventus, particularmente com o diretor-geral Damien Comolli, nunca foi sólida. Como era um mero tampão, teve limitações de poder no mercado de transferências, com o francês assumindo as decisões fundamentais. A decisão da diretoria foi tomada entre a madrugada e as primeiras horas do dia, após reuniões intensas entre o ex-cartola de Tottenham, Liverpool e outros clubes, presente em Turim, e Giorgio Chiellini, responsável pelo futebol, que acompanhou tudo à distância, da Arábia Saudita, onde estava a serviço em compromissos institucionais. Os dois tinham um encontro marcado para a metade da semana com John Elkann, CEO do grupo Exor, controlador da agremiação bianconera, para discutir os rumos da equipe. Mas a derrota em Roma catalisou o colapso. O veredito foi inevitável: adeus imediato ao treinador croata.

Para se ter ideia, há 55 anos a Juve não demitia um técnico tão cedo na temporada – precisamente desde a saída de Luis Carniglia em 1969. Os dois caíram em outubro, poucos dias após o recorde negativo do brasileiro Paulo Amaral, que viu sua segunda temporada em Turim ser interrompida com a exoneração no fim de setembro de 1963. Para piorar, a Velha Senhora fará sua terceira troca de comando em menos de um ano e meio, algo raríssimo no lado bianconero da capital do Piemonte. A simbologia de estabilidade que o clube costuma perseguir está em xeque: há meses, a oposição entre a imagem de “equipe grande” e a realidade do time “sem identidade” está escancarada.

O fundo do poço costuma ser um bom momento para se reerguer, se reestruturar, iniciar do zero. O problema da Juventus é que a equipe segue despencando – e parece que a queda não tem fim. A demissão de Tudor foi apenas a cereja de um bolo amargo, feito de desorganização, decisões equivocadas e um “projeto” que há muito tempo perdeu qualquer sentido, com uma diretoria que manifesta incapacidade de dar um rumo ao clube.

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Sob o comando do croata, a Juventus chegou a seu maior jejum de vitórias desde 2009 (Getty)

Ao longo dos últimos anos, a Juventus, que calca sua identidade sob o mote “vencer não é importante, é a única coisa que conta”, cunhado pelo icônico Giampiero Boniperti, lenda como atacante e presidente bianconero, dizia não se guiar mais apenas por resultados: falava em valorizar um “projeto”. Esse termo, tantas vezes reiterado pela diretoria, acabou sendo utilizado para disfarçar a ausência de um planejamento concreto e a profusão de decisões tomadas no improviso.

Desde o fim da presidência de Andrea Agnelli, passando por mudanças na direção esportiva – incluindo a saída do diretor esportivo Cristiano Giuntoli e do técnico Thiago Motta, que tiveram passagens relâmpagos pela Velha Senhora –, a equipe de Turim nunca acertou a bússola. A montagem de elenco, já feita por Comolli, revela isso com clareza: atacantes em abundância, salários inflacionados, o retorno de Daniele Rugani por lacunas na zaga… Isso culminou numa defesa enfraquecida e num plantel sem ossatura clara. Por enquanto, quem têm pagado a conta são os treinadores, que vão se sucedendo no cargo pela falta de avaliação estratégica e sendo triturados por uma espiral negativa que se tornou irreversível, ao menos até agora.

Acéfala, a Juventus será comandada interinamente por Massimo Brambilla, técnico da Juve NextGen. A princípio, ele o fará apenas contra a Udinese, pela nona rodada da Serie A. Afinal, Comolli e Chiellini travam uma corrida contra o tempo para encontrarem um substituto para Tudor, o que pode não ocorrer em poucas horas. Os nomes de Luciano Spalletti, Roberto Mancini e Raffaele Palladino são os mais quentes, mas até a volta de Motta seria considerada por uma ala da diretoria. É que, se buscar um novo treinador, a Velha Senhora terá que pagar três técnicos ao mesmo tempo – o ítalo-brasileiro e o croata têm contrato vigente até 2027. Um sintoma evidente da ausência de planejamento.

Hoje, a Juventus é uma agremiação que vive de remendos, que – como se fosse um time pequeno e controlado por um presidente excêntrico – segue pagando os salários de técnicos demitidos antes de completar uma temporada com o intuito de se desobrigar de indenizações milionárias, ao passo em que aposta num interino e nem tem definido o perfil do novo treinador. No meio disso tudo, o elenco desequilibrado segue como espelho de um projeto sem convicção, incongruente com a reconstrução que a diretoria tanto diz perseguir. A queda de Tudor foi apenas a expressão de uma crise mais profunda e o espelho de uma gigante que continua caindo, sem saber onde está verdadeiramente o fundo do poço.

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