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·16 de abril de 2020
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Quem não acompanha o Campeonato Uruguaio não tem a dimensão de como esta rivalidade é grande. Mas, se você pensa que por não conhecer os times ou não saber que é clássico diminui sua importância: está errado! O Clásico de la Villa não é um grande duelo internacional e nem nacional. É ainda maior que isso: É DE BAIRRO!
Só quem já teve um time no seu bairro ou na sua vila, vai saber o tamanho disso. Sejam rivais de favelas, condomínios, blocos, ruas, vielas, classes, enfim, a rivalidade pode ser “pequena” para quem está de fora. Mas quem está dentro é melhor que Brasil x Argentina ou Real Madrid x Barcelona. Agora você entende um Cerro x Rampla?
E se você imagina que isso é pouco, reflita: e se duas equipes disputassem: espaço (físico), torcida (pois num mesmo bairro você tem que escolher um) e até permanência em divisão? A coluna Desclausurando o Uruguaio vai contar detalhes deste incrível embate.
Localizada nas encostas do monte Montevidéu, a Villa del Cerro foi criada em 1834 como uma cidade independente na capital uruguaia. Foi projetada com o objetivo de abrigar os milhares de imigrantes que chegaram ao Uruguai em ondas sucessivas de imigração que duraram até a década de 1950.
Para ter dimensão da importância, a colina aparece no canto superior direito do escudo uruguaio como um símbolo de força. Desde que foi inaugurada a Villa del Cerro era considerada um verdadeiro símbolo do peso da indústria de carne na economia e na história do Uruguai. Anexada a Montevidéu em 1913 devido ao desenvolvimento urbano, tornou-se um bairro.
Porém, é separado da capital por uma baía, o que faz com que os habitantes seja quase que exclusivamente de pederneiras e cerrenses. Por isso estes confrontos de atmosfera especial. Contudo, as equipes tem fortes raízes na região Oeste de Montevidéu, como nos bairros de Casabó, Paso de la Arena e Pajas Blancas.
A rivalidade entre os clubes começou antes mesmo do Cerro ser fundado. Estranho, né? Mas vou explicar. Fundado em 7 de janeiro de 1914, na Ciudad Vieja, antigamente uma cidade e hoje um bairro de Montevidéu, o Rampla Juniors decidiu por se mudar para a Villa del Cerro em 1919, onde em 1923 construiria seu estádio, o Parque Nelson (hoje Olímpico Pedro Arispe ou Olímpico de Montevidéu).
Assim, já conquistou alguns moradores do bairro. Por outro lado, outras pessoas ficaram incomodadas e resistiram em “apoiar” um time de fora e mantiveram-se fiéis às raízes bairrísticas. Com isso, no dia 1º de dezembro de 1922, nasceu o Club Atlético Cerro, o “legítimo” time do bairro da Vila del Cerro. Portanto, de um lado o dono da casa e do outro o inquilino.
O Clásico de la Villa é o segundo derby mais antigo do país, perdendo apenas para o Superclássico Peñarol x Nacional. Mas isso não é demérito nenhum, afinal, dado o investimento dos clubes, este clássico representa muito. É também o clássico que mais leva torcedores aos estádios, depois do mencionado anteriormente.
Já disputaram 136 jogos: Cerro venceu 48, Rampla venceu 44 e empataram outras 44 vezes. O equilíbrio do confronto mostra também a qualidade do embate. Mas o duelo poderia ter muito mais jogos, pois o clássico não pôde ser disputado em várias ocasiões porque Rampla Juniors ficou por muitos anos na 2ª divisão, cerca de 25 temporadas e é onde se encontra em 2020. Por seu lado, o Cerro após sua estréia na 1ª divisão em 1947, caiu apenas duas vezes: 1997 e 2006 (ambos devido à perda de pontos por incidentes envolvendo seus fãs), ambos retornando na temporada seguinte.
O clássico foi disputado pela primeira vez em 24 de abril de 1924, no Parque Santa Rosa (estádio do Cerro na época). Porém, a vitória foi do Rampla Juniors por 2 x 0. Esta que seria a equipe campeã do Campeonato Uruguai de 1927, ainda na era amadora do futebol local.
Desde o início da década de 1990 o nível de violência em todo o futebol uruguaio estava crescendo. Assim, com o Clásico de la Villa não foi diferente. Por esta razão, o jogo deixou a vizinhança em muitas ocasiões, uma vez que a polícia não permitia que as equipes usassem seus respectivos estádios (Estádio Olímpico e o Luis Tróccoli). Dessa forma, o clássico foi disputado muitas vezes no Estádio Centenário, por razões de segurança.
As sedes dos dois clubes estão na mesma rua e são separados apenas por um quarteirão. O bairro se divide em dois e se transforma em uma festa em época de clássico. O convívio entre as torcida é tranquilo durante todos os dias do ano, exceto, em dia de jogo. A rivalidade começa quando a rodada é sorteada. Confira falas de torcedores para entender o tamanho do derby:
Torcedor do Rampla: “O campeonato começa quando jogamos contra o Cerro e termina quando jogamos contra o Cerro. Prefiro vencer o Cerro sempre. E se tiver que ser rebaixado, não me interessa. Mas eu quero ganhar o clássico, sempre! Toda vez que ganhamos, zoo até morrer, e toda vez que eles ganham, eles me zoo sem limites. Meu melhor amigo é torcedor do Cerro, sócio e sempre vai ao estádio. E ele vai ser o padrinho da minha filha”. Torcedor do Cerro: “O relacionamento entre os torcedores de Cerro e Rampla é boa quase todos os dias do ano, exceto no dia do jogo. Nem alface (verde) e tomate (vermelho) a gente come junto. As pessoas ficam empolgadas em conversas, no bar, em casa, na família. Mas, para nós tem que vencer sempre! Às vezes é complicado, porque você pode se apaixonar por uma torcedora do Rampla. Eu estou com minha esposa há 54 anos e ela é torcedora do Rampla. E eu moro com ela. Paciência. Se você é torcedor do Cerro, nunca deixei de ser torcedor de Cerro”.