Depois de 25 transferências em três anos, um reencontro em campo na Primeira Liga | OneFootball

O Alverca conseguiu na passada sexta-feira, na receção ao também recém-promovido Tondela (1-0), fazer algo que não conseguia há 21 anos: vencer um jogo de Primeira Liga. Para que tenha uma época tão tranquila como deseja, precisará de repetir a façanha mais vezes e terá em cada jornada uma oportunidade.

A sexta ronda trará, desde já, uma visita aos Açores que se prevê difícil, até porque o Santa Clara, quinto classificado na temporada passada, chega fresco de um ponto conquistado na Luz (1-1). Mas esse duelo, agendado para as 15h30 de sábado (hora continental) tem uma conotação bastante específica...

Uma parceria que rendeu 25 transferências em três anos

Ora, a relação entre Santa Clara e Alverca nos últimos anos foi evidente e inegável, com os dois clubes a trocarem jogadores como dois bons amigos trocam cromos para completar as suas cadernetas.

A subida dos ribatejanos colocou as duas equipas no mesmo patamar e isso (além de outros fatores que abordaremos), reduziu o volume de negócios entre os clubes, mas não as travou por completo. Foram quatro transferências este verão, elevando o total para um número que não sugere qualquer acaso. 25 trocas de jogadores em três anos!

Negócios entre Santa Clara e Alverca

A lista acima, quase extenuante de analisar, compila todos os atletas que, nos últimos três anos, trocaram um destes clubes pelo outro a nível sénior. Ou seja, incluindo apenas as equipas principais, que estiveram até este ano separadas por um escalão (Liga 3 e II Liga em 2023/24; II Liga e Primeira na temporada passada), bem como as formações de sub-23.

Há também outras mexidas que aproximam os dois clubes mas que são muito menos tangíveis para uma análise objetiva. Falamos da chegada de Diogo Salomão e Pierre Sagna ao Alverca em 2023/24, pouco depois de representarem os açorianos dois escalões acima, ou do mais mediático Lincoln, que foi figura no Santa Clara há uns anos e regressou a Portugal no último mês pela porta do Alverca.

A explicação é... familiar

Seria completamente inverosímil que um fenómeno como o acima referido não tivesse um motivo palpável. É à primeira vista uma aliança com alguma lógica, dada a ligação ao mercado brasileiro, a necessidade de rodar jogadores entre divisões e ainda o potencial que estas parcerias têm para baixar os custos de recrutamento e scouting. Tudo isso válido e tudo com uma ponta de verdade, pelo menos. Mas a explicação é ainda mais simples...

Ora, Ricardo Vicintin, ex-presidente do Cruzeiro, tornou-se o acionista maioritário do Alverca em dezembro de 2018 e fez parte da ascensão recente do clube até que em fevereiro deste ano vendeu a sua participação a um grupo de investidores espanhóis e brasileiros onde se inclui, como sabemos, Vinícius Jr.

Bruno Vicintin, filho, adquiriu em julho de 2022 55,8 por cento da SAD do Santa Clara, pelo que a ligação que se verificou entre os dois clubes nos últimos anos tem uma explicação que podemos rotular de «familiar».

Situações deste género criam nos adeptos algumas dúvidas em relação a potenciais conflitos de interesse, mas nunca houve provas de que os dois emblemas estivessem unidos na gestão, apesar dos lanços de sangue e da proximidade no mercado. Aliás, Bruno Vicintin publicou em maio de 2024 uma foto em que pai e filho seguram nos troféus da Liga 3 e II Liga, conquistados por Alverca e Santa Clara, respetivamente, nesse ano, mas o texto da descrição sublinha que se tratam (ou tratavam) de «operações independentes»:

«Ser campeão é muito difícil, e para poucos. É para os melhores e acho que com esta foto posso afirmar que mesmo em clubes diferentes e operações independentes, o nosso ADN e a determinação para buscar resultados vem de família», pode ler-se nessa publicação, ainda disponível na rede social instagram.

Hoje, dado o afastamento de Ricardo Vicintin de uma posição de controlo sobre um Alverca de Primeira Liga, não há quaisquer dúvidas sobre a componente ética da relação entre estes dois clubes. Ainda assim, é uma nota válida e relevante para abordar agora que se vão defrontar pela primeira vez desde o distante ano de 2005.