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·16 de setembro de 2025

Em 1995, a Juventus superou o Dortmund pela segunda vez e virou finalista da Copa Uefa

Imagem do artigo:Em 1995, a Juventus superou o Dortmund pela segunda vez e virou finalista da Copa Uefa

Na década de 1990, poucas rivalidades europeias tiveram tanta intensidade quanto a que se construiu entre Juventus e Borussia Dortmund. Em um espaço de apenas cinco anos, italianos e alemães se cruzaram em quatro temporadas distintas, quase sempre em confrontos de mata-mata ou finais, o que acentuou o seu antagonismo. A semifinal da Copa Uefa de 1994-95 constituiu um dos importantes marcos desse embate, preparando o terreno para o clímax que viria dois anos depois, com a decisão da Champions League, em 1997.

Foram sete as partidas entre Juventus e Borussia Dortmund nos anos 1990. Em geral, os embates pelas copas continentais foram equilibrados – exceto os dois primeiros, na decisão da Copa Uefa de 1993, vencida pelos italianos por um sonoro 6 a 1 no placar agregado. Duas temporadas depois, os dois times contavam com vários remanescentes da final e os alemães tentariam a revanche.


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Em 1994, a Juventus experimentou o início de uma nova era em seu banco de reservas. Giovanni Trapattoni, que havia comandado o time por três temporadas em sua segunda passagem pela Velha Senhora, deixou Turim rumo ao Bayern de Munique. Para ocupar o seu lugar, a diretoria apostou em Marcello Lippi, então um técnico em ascensão, que acabaria se tornando um dos nomes mais marcantes da história juventina.

Lippi assumiu com a responsabilidade de quebrar uma incômoda sequência de quase dez anos sem conquistas de scudetto. Sua ideia era construir um time mais equilibrado, menos dependente dos lampejos do Bola de Ouro Roberto Baggio, a grande estrela do elenco. Sua missão foi catalisada por uma grave lesão que o Divin Codino sofreu no joelho, em novembro de 1994, ficando mais de três meses afastado dos gramados. Nesse período, a cena começou a ser ocupada por um jovem de talento exuberante: Alessandro Del Piero, que rapidamente ganhou espaço e confiança.

Nesse meio tempo, a Juventus consolidou sua liderança na Serie A, chegou à final da Coppa Italia e foi avançando de forma contundente na Copa Uefa, apresentando um ótimo futebol. No torneio continental, deixou para trás CSKA Sofia (8 a 1 no placar agregado, considerando a vitória nos tribunais na ida devido à escalação de um atleta irregular pelos búlgaros), Marítimo (3 a 1), Admira Wacker (5 a 2) e Eintracht Frankfurt (4 a 1) até encarar o Borussia Dortmund nas semifinais, naquela que poderia ser a chance de revanche dos aurinegros.

Os alemães, que eram treinados por Ottmar Hitzfeld, o mesmo técnico da final de 1993, estavam envolvidos numa disputa insana pelo título da Bundesliga – seis clubes brigaram pela salva de prata até o fim do campeonato, que seria vencido pelos borussianos – e, enquanto se desdobravam em solo nacional, desenvolviam uma trajetória acidentada na Copa Uefa. Em sua campanha, o Dortmund eliminou Motherwell (3 a 0), Slovan Bratislava (4 a 2), Deportivo La Coruña (3 a 1, com gols decisivos no fim da prorrogação) e Lazio. A vitória sobre os italianos se deu por um agregado de 2 a 1, com tento do ex-biancoceleste Karl-Heinz Riedle no último minuto do tempo regulamentar.

A partida de ida das semifinais aconteceu na Itália, mas não em Turim: o jogo foi disputado em Milão por decisão da Juventus. Para começo de conversa, a diretoria estava em desacordo tanto com a empresa concessionária quanto com a subconcessionária do estádio Delle Alpi; Acqua Marcia e Pubbligest respectivamente. A Velha Senhora entendia que tinha lucro exíguo e despesas excessivas na arena que foi projetada para a Copa do Mundo de 1990 e nunca caiu no gosto da torcida, por suas tribunas distantes do campo e expostas aos ventos da região alpina. Em busca de um ambiente mais caloroso e maior receita, além de ter o objetivo de pressionar as companhias para a negociação de um novo trato, os bianconeri levaram o seu mando para San Siro, que recebeu quase 79 mil pagantes – para efeito de comparação, pouco mais de 17 mil foram à gélida e distante praça esportiva do Piemonte nas quartas, contra o Eintracht Frankfurt.

A partida em San Siro, contudo, não começou tão bem para a Juventus. O Borussia Dortmund saiu em vantagem logo aos 8 minutos, com um velho conhecido bianconero: Stefan Reuter, um dos três jogadores aurinegros que tinham passagem recente pela Velha Senhora, ao lado do zagueiro brasileiro Júlio César e do meia-atacante Andreas Möller. O versátil alemão, escalado como lateral-direito, atacou o espaço nas costas de Moreno Torricelli e recebeu um lançamento milimétrico de Matthias Sammer, ex-Inter. De dentro da área, mesmo sem ângulo, o germânico soltou um petardo e venceu Angelo Peruzzi.

A resposta juventina veio pouco depois da metade do segundo tempo, quando Baggio arriscou de fora da área e carimbou o travessão. No rebote, Fabrizio Ravanelli ficou cara a cara com Stefan Klos, mas recebeu carga de Martin Kree e caiu na área. O árbitro Marc Batta assinalou a penalidade, que foi convertida com frieza pelo Divin Codino. O craque deslocou o arqueiro e partiu para o abraço.

Com o empate, a partida continuou parelha e faltosa, repleta de cartões – no total, foram distribuídos 10 cartões amarelos, sendo que um se transformou em vermelho no finalzinho. Na metade do segundo tempo, o Borussia Dortmund se aproveitou de um momento em que o time da Juve estava muito espaçado em campo e encaixou uma boa jogada. Andy Möller recebeu na intermediária, com liberdade, e disparou um petardo que passou zunindo por Peruzzi e morreu nas redes.

Quando parecia que a derrota da Juventus era inevitável, surgiu o espírito resiliente da equipe de Lippi. O técnico colocou seu time para efetuar o famoso abafa e, a quatro minutos do fim do tempo regulamentar, o zagueiro Jürgen Kohler, que se transferiria ao BVB ao fim da época, apareceu na área adversária. Angelo Di Livio cruzou, Sammer teve a infelicidade de raspar na bola e acabar amaciando o levantamento para o adversário, que concluiu para o gol e empatou o jogo de ida das semifinais. Ainda houve tempo para Torricelli ser expulso por acúmulo de cartões amarelos.

O empate manteve a Juventus viva na eliminatória, mas o cenário de Dortmund prometia ser hostil. O Westfalenstadion, com seu clima único, seria palco de um duelo vibrante na volta. Os dois times, contudo, tinham problemas. Os borussianos perderam Sammer, Möller e Riedle por suspensão, enquanto a Vecchia Signora não tinha Torricelli, pelo mesmo motivo, nem Peruzzi e Gianluca Vialli, por lesão.

Logo no início, a Velha Senhora mostrou sua disposição: aos 6 minutos, Sergio Porrini, substituto de Torricelli, aproveitou cobrança de escanteio de Baggio no primeiro pau e, sozinho, abriu o marcador com uma cabeçada fulminante. Em seguida, Lippi teve de queimar uma substituição, pois Kohler se machucou e deu lugar a Di Livio. Para piorar, a Juventus ainda sofreu com a imediata reação do Dortmund. Aos 10, o brasileiro Júlio César igualou o placar com um forte chute numa cobrança de falta ensaiada, incendiando a Muralha Amarela.

A troca de golpes no começo dava a impressão de que a noite seria longa. Depois, Ibrahim Tanko e Ciro Ferrara tiveram boas oportunidades, mas foi novamente na bola parada que Baggio brilharia. Aos 31 minutos, o craque teve uma falta na entrada da área para bater e foi mortal: acertou chute preciso, que ainda tocou no travessão e morreu na rede, enquanto Klos, imóvel e impotente, só observava. Ao selar a virada, o capitão correu para o banco e pulou sobre Lippi, abraçando-o – uma cena curiosa, se avaliada em perspectiva, já que o treinador virou o grande desafeto de sua carreira.

A partir dali, a Juve se fechou com inteligência, neutralizou as principais armas ofensivas do adversário e começou a administrar o resultado. Mas não deixou de ameaçar. Ainda no primeiro tempo, Baggio, em estado de graça, obrigou o goleiro Klos a efetuar a uma defesa acrobática em chute de longa distância, que quase o encobriu.

No início do segundo tempo, Lars Ricken – que seria carrasco da Velha Senhora dois anos depois, na final da Champions League – perdeu uma grande oportunidade, mandando a bola para fora. Depois, ele até balançou as redes, mas a arbitragem pegou, com muita demora, uma falta de Tanko sobre Massimo Carrera perto da linha de fundo, quando o ganês desarmou o defensor e teve a oportunidade de efetuar o cruzamento na área.

Dali em diante, o time alemão tentou engatar uma blitz, mas pouco ameaçou Michelangelo Rampulla. A Juventus é que viria a ser mais perigosa, quando o português Paulo Sousa acertou um balaço na parte interna da trave, em arremate de longa distância, em lance que poderia ter liquidado de vez o confronto. Já nos minutos finais, Ravanelli obrigou Klos a duas defesas consecutivas, enquanto René Tretschok, pela equipe da casa, girou bonito, mas errou o alvo. Foram momentos que mantiveram a incerteza do resultado no ar até o apito final.

No fim das contas, o talento individual de Baggio e a resiliência da Juventus fizeram a diferença. A classificação com o agregado de 4 a 3 evidenciou um sinal da força mental de uma equipe que aprendeu a reagir em momentos complicados e a vencer fora de casa em ambientes hostis. Entretanto, na final da Copa Uefa, isso não se verificou e, ironicamente, com gols de Dino Baggio, ex-bianconero, o Parma acabaria levando a melhor. A Vecchia Signora se contentaria com a dobradinha nacional, pois ganhou os títulos da Serie A e da Coppa Italia. O Borussia Dortmund, por sua vez, faturou a Bundesliga. E teria a oportunidade de se vingar da rival de Turim apenas dois anos depois, em 1997, no jogo mais importante feito pelos times – a já citada decisão da Champions League.

Juventus 2-2 Borussia Dortmund

Juventus: Peruzzi; Ferrara, Kohler, Carrera, Torricelli; Deschamps, Paulo Sousa, Marocchi (Del Piero); R. Baggio; Ravanelli, Vialli (Di Livio). Técnico: Marcello Lippi. Borussia Dortmund: Klos; Kree, Júlio César (Kurz), Sammer; Reuter (Tanko), Freund, Zorc, Reinhardt; Möller; Ricken, Riedle. Técnico: Ottmar Hitzfeld. Gols: Baggio (27′) e Kohler (88′); Reuter (8′) e Möller (71′) Cartão vermelho: Torricelli Árbitro: Marc Batta (França) Local e data: estádio San Siro, Milão (Itália), em 4 de abril de 1995

Borussia Dortmund 1-2 Juventus

Borussia Dortmund: Klos; Reuter, Kurz, Júlio César (Zelic), Schmidt; Tretschok, Franck, Freund, Zorc, Reinhardt (Ricken); Tanko. Técnico: Ottmar Hitzfeld. Juventus: Rampulla; Ferrara, Kohler (Di Livio), Carrera, Porrini; Conte, Paulo Sousa, Deschamps; R. Baggio, Del Piero (Tacchinardi); Ravanelli. Técnico: Marcello Lippi. Gols: Júlio César (10′); Porrini (7′) e Baggio (31′) Árbitro: Mario van der Ende (Países Baixos) Local e data: Westfalenstadion, Dortmund (Alemanha), em 18 de abril de 1995

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