Trivela
·01 de junho de 2022
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Quando a Alemanha entrou em campo para enfrentar a Arábia Saudita em sua estreia na Copa do Mundo de 2002, em 1° de junho, o nome de Miroslav Klose não era tão conhecido entre o grande público. O centroavante de 23 anos estava apenas em sua segunda temporada completa como titular do Kaiserslautern, embora viesse de um grande ano na Bundesliga. Também era um novato na Mannschaft, com apenas 12 partidas disputadas, mas já um número respeitável de oito gols. O técnico Rudi Völler, ele próprio herói em Mundiais, apostou no jovem. E aquela noite em Sapporo ofereceu o início da caminhada do maior artilheiro da história das Copas. Os alemães passearam nos 8 a 0 sobre os sauditas, com uma tripleta de Klose. Os três primeiros de seus 16 gols no torneio.
Klose tinha o esporte correndo em suas veias. Tanto seu pai quanto sua mãe fizeram carreiras profissionais. Josef era atacante, enquanto Barbara defendia a seleção polonesa de handebol. Miroslav nasceu na Polônia, mas se mudou com meses de idade para a França, onde seu pai defendeu o Auxerre e o Chalon. Após um breve retorno à Polônia, a família se mudou para a Alemanha, depois que os pais haviam encerrado suas trajetórias esportivas. As origens germânicas influenciaram a escolha e o garoto, então com oito anos, não demorou a criar laços. Foi por lá iniciou sua trajetória nos gramados.
Durante a adolescência, Klose defendeu um pequeno clube da sétima divisão alemã. Sua carreira começou a progredir quando ele se transferiu para o Homburg, aos 20 anos, e passou a atuar na terceira divisão. Isso até ser descoberto pelo Kaiserslautern uma temporada depois e assinar com os Diabos Vermelhos, em tempos nos quais a equipe mantinha sua importância na Bundesliga. O centroavante precisou provar seu valor com o segundo quadro e disputou mais uma edição da terceirona, em 1999/00, embora ganhasse as primeiras oportunidades no elenco principal. Já em 2000/01, Klose começou voando na terceira divisão e logo seria efetivado na equipe de cima. Seria sua primeira campanha completa na elite, a menos de dois anos da Copa.
Apesar da progressão tardia, Klose teve seu impacto na Bundesliga 2000/01. O atacante marcou nove gols pelo Kaiserslautern e chamou a atenção da seleção. Num processo de renovação após o desastre na Euro 2000, Völler deu as primeiras chances para o atacante em março de 2001. O novato correspondeu, saindo do banco para marcar um gol no amistoso contra a Albânia e também um contra a Grécia. Ganharia de vez seu lugar nas convocações. Como reserva, o camisa 11 participou da campanha nas Eliminatórias. Entrou no segundo tempo da desastrosa goleada por 5 a 1 sofrida diante da Inglaterra no Estádio Olímpico de Munique. Seria ausência apenas na repescagem contra a Ucrânia, que selou a classificação do Nationalelf ao Mundial.
Klose teve um desempenho ainda melhor na Bundesliga 2001/02. O atacante marcou 16 gols e serviu sete assistências, com grandes momentos especialmente no segundo turno. Assim, estava voando baixo nos amistosos preparatórios para a Copa do Mundo. Marcou três gols contra Israel e também três contra a Áustria. Virou escolha certa no 11 inicial. Estava claro como o camisa 11 tinha mais recursos que os concorrentes, graças à sua maior mobilidade na época, assim como aprimorava seu senso de definição. Não era exatamente um craque, mas tinha aquele instinto de matador e um posicionamento apuradíssimo, que sempre fizeram a diferença.
Numa seleção alemã mais limitada como aquela de 2002, dependente da liderança de Oliver Kahn e Michael Ballack, Klose poderia despontar como um protagonista. Desfalques importantes pesavam no meio, em especial Sebastian Deisler e Mehmet Scholl, com a responsabilidade de Bernd Schneider aumentando na armação. Contar com um homem de referência letal seria essencial às pretensões da equipe. Foi exatamente isso o que o camisa 11 providenciou, deixando ótimas impressões logo na estreia – mesmo que tivesse um tanque como Carsten Jancker ao lado na primeira partida.
(GABRIEL BOUYS/AFP via Getty Images/One Football)
Obviamente, a Arábia Saudita facilitava as coisas. Era uma versão cada vez mais envelhecida da equipe que fez bom papel em 1994, estrelada por Sami Al-Jaber. E se por um lado aquele duelo no Sapporo Dome iniciou o recorde de gols marcados por Klose, também influenciaria bastante o recorde de gols sofridos por Mohammed Al-Deayea. O arqueiro saudita se tornaria o mais vazado da história dos Mundiais, ao lado do mexicano Antonio Carbajal, ambos com 25 tentos engolidos. Quase um terço veio nos fatídicos 8 a 0.
Klose iniciou a saraivada da Alemanha contra a Arábia Saudita. O primeiro gol foi de oportunismo, num cruzamento furado por Jancker. O camisa 11 estava à espreita para mergulhar de cabeça e abrir o placar aos 20 minutos. Cinco minutos depois, Klose marcou mais um. Ballack cruzou no capricho da esquerda e o centroavante saltou no terceiro andar para desferir a testada. Aquela seria também a primeira vez que executou seu icônico salto mortal na comemoração. Ballack marcou o terceiro na sequência, enquanto Klose ainda teria uma assistência antes do intervalo. Deu um leve desvio de calcanhar para Jancker deixar o seu nos acréscimos.
Já no segundo tempo, Klose procurava sua tripleta. Movimentava-se bastante e puxava ataques. Conseguiu seu terceiro tento em mais uma cabeçada, aos 25, agora com um passe na medida de Schneider. Não demoraria a ganhar um descanso, dando lugar a Oliver Neuville – que se tornaria seu parceiro de ataque na sequência da competição. O baile seria concluído com tentos de Thomas Linke, Oliver Bierhoff e Schneider – este, numa linda cobrança de falta, que terminou de abrilhantar a noite.
Klose marcou mais dois gols na Copa de 2002, ambos na fase de grupos, para garantir o empate contra a Irlanda e para confirmar a classificação diante de Camarões. Nos mata-matas, o centroavante acabou passando em branco numa sequência de três vitórias por 1 a 0 da Mannschaft e também não conseguiu fazer a diferença na final perdida contra o Brasil. Os cinco tentos, ainda assim, valeram a vice-artilharia da competição e um lugar na equipe ideal do torneio. Era só o começo para o camisa 11.
A partir de 2002, o mundo passou a olhar Klose com outros olhos. Viu o centroavante desabrochar no Kaiserslautern e viver grande fase no Werder Bremen, antes de ter uma passagem apagada pelo Bayern de Munique e virar ídolo da Lazio. Viu principalmente o goleador se transformar numa lenda da seleção alemã. A experiência na Coreia do Sul e no Japão foi importante para que Klose chegasse como uma referência às boas campanhas da Mannschaft em 2006 e 2010, quando a rejuvenescida equipe apresentava seu potencial e o matador potencializava essa crescente. De qualquer maneira, o melhor estava guardado para o Mundial de 2014 – o fim da linha para o camisa 11, com 36 anos completados durante a campanha.
Klose começou como reserva no Mundial do Brasil, mas saiu do banco para salvar uma Alemanha que demorou a pegar embalo na primeira fase. Foram dois gols no grupo, incluindo aquele que igualou Ronaldo como o maior artilheiro da história das Copas. O inesquecível salto mortal se repetia. Já a partir dos mata-matas, sua presença na equipe se tornou imprescindível e ajudou na evolução do desempenho. Seria um dos protagonistas do implacável 7 a 1 das semifinais, com o tento que enfim superou Ronaldo. Era uma marca indelével de sua grandeza. E a luta do camisa 11 também valeu sua glória dias depois, com a conquista sacramentada diante da Argentina dentro do Maracanã. Klose era o único remanescente do vice de 2002 e, no último ato pela seleção, como maior artilheiro da história do Nationalelf, se despedia com a taça que tanto perseguira. Aquela tripleta diante da Arábia Saudita foi mesmo um ótimo presságio sobre o gigante que se tornaria na história das Copas.