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·10 de outubro de 2025
Iaquinta, o melhor marcador em Portugal no mês de setembro: «Nem sabia quem ele era»

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·10 de outubro de 2025
Setembro marcou o segundo mês da época 2025/2026 e trouxe-nos 1212 jogos nas 55 competições, de categoria nacional ou distrital, que decorrem em todo o território português. Nesta rúbrica mensal, o zerozero procura falar com os melhores marcadores, de todo o país, em cada mês da temporada.
Da primeira divisão distrital de Lisboa, mais concretamente do Sacavenense, chega-nos o maior goleador do mês. Malam Fati, mais conhecido pelo nom de guerre Iaquinta, destacou-se com oito golos em cinco jogos, o melhor registo em Portugal em setembro.
Atualmente com 30 anos, Iaquinta conjuga o emprego noturno no metro de Lisboa, da meia-noite às 6h30, com os treinos matinais no clube de Sacavém.
Venha com o zerozero conhecer a história do guineense que partilha nome com Vincenzo Iaquinta, campeão do mundo por Itália e matador de serviço da Udinese nos anos 2000.
Zerozero (ZZ): De onde vem a alcunha de Iaquinta? Está relacionada com o ponta de lança italiano?
Iaquinta (I): Sim. Está relacionado com o Vincenzo Iaquinta. Eu ao início não sabia quem era, nem gostei, nem percebi o porquê da alcunha. Eu gostava mais de ser tratado por Mantorras, porque era o meu jogador favorito. E quando o Vincenzo Iaquinta jogava, houve uma eliminatória com o Sporting, penso que da Taça UEFA, em que nas duas mãos ele fez três ou quatro golos (os jogos a que Iaquinta se refere foram da terceira pré-eliminatória da qualificação da Liga dos Campeões de 2005/2006 que opôs os leões à Udinese, na qual o avançado italiano fez dois golos e uma assistência no conjunto das duas mãos).
Os meus amigos viram esses jogos, nós fomos jogar no dia seguinte, marquei três golos e passaram a chamar-me de Iaquinta. Comecei a ser conhecido assim em todo o lado, e ficou.
(ZZ): O Iaquinta chegou a Portugal há cerca de dez anos. Veio com o objetivo de seguir carreira no futebol ou emigrou por outras razões?
(I): Sim, vim para jogar. Eu jogava no Sporting Bissau e o meu empresário, na altura, e o presidente do clube vieram para Portugal para estabelecer contactos. Cheguei a receber um convite do Marítimo para ir lá fazer uns treinos à experiência e depois eles verem se queriam ficar comigo ou não. Não chegou a acontecer porque não consegui chegar a Portugal a tempo do período que o Marítimo tinha definido.
Eu estava com a Seleção da Guiné e era suposto estar em Portugal no dia 10 ou 12 de julho, em 2015, mas só cheguei a 2 de agosto. Com 20 e tal dias de atraso já não foi possível. Eu vim na mesma para Portugal e acabei por seguir carreira no Coruchense (à época no Campeonato de Portugal Prio, o terceiro escalão do futebol português).
(ZZ): Segundo os nossos registos, tem uma internacionalização e um golo pela seleção da Guiné-Bissau, contra o Mali. Como foi representar o seu país?
(I): Ser chamado à seleção é sempre um orgulho, então marcar… e não foi um golo qualquer, foi quase do meio campo! Por acaso, perdi a tal experiência com o Marítimo por causa desse jogo. Nós tivemos um atraso no voo e só voltamos para a Guiné uma semana depois. Foi um momento que ficará eternamente. Até hoje as pessoas ainda falam desse golo, muitos dizem que é o melhor golo da história da seleção da Guiné! Só comparado ao do Piqueti contra os Camarões na CAN de 2017. Foi incrível. Um dos momentos mais altos da minha carreira.
(ZZ): Tem esperanças de voltar à seleção?
(I): Seria difícil. Hoje em dia há muitas soluções, vários jogadores que jogam em patamares superiores ao meu, alguns em bons campeonatos europeus. Eu nesta altura jogo no equivalente à quinta divisão do futebol português. Mesmo marcando muito golos seria muito difícil. E eu compreendo totalmente isso, que há jogadores mais preparados para representar a seleção. Agora, se aparecer a oportunidade, eu pego nas minhas coisas e vou logo!
(ZZ): Referiu que o golo frente ao Mali é um dos pontos altos da sua carreira, mas tem outro golo importante, frente ao Sporting para a Taça de Portugal em 2020. Mesmo que tenha sido um resultado desnivelado, o Sporting foi campeão nacional nessa temporada. Como foi marcar a uma das melhores equipas de Portugal?
(I): Foi bom, mas foram momentos diferentes. Quando aconteceu o jogo com o Sporting estava a passar um momento complicado na minha vida. Um os dos piores momentos. Tinha acabado de perder o meu pai. Ele era adepto do Sporting e gostava que estivesse presente e me visse a defrontar o clube por quem torcia, e a marcar um golo.
Infelizmente não foi possível. Foi um golo que eu lhe dedico. Tenho uma proximidade e um amor muito grande por ele. Ainda me custa falar sobre o meu pai, ter lembranças, ver fotos dele…mas sim marcar ao Sporting foi uma alegria muito grande. No entanto, coloco o meu golo pela seleção como ponto mais alto.
(ZZ): Sempre foi goleador nos clubes por onde passou, mas na última temporada alcançou números de outra dimensão, ao marcar 32 golos. Na temporada atual já vai a um bom ritmo também - marcou oito só no mês de setembro. Esta subida de rendimento coincidiu com a chegada de António Ilhicas ao comando técnico ao Sacavenense. Este aumento de golos tem dedo do treinador ou o Iaquinta alterou alguma coisa na forma de jogar, ou treinar?
(I): Estes últimos dois anos têm sido dos melhores a nível pessoal. E um jogador precisa de estabilidade e foco total para estar no futebol. Nos seis ou sete anos anteriores eu não tive esse foco e essa concentração devido a alguns problemas pessoais. Nos últimos dois anos e meio fiquei livre desses problemas que me afetavam tanto, e deu resultado. Claro que o mister também foi um fator importante. Eu para marcar 32 golos tinha de jogar, não é?
O mister ajuda-me em campo, dá muito ânimo e apoio, mesmo quando as coisas não estão a correr bem. Ele acredita sempre em mim, mesmo quando falho golos ele diz sempre: «Vais marcar a seguir, à frente da baliza és incrível».
Só tenho gratidão por tudo que ele tem feito de ano passado para cá que tem contribuído tanto para este sucesso. Agradeço-lhe muito e a Deus por dar-me saúde para poder continuar a ajudar o Sacavenense a atingir os objetivos.
(ZZ): Ainda tem aspirações a jogar num escalão superior?
(I): Sim, tenho… este ano eu quis ficar no Sacavenense, mas recebi propostas de vários clubes do Campeonato de Portugal. Antes do início da época tinha três ou quatro, inclusive uma que ainda está de pé, de um projeto muito bom que luta pela subida à Liga 3. Mas vai depender de mim e do Sacavenense que tem que aceitar para me poder libertar. Por isso vamos ver o que acontece até janeiro, mas, para já, o meu foco está totalmente no Sacavenense.
*Artigo de Luís Pereira
(Veja o golo de Iaquinta pela seleção ao minuto 7:10)