MundoBola Flamengo
·19 de outubro de 2025
Neste domingo não apenas o bem venceu o mal como emparelhou com ele na briga pelo título

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·19 de outubro de 2025
Um dos riscos que você corre quando vive muito intensamente a paixão esportiva, quando entrega uma porcentagem grande da sua atenção e do seu coração pra um time, é o do maniqueísmo, que é a ideia de que, mais do que uma competição esportiva, você está diante de um duelo entre certo e errado, bom e ruim.
É a crença de que seu time é moralmente correto enquanto o adversário não é, a ideia de que sua equipe tem virtudes que a outra não possui, de que existe algum senso maior de merecimento da parte do seu time, que não existe em quem está do outro lado. O que obviamente não é verdade.
Não existe time moralmente melhor e time moralmente pior, não existe um clube que representa a luz enquanto o outro está do lado das trevas, não vai acontecer, num torneio de futebol, nenhuma partida em que estão em jogo não apenas três pontos, mas sim algo mais simbólico e profundo, numa clara e nítida divisão entre o bem e o mal, entre o resplendor e a escuridão.
Exceto quando existe, é claro. Como foi o caso da partida deste domingo, entre Flamengo e Palmeiras.
Porque a atual formação da equipe paulista não representa apenas o que existe de pior no nosso futebol - a ligação direta, o jogo truncado, a falta desleal, o goleiro que sai dando cotovelada e o atacante que não quer deixar nem um simples tiro de meta ser cobrado. O time alviverde hoje é sinônimo de quase tudo que existe de errado, de negativo, de prejudicial na nossa sociedade.
O Palmeiras é o empréstimo consignado pra idosos, é a reunião marcada pras cinco da tarde de sexta-feira, é o ex-colega de colégio que te procura depois de 15 anos pra oferecer esquema de pirâmide. Ele é o patinete elétrico, a pessoa que manda mensagem de Whatsapp dizendo apenas “bom dia” sem entrar no assunto, a fila do cartório, o dia chuvoso na viagem pra praia, o motorista de Uber que para duas ruas ao lado e te pede pra ir andando que tá ruim pra ele chegar na frente do seu prédio.
Então cabe ao Flamengo ser o oposto disso. Ser o toque refinado de Arrascaeta, a finalização sutil de Pedro, a qualidade indiscutível de Jorginho. A bola que rola macia, o drible que acontece maroto, o grito de gol da torcida. Cabe ao rubro-negro a obrigação de ser sorriso de criança, manhã de sol, caminhada na praia, abraço de avó. Chopinho com os amigos, boteco que faz fiado, amorzinho delícia com quem você gosta, dia em que você acorda legal e quando olha pro relógio vê que ainda pode dormir mais uma horinha.
E nesse domingo foi isso que aconteceu. Com imensa eficiência, mas também gigantesca qualidade, o Flamengo venceu, superando a catimba, a maldade, o empurrão em goleiro, a coerção de juiz e a presença de belgas sem caráter, para deixar claro que está brigando e brigando a sério, pelo seu nono título de campeão brasileiro. Debaixo de chuva, num Maracanã lotado, não só o bem venceu o mal como empatou com ele em pontos na tabela.
Mas ainda temos, é claro, muita estrada pela frente. Não só temos mais ¼ de Brasileirão pela frente como, nesta quarta, temos mais um duelo de vida ou morte, mais uma batalha valendo apenas e tão somente tudo. E que diante do Racing, dessa vez pela Libertadores, possamos ter, mais uma vez, uma festa em vermelho e preto, que contagie a cidade, alegre as pessoas, e nos lembre que no fim, as coisas boas sempre vão triunfar.