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·11 de novembro de 2025

O que significam, na prática, as “red flags” apontadas à SAFIEL pelo compliance do Corinthians? Entenda

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  1. Por Larissa Beppler e Daniel Keppler / Redação da Central do Timão

Documentos de análise interna de riscos, elaborados pelo setor de compliance do Corinthians e acessados pela reportagem da Central do Timão, apontam que a SAFIEL – registrada sob a razão social Invasão Fiel S/A – apresenta pontos que demandam esclarecimentos prévios à celebração de qualquer eventual acordo com o clube.

O material é composto por dois conjuntos principais: um parecer formal emitido pelo compliance, destacando questionamentos específicos, e um dossiê de análise cadastral e reputacional da empresa e de seus sócios, no qual os apontamentos são concentrados em Maurício Chamati, proprietário da Mercado Bitcoin, ex-patrocinadora do Corinthians e um dos sócios da Invasão Fiel S/A.


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Foto: Reprodução/Corinthians

Chamati possui um Termo de Confidencialidade (NDA) firmado com o Corinthians, datado de setembro de 2024 e válido até dezembro de 2026, com obrigação de manutenção de sigilo por cinco anos adicionais após o término de sua vigência. A assinatura se deu por conta da sua participação em um comitê independente de finanças constituído pela gestão de Augusto Melo, presidente destituído em agosto deste ano.

Na condição de membro, o empresário obteve acesso a informações confidenciais e sensíveis do clube. Essa circunstância, segundo o parecer, justificaria a necessidade de maior rigor na verificação de potenciais conflitos de interesse e no cumprimento das obrigações de sigilo, para que a participação de Chamati na SAFIEL não sofra questionamentos posteriores.

Sem conflitos de interesse, mas com ressalvas

A análise reputacional da empresa, segundo os documentos, não identificou, por meio da ferramenta de TPRM (Third Part Risk Management, ou Gestão de Riscos de Terceiros) utilizada pelo clube, proximidade que configurasse conflito de interesses direto com o Corinthians. No entanto, o relatório aponta “red flags” que seriam passíveis de gerar riscos ao clube caso a parceria avance sem diligência adequada.

Entre os pontos levantados, o documento ressalta a participação de Maurício Chamati como controlador de uma empresa envolvida em processo judicial de grande repercussão nacional, recomendando esclarecimentos sobre o caso e citando como referência reportagem do InfoMoney sobre a condenação sofrida pela Mercado Bitcoin para que pagasse R$ 300 milhões a um cliente, em ação relacionada a golpe envolvendo um ex-sócio.

O texto também registra a existência de um Processo Investigatório Criminal (PIC) envolvendo o mesmo sócio, com tipificação relacionada ao crime de estelionato, apontado igualmente como aspecto que demanda esclarecimentos adicionais. Segundo apuração da reportagem, o procedimento tramitou sob sigilo na 2ª Vara Criminal de Uberlândia e foi posteriormente arquivado.

Além disso, o dossiê menciona suposto envolvimento de Chamati em fatos relacionados à campanha eleitoral interna do clube, incluindo alegações de apoio financeiro à candidatura de Augusto Melo à presidência. Embora o documento não estabeleça causalidade ou confirmação, recomenda que o Corinthians solicite esclarecimentos formais.

O dossiê ainda registra que a Invasão Fiel S/A é uma empresa recente, constituída em 18 de julho de 2025, com natureza jurídica de sociedade anônima fechada e capital social considerado baixo, fatores que geram ressalvas quanto à efetiva capacidade de arrecadação dos R$ 2 bilhões anunciados.

Outro aspecto relacionado à empresa em si diz respeito à sua classificação no CNAE como holding de instituições não financeiras, informação destacada pelo setor de compliance como motivo para diligência adicional, em razão das características do negócio e da ausência de obrigação legal de publicação de demonstrações financeiras.

À luz desses elementos, o parecer conclui que existem situações que “poderiam gerar riscos significativos ao SCCP” na análise da empresa e de seus sócios, reforça a necessidade de esclarecimentos sobre os pontos mencionados e recomenda que a diretoria, responsável pela decisão final, considere a natureza e o potencial impacto desses riscos.

Decisão final é de Stabile

A recomendação à diretoria no parecer final é relevante pois expõe qual o papel do compliance, de fato, na análise de qualquer tipo de parceria proposta ao Corinthians. O setor não tem a autoridade ou competência para, sozinho, barrar o vínculo de empresas com o clube, pois embora possua autonomia para elaborar pareceres, sua opinião não é vinculante, mas apenas recomendatória.

Em outras palavras, é a diretoria executiva, liderada pelo presidente alvinegro, quem toma a palavra final sobre qualquer negociação, após ponderar sobre os apontamentos do compliance, possuindo liberdade tanto para encerrar conversas com o potencial parceiro, como pedir esclarecimentos extras ou ainda escolher não acatar as “red flags” e seguir com as conversas.

Este último cenário já ocorreu recentemente no Corinthians. No final de 2021, o então presidente Duilio Monteiro Alves ignorou alertas do compliance do clube sobre a Taunsa, empresa que havia proposto uma parceria que incluía patrocínio com espaço nobre na camisa. Ao tomar essa decisão, o negócio foi firmado e, meses depois, rescindido sem que o clube recebesse qualquer valor da parceira. O prejuízo total causado foi superior a R$ 25 milhões, que o clube tenta recuperar, ao menos parcialmente, em processo na Justiça.

Atualmente, o estatuto corinthiano não delibera diretamente sobre a responsabilização de dirigentes que, ao ignorar um parecer do compliance, geram prejuízos financeiros e/ou de imagem ao Alvinegro. No entanto, o anteprojeto de reforma estatutária em discussão no Conselho Deliberativo muda este cenário, integrando à diretoria uma Superintendência de Compliance e Governança, cujas atribuições incluiriam exatamente apontar esse tipo de responsabilização.

Na situação atual, portanto, cabe a Osmar Stabile tomar as providências a partir do relatório produzido pelo compliance corinthiano. A Central do Timão questionou o clube sobre se as conclusões do setor já chegaram à presidência e se, em caso positivo, foram desconsideradas, ensejaram a rejeição sumária à SAFIEL ou foram encaminhadas à empresa para esclarecimentos adicionais. Caso o clube retorne, esta matéria será atualizada.

SAFIEL se posiciona

Poucos minutos após a publicação desta matéria, a SAFIEL publicou um manifesto em suas redes sociais comentando os apontamentos do compliance corinthiano. No comunicado, o grupo explicou que o capital social da empresa, de R$ 3 mil, segue a prática usual de empresas em fase pré-operacional, além de sustentar que seu potencial de arrecadação de R$ 2 bilhões refere-se a um plano de investimento escalonado e validado por consultorias especializadas, construído “de forma independente, com base em dados públicos e análises de mercado.”

Sobre a participação de Mauricio Chamati, a SAFIEL garantiu que sua atuação em um comitê consultivo do Corinthians “não propiciou qualquer vantagem ou conhecimento privilegiado”, além de ressaltar que nenhum membro do grupo ocupa ou ocupou cargo executivo, deliberativo ou remunerado no Corinthians, e que nenhum membro atual integrará a futura gestão em cargo remunerado, havendo “apenas previsão para apoio na etapa de transição.”

Por fim, a SAFIEL reiterou seu objetivo de propor um modelo inovador de sociedade anônima com participação dos torcedores e “governança independente e critérios rigorosos de compliance”, além de se colocar à disposição dos órgãos fiscais do Corinthians para prestar esclarecimentos e se manter aberta ao diálogo com conselheiros e torcedores através de entrevistas e debates na imprensa.

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