Trivela
·10 de fevereiro de 2022
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O Real Potosí costumava ser um adversário indigesto no sorteio da Libertadores. A altitude da cidade boliviana, a mais de 4 mil metros acima do nível do mar, era a preocupação principal. Times como o Flamengo e o Cruzeiro chegaram a ser derrotados pelo Leão Imperial, que disputou seis edições da competição continental, todas entre 2002 e 2012. Uma década depois desse ápice, o Real Potosí fecha as portas. Nesta semana, o clube anunciou sua falência por conta das dívidas. No entanto, o recomeço acontecerá através de outro time das divisões regionais já adquirido pelos atuais proprietários.
O Real Potosí surgiu em 1988, através do empresário espanhol Samuel Blanco, que atuava no ramo da mineração – a cidade boliviana é reconhecida por ter contado com a maior mina de prata do mundo. Torcedor do Real Madrid, o fundador se inspirou no seu clube para dar nome e símbolo aos potosinos, que a princípio funcionavam como uma academia para formar talentos. O salto competitivo aconteceu em 1994, quando houve uma fusão com o Bamín, clube da cidade fundado em 1941 e que chegou a disputar a elite do Campeonato Boliviano. Com o investimento, o Real Potosí alcançou a primeira divisão pela primeira vez em 1997.
O Real Potosí chegou ao seu auge a partir de 2002, quando conquistou pela primeira vez a classificação para a Copa Libertadores. Chegaria a aplicar uma goleada por 6 a 1 sobre o Peñarol naquela edição. A partir de então, as aparições internacionais dos potosinos se tornaram corriqueiras. Já no Campeonato Boliviano, o ápice aconteceu com o título do Apertura em 2007. Esta equipe ainda faria barulho na competição continental, ao enfiar um 5 a 1 sobre o Cruzeiro. Todavia, com a redução do investimento e a saída de Samuel Blanco em 2010, a última aparição na Libertadores ocorreu em 2012. O Leão Imperial pegou o Flamengo na fase classificatória e, apesar da vitória na Bolívia, foi eliminado no Brasil.
O Real Potosí se tornou um time de meio de tabela no início da década passada, disputando a Copa Sul-Americana pela última vez em 2016, até perambular nas últimas posições durante os anos mais recentes. As dificuldades financeiras sufocavam os potosinos, que flertavam cada vez mais com o descenso. O rebaixamento ocorreu em 2021. Penúltimo colocado no Campeonato Boliviano, à frente apenas do San José de Oruro (outro clube que enfrenta sérios problemas financeiros), o Real Potosí encarou o Universitario de Sucre nos playoffs de permanência e acabou derrotado.
Com as perdas financeiras e os atrasos salariais, o Real Potosí acumulava punições e já não poderia competir nos torneios oficiais da federação, sem a licença necessária. Na última terça-feira, dirigentes, sócios e torcedores se reuniram para discutir o futuro da agremiação. Concordaram então em declarar a falência. Desta maneira, será mais maleável lidar com as dívidas. Os débitos chegam a US$450 mil, sendo US$200 mil de curto prazo. Se o departamento de futebol ficasse parado por conta das sanções, seria mais difícil para o Leão Imperial contornar seus problemas.
Já nesta quinta, o Real Potosí se fundiu com o Felipe Hartmann, clube que disputa a liga regional. A aquisição custou US$30 mil. E a caminhada dos potosinos para tentar retornar à elite nem será tão longa assim: com a segunda divisão reunindo os melhores times de cada região, o Leão Imperial terá a possibilidade de reaparecer na primeira divisão dentro de três temporadas. Bastará prevalecer na Associação de Futebol de Potosí, antes de conquistar a chamada Copa Simón Bolívar, a segundona local.
Representantes da torcida presentes na reunião de falência decidiram apoiar o Real Potosí Hartmann. A nova equipe também ganhará novos investidores, interessados na recuperação. Porém, conforme a legislação local, a história do Leão Imperial não é “transferível” – como o que ocorre na Itália, por exemplo. Assim, os troféus e outros patrimônios do antigo Real Potosí ficarão sob posse das autoridades. É o maior custo da bancarrota que levou os violetas ao fundo do poço.
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