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·05 de novembro de 2024
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Sporting CP e Manchester City. Rúben Amorim e Pep Guardiola. Viktor Einar Gyökeres e Erling Braut Haaland. Os intervenientes perfeitos para uma verdadeira noite de Champions.
Discute-se, em Alvalade, esta terça-feira, a quarta ronda da fase de liga da Champions League. Ao mesmo tempo, discute-se, também, o título de avançado nórdico mais prolífero da Europa e, ainda, se Rúben Amorim será capaz, ou não, de fazer frente a um dos seus ídolos - e futuro rival -, Pep Guardiola.
Perante tais condimentos, o zerozero decidiu conversar com dois chefs especializados no tema. Fred Caldeira e Arthur Quezada, jornalistas desportivos da TNT Sports e com uma grande presença no digital. O primeiro especializado em futebol inglês e o segundo com um olhar muito atento sobre o futebol português.
Rúben Amorim despedir-se-á de Alvalade frente ao Manchester City de Pep Guardiola. Com dois títulos de campeão nacional num bolso, e o respeito dos seus pares no outro, seguem-se os últimos momentos de leão ao peito. Perante o desgosto dos adeptos sportinguistas, o deleito dos red devils, que poderão ver o seu futuro treinador a dividir o campo de batalha com o seu maior rival.
«Estou mais preocupado que o Sporting ganhe o jogo do que em mostrar alguma coisa aos adeptos ou à imprensa inglesa», assim se exprimiu Rúben Amorim sobre o assunto. A verdade é que, agora mais do que nunca, os adeptos do Manchester United vão estar atentos a cada movimento do treinador português. Quem o confirma é Fred Caldeira.
«Eu sinto que a Inglaterra está a descobrir o Rúben Amorim neste momento», começou por dizer. «O nome dele começou a ser um pouco mais estudado em Inglaterra no fim da temporada passada, depois daquelas conversas controversas com West Ham e Liverpool. Com a confirmação da contratação eu vi uma profusão de artigos e reportagens a explicar como o Rúben gosta de jogar, o lado humano dele... há uma descoberta nos últimos dias dos media e, claro, dos adeptos do Manchester United», explicou.
As razões para esta «Amorim-mania» são facilmente identificáveis, como nos confirmou Arthur Quezada: «O Rúben chacoalhou o futebol português», disse sem hesitar. «É o resultado do trabalho que ele conseguiu implementar no Sporting. Quebrou uma hegemonia que durava há 20 anos entre FC Porto e SL Benfica».
Aos 39 anos, Rúben Amorim prepara-se para assumir o comando técnico de um dos maiores clubes do mundo. Guardiola tinha 38 anos quando começou a treinar a primeira equipa do Barcelona. O português desafiou a tendência competitiva que se ia registando a nível interno de uma forma disruptiva e muito própria. Feito semelhante - em maior escala, naturalmente - fez o catalão. Amorim já admitiu ser um admirador do condecorado treinador espanhol e um seguidor das suas filosofias: «Para mim é o melhor treinador do mundo», disse. As comparações entre o início de carreira de um e do outro são inevitáveis... mas possíveis?
Fred Caldeira não tem dúvidas: «É um treinador muito jovem e que já mexe com as estruturas do futebol nacional, tal como Pep», mas lembra o impacto do timoneiro dos cityzens. «A questão é que o Guardiola abalou as estruturas do futebol mundial, muito por conta de um jogador chamado Lionel Messi».
Mas terão os dois treinadores encontrado ambientes semelhantes nesse início de carreira? «O Rúben teve um início mais bélico. Teve de derrubar mais barreiras do que Guardiola», respondeu. «Ele é adepto de um rival, custou muito caro ao Sporting e chegou num mau momento do clube. O Guardiola era ídolo do Barcelona e chegou a uma equipa com estrelas e mais estável», atirou.
«São treinadores capazes de inspirar os outros», assim comparou Arthur Quezada. «Dá para ver algumas coisas de Guardiola no trabalho de Rúben Amorim, especialmente no processo de construção». O jornalista brasileiro lembra, contudo, que Rúben Amorim ainda não teve oportunidade de fazer a sua grande «masterclass». «Apesar de ter dominado na Alemanha e agora em Inglaterra, a grande equipa de Guardiola foi aquele Barcelona. Acho que o Rúben ainda vai fazer isso acontecer.»
«Um teste injusto», assim se pode caracterizar o desafio que Rúben Amorim enfrentará esta terça-feira. «Se vencermos, vão achar que está encontrado o novo Sir Alex Ferguson. Se perdermos as expectativas vão baixar», anteviu o ainda treinador dos verde e brancos.
«Pep Guardiola está com espada e o Rúben Amorim está com garfo e faca», foi assim que Fred Caldeira resumiu este encontro. «Eu não descarto que o Sporting faça um bom jogo e consiga, inclusive, vencer o Manchester City», começou por dizer. «Mas pela disparidade financeira entre City e Sporting, e por melhor que seja esta equipa do Sporting, eu acho que seria injusto julgar a capacidade que o Rúben terá de aproximar o Manchester United do Manchester City utilizando este jogo como amostra.»
Se dentro do campo parece ser consensual que o treinador português parte em clara desvantagem, a verdade é que fora dele a situação parece inverter-se. Quem o diz é Arthur Quezada: «Normalmente o grande protagonista dos jogos do Manchester City está no banco dos cityzens... o Guardiola», começou por dizer. «Neste jogo o personagem principal vai ser o Rúben Amorim. Não o catalão. Ele consegue ofuscar até mesmo o maior treinador do mundo.»
«Ele é um excelente treinador e evoluiu bastante». O autor desta frase? Josep Guardiola i Sala. Aquele jovem técnico que recebeu a 15 de fevereiro de 2022 a equipa do seu ídolo e o viu atropelar o seu Sporting (0-5), não é o mesmo que os vai receber esta terça-feira. Guardiola sabe-o. Amorim sabe-o. Toda a Europa o sabe.
Espetador assíduo deste Sporting demolidor versão 24/25, Arthur Quezada também o sabe: «[Sporting] Estão muito melhor preparados. A equipa é mais matura, e conta com jogadores que acrescentam muito». «É uma equipa diferente e o Rúben está mais experiente. Aprendeu a sua lição.»
Fred Caldeira partilha da opinião e acrescenta: «Não nos podemos esquecer que o segundo jogo aqui [em Manchester] foi um jogo duro, foi um empate a zero». «Apesar do conforto no resultado para o City, o Sporting fez um ótimo jogo. Nessa partida deu logo para perceber que o Rúben aprendeu rápido a lição», esclareceu.
Aprender com os erros e aproveitar a experiência ganha é uma boa maneira de fazer frente a este Manchester City. Outra boa maneira é: colocar Viktor Gyökeres em campo. O arranque de temporada do avançado sueco não passa indiferente a ninguém: 20 golos e quatro assistências em 16 jogos pelos leões. Estamos em novembro, caro leitor. Estes eram os números do ex-Coventry em janeiro/fevereiro da temporada passada.
Quem também não lhe fica muito atrás é Erling Haaland, o outro loiro nórdico que não consegue parar de marcar golos. Um duelo de vikings é o que se prevê para esta terça-feira, e onde Gyokeres tem mais a provar do que o norueguês. Palavras de Arthur Quezada.
«É de muito valor o que ele faz na Liga Portuguesa, mas o mundo só começa a dar valor quando ele brilhar contra esses gigantes na Champions. É uma montra muito grande para ele». O brasileiro relembrou ainda que Haaland já provou nos palcos europeus toda a sua qualidade e que agora é a «vez de Gyokeres».
«Os dois têm características muito peculiares. São goleadores de altíssimo nível. Os números são assustadores. A temporada do Gyokeres está a ser melhor que a do Haaland [consultar quadros]», completou.
O sueco é o autor de quase 50% dos golos da turma de Alvalade em 2024/25. Dos 48 golos marcados pela formação leonina, o goleador é responsável por 20 (ao que ainda se acrescentam as quatro assistências).
«É curioso que nenhum clube da Premier League o tenha pescado quando estava no Coventry», refletiu Fred Caldeira. «Uma máquina de fazer golos tardia» e que é acompanhada de perto por... Erling Haaland, confirmou o jornalista. «O Haaland acompanha-o e sabe o tamanho da ameaça que vai ter do outro lado.»
Nórdicos, loiros, altos, possantes, há mais semelhanças? Arthur Quezada descreve os dois «avançados mais prolíferos do momento». «Gyokeres é mais forte na explosão e na mudança de velocidade com bola controlada. Haaland é mais forte no ataque ao espaço, e em fazer golo com poucos toques na bola», começou por dizer.
«O Viktor sai da área e é um jogador mais participativo, mas também é um animal quando tem campo para correr. Erling é mais letal dentro da grande área. É mais alto e consegue fazer golo com qualquer parte do corpo. Faz lembrar Ibrahimović.»
O que esperar deste encontro, que se repetirá dia 15 de dezembro, no Etihad Stadium, mas com outras cores? Para Fred Caldeira esta partida irá projetar o «grande e injusto desafio» que espera Rúben Amorim. «Mesmo que a última década diga o contrário, o Manchester United é sempre obrigado a lutar pelo título, e lutar pelo título é lutar com o City.»
Se o futuro em Inglaterra parece ser bastante complicado para o técnico português, não menos vai ser na partida desta terça-feira. Contudo, Arthur Quezada mostra-se confiante: «Eu acho sinceramente que se existe um momento para o Sporting conseguir ganhar ao Manchester City é este.»
Depois de duas derrotas consecutivas - frente a Tottenham e Bournemouth -, e a contas com uma vaga de lesões que afeta alguns dos maiores nomes do seu plantel, esta é «a altura ideal para o Sporting tentar a sua sorte», disse o jornalista desportivo. E vai mais longe.
«Esta é a oportunidade para o técnico de 39 anos mostrar o seu cartão de visita à Premier League e dizer: 'Prazer, sou o Rúben Amorim e derrotei o Manchester City na Champions League'.»