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·03 de setembro de 2022
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Recém-chegado ao FK Delvina, da segunda divisão da Albânia, o ponta-esquerda Caio não vê a hora de estrear pelo time e mostrar seu futebol para tentar se projetar no cenário europeu. Lutador desde a adolescência, o atacante de 24 anos, natural de Porto Velho, em Rondônia, saiu de sua cidade para jogar futebol, feito para poucos de sua região, e foi logo para o cobiçado no velho continente. A trajetória do brasileiro nunca foi fácil e Caio treinou durante anos com a ajuda de sua esposa, dava a vida na várzea para se sustentar e ao chegar à Europa sofreu com preconceito, mas sempre enfrentou as adversidades com alegria.
Caio começou a jogar bola muito cedo, com apenas três anos de idade, por influência do pai e do irmão mais velho, os dois do mundo do futebol. O jovem jogador fez sua formação inteira no Genus, maior time de Porto Velho. Chegou aos 14 anos no clube, no elenco Sub-15, e era comum que os treinadores o colocassem para jogar em categorias mais altas que a dele.
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O atacante subiu ao profissional aos 21 anos, em 2019, e disputava apenas campeonatos regionais, o estadual e a 1ª divisão da cidade. Para auxiliar na sua sustentação, ele conseguia uma pequena renda disputando campeonatos de várzea. Além disso, fazia alguns “bicos” em diversas funções: já cortou grama em condomínio, cuidou de balsa de garimpo e até trabalhou como lavador de tapetes.
Entre um campeonato de várzea e outro, Caio tinha o sonho de jogar na Europa, atuar em grandes times e nos estádios de futebol mais consagrados tal qual Neymar, sua inspiração no futebol. E sempre se manteve firme nesse objetivo, mesmo ouvindo conselhos de que seria melhor desistir, que nunca iria sair de Rondônia para jogar futebol e que o máximo que jogaria na carreira seria o campeonato estadual.
Desde os 19 anos, Caio já mantinha uma rotina intensa de treinamentos que cumpria rigorosamente na convicção de que o dia da glória chegaria e com a contribuição fundamental de Rafaela, sua esposa. Acordava sempre às 5h30 da manhã e ia para o campo de terra perto de casa com ela, que o ajudava a treinar. Voltava para casa e descansava até sair para o treino no Genus andando por cinco quilômetros.
— Eu não sabia quando a oportunidade apareceria, então eu apenas tinha na cabeça que precisava estar preparado. Mesmo assim, manter essa rotina durante quatro anos era pesado, por isso, em momentos de fragilidade e desânimo, a Rafaela foi a minha pedra de sustentação. Falava para eu não parar, que uma hora daria certo. Hoje eu tenho certeza que sem ela eu não teria ido a lugar nenhum e ainda estaria em Porto Velho batendo peladas e jogando na várzea — afirmou Caio.
O ano de 2021 foi um divisor de águas para o atacante. Após postar um vídeo de lances seus no Instagram, Caio recebeu o contato de um empresário por direct, que ofereceu a oportunidade de ir ao Liria, do Kosovo. O rondoniense juntou dinheiro para a passagem e foi sozinho para Kosovo, em maio. Quando chegou, parecia que todas as dificuldades que passou tinham valido a pena.
— Quando eu pisei em Kosovo, nem eu acreditei que tinha saído da minha cidade pra jogar em outro canto, porque quase ninguém sai. Arrisquei tudo o que eu tinha para ir — lembrou o jogador.
Após passar uns dias treinando com a equipe profissional do Liria, Caio causou uma boa impressão logo de cara e assinou contrato de um ano com a equipe para a temporada de 2021/22. O curioso é que ele não havia sido informado que estava realizando apenas testes na equipe.
— Foi uma surpresa. Achei que já estava tudo certo. Pelo menos como não sabia que era teste, joguei tranquilo e despreocupado, por isso acho que consegui me soltar mais e graças a Deus gostaram de mim — disse Caio.
Pelo Liria, Caio disputou o campeonato nacional e a Copa de Kosovo e deu seis assistências. O jovem atacante era titular no início da temporada, mas acabou lesionando o tornozelo e ficou três meses fora, voltando apenas no final da temporada.
Ele também passou por algumas dificuldades como se adaptar ao jogo muito intenso e a barreira linguística com o treinador. Caio também sentia muita saudade da família que sempre o apoiou em seu sonho e fazia chamadas de vídeo muitas vezes por dia para encurtar a distância.
A maior dificuldade, no entanto, foi o preconceito que sofreu. Por ser brasileiro em um time composto majoritariamente de kosovares e gregos, alguns companheiros de time eram xenofóbicos com ele.
— Tinham uns que não aceitavam que eu fosse um cara que pudesse fazer a diferença no time e nutriam preconceito contra mim. Eu achava que era só vir aqui e jogar bola, mas não é. Você tem que lidar com os caras querendo te derrubar, você passa e sabe que eles estão falando mal de você, tinha dia que eu já ia para o treino estressado, foi muito difícil. Eles deram graças a Deus quando me machuquei — relatou Caio.
Em julho de 2022, Caio foi vendido para o FK Delvina, que disputa a segunda divisão do Campeonato Albanês, e está ansioso para continuar sua trajetória no velho continente.
— Quero começar logo a construir minha história no Delvina, sei que tenho muito a contribuir para a equipe e para que eu continue crescendo como jogador — finalizou Caio.