Em 1989, o Werder Bremen humilhou o Napoli de Diego Maradona e Careca na Copa Uefa | OneFootball

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·23. Oktober 2025

Em 1989, o Werder Bremen humilhou o Napoli de Diego Maradona e Careca na Copa Uefa

Artikelbild:Em 1989, o Werder Bremen humilhou o Napoli de Diego Maradona e Careca na Copa Uefa

É raro, mas acontece: até mesmo times icônicos podem passar por humilhações sem precedentes em anos vitoriosos. Aconteceu, por exemplo, com o Napoli no fim de 1989. Defendendo o título da Copa Uefa, a equipe liderada por Diego Armando Maradona e Careca não resistiu ao embate com o Werder Bremen, que fora campeão alemão em 1988 e vivia a sua era dourada, nas oitavas de final da competição. Totalmente dominado pelos alviverdes, o confronto encerrou as esperanças dos partenopei de repetirem a façanha continental – e com um agravante: no Weserstadion, os azzurri sofreram uma das goleadas mais pesadas de sua história em torneios organizados pela entidade máxima do futebol europeu. Um percalço que os napolitanos precisaram superar para recalcular rota e reagirem da melhor forma, alcançando o seu segundo scudetto mais tarde, naquela mesma temporada.

Desde 1984, com a chegada de Maradona, o Napoli ensaiava viver os momentos mais gloriosos desde sua fundação. A contratação do craque resultou na conquista da dobradinha italiana em 1987 e, em 1989, na obtenção de seu primeiro troféu expressivo em âmbito continental: a Copa Uefa, após eliminar o Bayern de Munique nas semifinais e o Stuttgart na decisão. Em seguida, o técnico Ottavio Bianchi decidiu tirar um ano sabático e Alberto Bigon tomou o seu lugar. Como os azzurri haviam ficado na segunda posição da Serie A e só o detentor do scudetto disputava a Copa dos Campeões, coube ao recém-chegado fazer o time tentar o bi da terceira competição interclubes europeia.


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Bigon, entretanto, viveu dificuldades inesperadas na Copa Uefa – ainda que, desde as primeiras rodadas da Serie A, o Napoli despontasse como forte candidato ao título, brigando nas cabeças e liderando o campeonato de maneira isolada por quase um turno inteiro. Na competição europeia, o time do sul da Itália empatou sem gols com o Sporting em ida e volta, só avançando nos pênaltis, além de sofrer para despachar o modesto Wettingen, da Suíça, por um placar agregado de 2 a 1. A equipe de Maradona, Careca e Alemão passava por um momento delicado principalmente porque seus três estrangeiros vinham manifestando problemas físicos.

Ao se deparar com seu importante trio longe da melhor forma, o Napoli tinha a segunda má notícia de sua campanha europeia: a outra era o ingrato sorteio das oitavas de final, que lhe reservara um Werder Bremen que estava tinindo. Naqueles tempos, os Werderaner eram treinados por Otto Rehhagel, que ficou no comando entre 1981 e 1995, sendo o artífice de um período dourado para o time alviverde. O técnico fez a equipe deixar o papel de coadjuvante para ser uma potência da Bundesliga.

O comandante reposicionou o Bremen no mapa do futebol alemão-ocidental, superando o rival Hamburgo como maior força do norte do país e inaugurando uma rivalidade feroz com o Bayern de Munique. O time de Rehhagel encantava com um jogo enérgico, vertical e agressivo, apoiado em uma defesa que sufocava os adversários e sofria poucos gols. Nos anos 1980, os alviverdes amargaram uma sequência de vices, até que faturaram a Bundesliga e a Supercopa da Alemanha Ocidental em 1988 – iniciando uma sequência de títulos que floresceria na década seguinte. O treinador soube valorizar atletas e potencializou nomes como Dieter Eilts, Marco Bode e Rune Bratseth, além de dois atacantes que brilhariam na Itália: Rudi Völler, vendido à Roma em 1987, e Karl-Heinz Riedle, seu substituto, que se destacaria na Lazio.

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Liderado por Maradona, o Napoli defendia o seu título na Copa Uefa contra um forte time do Werder Bremen (imago/Kicker/Liedel)

Em sua trajetória ascendente, o Werder Bremen estreou na Copa dos Campeões em 1988-89 e, nas quartas de final, quase surpreendeu o lendário Milan de Arrigo Sacchi, que mais tarde ficaria com a taça. Terceiro colocado na Bundesliga daquela temporada, o time de Rehhagel se classificou à Copa Uefa e, antes de enfrentar o Napoli, não teve dificuldades em seu caminho: eliminou o Lillestrøm, da Noruega, com 5 a 1 no agregado, e o Austria Vienna (5 a 2). Não chegava às oitavas como favorito, mas tinha totais condições de levar a melhor. E a já citada má forma física de Maradona, Careca e Alemão anunciava um árduo duelo.

A partida de ida, disputada no San Paolo em horário atípico – no início da tarde, já que o sistema de iluminação estava em reforma para a Copa do Mundo de 1990 –, reuniu um público de quase 43 mil pessoas, entre elas cerca de 1500 torcedores vindos de Bremen. O céu nublado parecia prenunciar a tarde cinzenta que viria para os mandantes. Desde o apito inicial, o Werder de Rehhagel lançou-se ao ataque com a intensidade característica do futebol alemão. O Napoli, ainda tentando se reorganizar defensivamente, tentava responder com a mesma energia, mas se apresentava em descompasso.

Aos 40 minutos, Alessandro Renica perdeu uma chance de ouro. O líbero do time napolitano recebeu uma enfiada açucarada de Maradona e ficou livre diante do goleiro Oliver Reck, mas chutou sobre o travessão. A velha máxima do “quem não faz, leva” se cumpriu com precisão cruel logo depois: após a sobra de um arremate bloqueado de Mirko Votava, Eilts acionou Frank Neubarth na profundidade e o camisa 10 finalizou cruzado, vencendo Giuliano Giuliani.

O Napoli voltou para a segunda etapa com Gianluca Corradini no lugar de Renica, que apresentou problemas físicos, e não teve nem tempo de se rearrumar. Depois de apenas alguns segundos, Eilts encontrou um cruzamento perfeito para Riedle, que saltou sozinho, entre Marco Baroni e Ciro Ferrara, e cabeceou com potência para as redes. Era cedo, mas os azzurri já se viam em situação muito complicada na eliminatória, ao passo que o Werder Bremen tinha ao menos duas razões para se sentir confortável.

Entretanto, o Napoli, guiado pelo orgulho, reagiu. Maradona, visivelmente limitado por dores nas costas, e os brasileiros Careca e Alemão, ambos ainda fora de forma após lesões, encontraram forças no instinto competitivo. Aos 52 minutos, o volante brasileiro atacou a profundidade num contragolpe e o craque argentino viu tudo: notou o avanço do colega e o buraco na zaga do Werder Bremen, achando um lançamento na medida para fuzilar Reck. e bateu cruzado para diminuir.

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Apesar de ter contribuído por uma assistência para Alemão, Dieguito foi limitado por problemas físicos na eliminatória (imago/Kicker/Liedel)

Aos 65 minutos, foi a vez de Careca aparecer. Luca Fusi cruzou para a área, Andrea Carnevale ajeitou de cabeça e o brasileiro completou, de sola, para fazer o gol do 2 a 2. O San Paolo explodiu com o empate improvável e o Napoli ganhou ainda mais forças para tentar virar a partida. Pouco depois, Maradona chegou a anotar um lindo tento encobrindo Reck, mas o lance já estava parado por impedimento do próprio argentino.

O Napoli passou a dominar o jogo e criou outras oportunidades para virar, com Maradona orquestrando ataques e tentando o próprio gol, mas a sorte não o acompanhou – e também deixou de andar ao lado de Alemão, que teve um estiramento na coxa, foi substituído por Massimo Mauro e acabou ficando fora da partida de volta. Após a alteração, Corradini achou Careca com um lançamento longo e o brasileiro não conseguiu concluir para as redes: pressionado por Uli Borowka, até ganhou na velocidade, só que finalizou à direita da baliza de Reck.

Na base do abafa, o Napoli teve uma chance cristalina perto do fim da partida, quando Reck saiu mal do gol, obstruído por Carnevale, e a bola ficou à feição da cabeçada de Baroni. O centroavante Riedle, no entanto, estava sobre a linha para salvar. Já na casa dos 90 minutos, então, quando os azzurri estavam lançados ao ataque, o Werder Bremen desferiu o golpe fatal.

Quando o empate parecia o resultado mais plausível, um balão de Fusi foi rebatido pela zaga alemã-ocidental e a pelota ficou pingando, sem que nenhum dos times retivesse a sua posse. Até que Wynton Rufer a dominou já tabelando com o ala Manfred Bockenfeld, que curtia uma de atacante, sendo o mais avançado do time alemão, na altura do centro do campo. O neozelandês tocou para receber na frente, em velocidade, e só bateu na saída de Giuliani, castigando os italianos. O sonho da defesa do título parecia se dissolver junto com as esperanças sob o céu encoberto de Fuorigrotta: devido à regra do gol qualificado, na volta, para avançar às quartas o Napoli teria que ganhar por pelo menos dois tentos de diferença ou por vantagens mínimas mirabolantes, a partir de 4 a 3.

Duas semanas depois, o time viajou para a Alemanha Ocidental carregando mais dúvidas que certezas, e desfalcado por Alemão – que foi substituído por Massimo Crippa. Na equipe da Campânia, Maradona e Carnevale chegaram a ser dúvidas para o duelo, enquanto no corner adversário, o zagueiro Bratseth também era dúvida. No fim, apenas o atacante italiano ficou de fora das escalações iniciais, indo para o banco e dando lugar ao recém-chegado Gianfranco Zola. No Weserstadion, eram grandes as expectativas da torcida local pela classificação com mais uma vitória sobre o então campeão da Copa Uefa.

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Apagado na volta, Maradona só observou o Napoli sucumbir aos muitos erros defensivos e à eficiência do Werder Bremen (imago/teutopress)

Quem esperava ver o Napoli pressionar em busca da virada encontrou um Werder Bremen dominante, agressivo, sufocando a saída de bola adversária e criando oportunidades com Rufer, Riedle e Bockenfeld: Rehhagel, desde o início, levou a melhor no duelo tático com Bigon. Maradona e seus companheiros, desorganizados e sem ritmo, não conseguiam reagir à intensidade germânica. O argentino teria noite apagadíssima, os defensores colecionariam uma quantidade descomunal de erros e o vexame foi justo.

O castigo do Napoli no Weserstadion começou pouco após a metade da etapa inicial. Aos 25 minutos, após um chutão de Reck, Giovanni Francini cabeceou para trás e deixou na medida para Riedle, que não se fez de rogado e aproveitou a trapalhada do defensor napolitano para inaugurar o marcador daquela noite.

O Napoli passou o resto da primeira etapa grogue e em afã, quase jogando a toalha para evitar o nocaute técnico do Werder Bremen. Os azzurri foram salvos pela falta de pontaria dos alviverdes e, temporariamente, pelo gongo – afinal, no segundo tempo, a surra só se intensificaria. Bigon voltou com Carnevale no lugar do zagueiro Baroni, em busca da improvável reação, mas a sua medida só desequilibrou o time italiano.

Após alguns minutos de uma tentativa ineficaz de pressão por parte do Napoli, aos 55, o Bremen fez o segundo. Rufer, sempre insinuante e insistente, não desistiu de um passe de Bockenfeld que sairia pela linha lateral e batalhou com Francini. O neozelandês ganhou no corpo e na velocidade, fugiu do carrinho de Fusi antes de finalizar e, por pouco, venceu Giuliani. Depois do segundo gol, Bigon optou por sacar Zola e colocar Renica, corrigindo o posicionamento tático e jogando a toalha ao mesmo tempo.

Não adiantou muita coisa. Sete minutos depois, na casa dos 62, Riedle apareceu novamente, desta vez aproveitando um erro crasso de Corradini, que trocava passes com Renica no campo de defesa e lhe entregou a bola no pé. O atacante roubou a pelota, correu em direção a Giuliani e marcar o terceiro gol com uma cavadinha. Em seguida, Neubarth carimbou o travessão com uma cabeçada.

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Impotência: essa foi a sensação dos azzurri diante de uma das maiores goleadas sofridas pelo time em competições europeias (imago)

O Napoli, atordoado, ainda descontou na casa dos 70 minutos, quando Careca recebeu um lançamento e tentou um toque sutil por cobertura sobre o goleiro Reck: auxiliado pelo desvio em Bratseth, colocou a bola na rede. Porém, o placar global já pendia de forma irreversível para o time alemão-ocidental, que transformaria a vitória em goleada – e a derrota azzurra em humilhação – na reta final da partida.

Riedle e Rufer tiveram clemência com os azzurri, depois de terem-nos castigado tanto. O alemão perdeu uma chance com o gol escancarado, após boa jogada de Bratseth; o neozelandês, mais tarde, não aproveitou a enésima trapalhada da zaga italiana e finalizou para fora. Aos 88, porém, Gunnar Sauer não perdoou o corte parcial mal executado por Corradini e encobriu Giuliani de forma impiedosa. Já aos 90, foi a vez de Eilts repetir a história escrita no San Paolo e fechar a conta ao concluir um contragolpe – com outro erro, dessa vez do arqueiro partenopeo, que se deixou surpreender por um arremate que não era irresistível.

A torcida do Werder Bremen, em êxtase, aplaudia um massacre que ecoaria por décadas na memória do clube – foi uma das mais significativas vitórias construídas pelos alviverdes em competições europeias, considerando tanto o 5 a 1 em casa quanto o 8 a 3 no placar agregado. A humilhação foi completa: o campeão da Copa Uefa, dono de uma das duplas mais temidas do continente, sucumbia diante de um adversário metódico, disciplinado e extremamente eficaz, que unia força e intensidade em padrões pouco comuns para a época.

Nas quartas do torneio continental, o time de Rehhagel passou pelo RFC Liège, da Bélgica. Cairia apenas diante da Fiorentina, após dois empates, derrota pelo gol qualificado e muita polêmica nas semifinais. Em decisão italiana, a Juventus levaria a melhor sobre a Viola. Os Werderaner, por sua vez, celebrariam títulos em sequência entre 1991 e 1993 – respectivamente, Copa da Alemanha, Recopa Uefa e Bundesliga.

E o Napoli? Bem, o resultado humilhante tinha condições de produzir um efeito devastador na capital da Campânia, considerando que os azzurri jamais haviam sofrido um 5 a 1 em torneios da Uefa, só que não foi o que ocorreu. As imagens de Maradona, abatido e impotente, figuraram no noticiário esportivo do país apenas na semana do jogo e uma crise temporária logo foi debelada graças a uma sequência de vitórias e empates. A disputa da Serie A se intensificou e os partenopei até chegaram a perder a liderança para o Milan em algumas rodadas, mas se recuperaram. O talento do Pibe d’Oro e de Careca falou mais alto e, ao fim de abril de 1990, a torcida napolitana tirou o grito de bicampeão da garganta.

Napoli 2-3 Werder Bremen

Napoli: Giuliani; Renica (Mauro); Ferrara, Baroni, Francini; Alemão (Corradini), Fusi, De Napoli; Maradona; Carnevale, Careca. Técnico: Alberto Bigon. Werder Bremen: Reck; Otten, Bratseth, Borowka; Bockenfeld, Eilts, Votava, Hermann; Neubarth (Wolter); Rufer, Riedle. Técnico: Otto Rehhagel. Gols: Alemão (52′) e Careca (60′); Neubarth (42′), Riedle (46′) e Rufer (90′) Árbitro: Bo Karlsson (Suécia) Local e data: estádio San Paolo, Nápoles (Itália), em 22 de novembro de 1989

Werder Bremen 5-1 Napoli

Werder Bremen: Reck; Otten, Bratseth (Sauer), Borowka; Bockenfeld (Wolter), Eilts, Votava, Hermann; Neubarth; Rufer, Riedle. Técnico: Otto Rehhagel. Napoli: Giuliani; Corradini; Ferrara, Baroni (Carnevale), Francini; Crippa, Fusi, De Napoli; Maradona; Zola (Renica), Careca. Técnico: Alberto Bigon. Gols: Riedle (25′ e 62′), Rufer (55′), Sauer (88′) e Eilts (90′); Careca (70′) Árbitro: Emilio Soriano Alardén (Espanha) Local e data: Weserstadion, Bremen (Alemanha Ocidental), em 6 de dezembro de 1989

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